terça-feira, 23 de novembro de 2010

Intervalo




Em televisão, existe para cumprir compromissos publicitários e assim pagar os ordenados a toda a gente. É sabido que são os programas que servem os anúncios e não vice-versa (se alguém não sabia, surpresa!). Mas não é só isso. Os intervalos são úteis também para respirar fundo, desanuviar, esticar as pernas, rodar o pescoço e até pensar naquilo que se viu.

Parar.




É assim connosco. Não falo de inércia. Parar não é "ficar parado", aquilo de que falava o Sérgio Godinho quando dizia que preferia o poço da morte a tal sorte. É que por vezes a sensação é a de que fazemos tanta coisa que o cérebro se torna inactivo. Ou, nova tentativa, agora é que me vou fazer entender, a cabeça perde-se em ideias, em textos, em papéis, em horários, em amigos, em amores e esquece-se de nós. Da vida. Daí a necessidade de intervalo. É preciso parar para pensar. Deixar cair a névoa de tralha que nos tolda e descobrir o real. Como diz o povo, que sempre soube explicar-se melhor que os poetas, olhar com olhos de ver.
Deparei-me com um intervalo no meu trabalho. Mais uma vez, dois meses e tal sem rotina, sem obrigações e tanta coisa para fazer.
Coincidentemente, um intervalo amoroso. Nem estou apaixonada nem ninguém anda a tentar que eu fique; não quero recuperar paixões antigas ou reutilizá-las (ecológico, mas tão pouco saudável); não me perco em domingos deprimidos nem em noites devassas.
Tem sido um intervalo aqui no Ovo, eu sei. É que só sei escrever sobre o que sinto e o que sinto tem sido profundo demais para um espaço tão público.
É um intervalo de mim também. Estou quase a matar a depressão em que me vi presa. O horizonte que vejo agora não é escuro nem claro: é o verdadeiro, é aquele que lá está. E é cada dia mais nítido.

O melhor do intervalo é que depois vem a segunda parte. E essa é aquela dos momentos mais emocionantes, das aventuras mais perigosas, do "agora é que é" e, claro, do final feliz. É aqui que me afasto da televisão. É que não é para aí que caminha a minha segunda parte. O meu "the end" é antes um começo feliz. E depois? Depois, cá estarei para contar a história.