terça-feira, 26 de maio de 2009

"What an excellent day for an exorcism!"

Ao Penim, que conheceu dois exorcistas na semana passada.

Lembram-se de um dos últimos posts da Clara, o “Cumplicidade”? Pois bem, vamos continuar a recordar o maravilhoso tempo em que as Elas e os Elos se tornaram amigos inseparáveis e prometeram ficar juntos para sempre, na alegria e na tristeza. Desta vez (e porque prometi ao Penim), vou contar-vos uma linda estória que junta um jantar com muito vinho na Feira Popular, uma Casa Assombrada e a miúda do Exorcista.

Foi um dos primeiros jantares de turma no primeiro ano da faculdade e não sei como é que os nossos fígados tão tenrinhos conseguiram absorver tantos litros de álcool. Todos nos fartamos de rir quando vemos a fotografia do Zebas em cima da cadeira com uma febra espetada no garfo e a outra em que ele e o Marcos Melo sorriem com cara de parvos e os dentes “podres”.
Saímos do restaurante, de certeza a dizer parvoíces e a rir muito alto, e à nossa frente apareceu, envolta em luz, a “Casa Assombrada”. Agora imaginem que são um grupo de miúdos de 18 anos, bêbedos, e têm a Casa Assombrada ali à mão de semear. O que é que fariam? Pois claro, iam a correr comprar os bilhetes. Ainda não tínhamos dado dois passos e já ninguém parava de gritar. Não me lembro bem do que havia lá dentro, mas sei que, depois de passarmos um corredor escuro, entrámos num quarto onde havia uma cama toda almofadada com a miúda do Exorcista deitada. Eu podia jurar que a cama levitava como no filme, ela tinha a cara verde e completamente destruída, os olhos florescentes, possuídos pelo demo, uma camisa de noite branca e era muito muito má. Mal entrámos já só queríamos sair e se possível passando bem longe da criatura. Atravessámos o quarto a correr, a miúda a gritar connosco, nós a gritar para os da frente correrem mais rápido, os outros “monstros” a gritarem lá fora… No meio do pânico a Vera caiu aos pés da cama. A miúda do Exorcista levantou-se, caminhou até ela, a Vera olhava para a miúda e não parava de gritar, a miúda chegou ao pé dela e… não, não lhe vomitou uma massa verde para cima, não fez o truque do pescoço e nem sequer a empurrou com violência contra a parede. Perguntou-lhe se estava tudo bem, se precisava de ajuda. Óbvio! Mas a Vera assim que viu a cara dela tão perto gritou ainda mais alto, pôs-se de pé e desatou a correr.
Chegámos ao fim do percurso todos arranhados e com as mãos esfoladas, com o peito ofegante e… completamente sóbrios.

Porque é que eu ainda me lembro desta estória hoje, quando nem sequer consigo reconhecer a pessoas que veio ter comigo na Feira do Livro e me cumprimentou calorosamente? E que, vim a descobrir depois, trabalhou comigo há menos de um ano? Não sei, acho que tenho uma memória cheia de personalidade.

A propósito, na sexta-feira passada vi o Exorcista. Pela primeira vez.

Assim se faz bom jornalismo em Portugal

(Os acontecimentos aqui relatados são ficcionais. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.)


Rita: martinha, tu nao me arranjas por aí o contacto do jorge silva melo?
Marta: talvez. É pra quê? Pra saber do filho deficiente que ele tem escondido no sotão?
Rita: para confirmar umas suspeita de assédio sexual nos anos 90, que o levaram a passar uns dias numa prisão no sudeste da argentina e onde ficou com a horrivel cicatriz escondida no coxis, mesmo mesmo por cima do reguinho do cu
Marta: ah, se é por causa disso, pode ser
Rita: acho que o jornal de letras nao tem qualquer impedimento moral de me dar o numero para confirmar esta tese
Marta: claro que não, temos de ser uns pros outros
Rita: ok, entao ve la isso, que eu dps digo-lhe k venho da tua parte
Marta: queres o número da mãe dele tb? está internada no miguel bombarda com alzheimer, era porteira, mas está convencida que era agente da cia, não deixa nenhum enfermeiro de leste chegar-se ao pé dela


Rita e Marta (aka Gema e Clara) expressam o seu profundo agradecimento ao chat do gmail, que lhes permite fazer a boa pesquisa de que necessitam para o exercício das suas actividades.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

E se a literatura salvar jornais?

Quero contar-lhe uma história. Dou-lhe dois inícios à escolha.

1. Ontem, um prédio na Avenida da Liberdade incendiou-se às 15 e 45, devido a uma fuga de gás.

2. Dar cinco passos, parar, tocar e deixar as cartas. Parecia um dia igual a tantos outros. José Santos, carteiro há mais de 20 anos na Avenida da Liberdade, deu os cinco passos de uma porta à outra, parou, mas não tocou. Cheiro de fumo.

Se escolheu a segunda hipótese, sente-se e beba um copo. Apresento-lhe o Jornalismo Literário.


Par ou Ímpar do JL nº1008, ler mais aqui.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Cumplicidade

O silêncio durava desde que tínhamos passado a ponte. Era cortado apenas pelo barulho do carro, a música e os meus sussurros cantados acompanhando algumas notas. Aquele percurso, desde a avenida do Cristo Rei, onde jantámos com a Vera, foi embalo para uma outra viagem, por dentro, andando para trás nos anos. A inspiração veio das fotografias que vimos, imagens que trazem com elas tantas histórias.

Aquele primeiro ano de faculdade, tão magras, mas tão mais feias. As peles brancas do Inverno, ainda pintalgadas com réstias de acne adolescente. As roupas lembrando tenebrosamente os anos 90. Aquele Avante em que a Gema decidiu esticar o cabelo. Aquele Carnaval em que eu descobri o blush.

Passámos pelos clássicos, como 'A foto', em que eu, a Vera, um pedacinho da Mafas e outro da Lilas estamos perdidas por entre luz estoirada e gelado de nata (ou seria baunilha?). Ou ainda o vídeo em Leiria, em que fizemos uma "reportagem" sobre 'o morto', um homem deitado no meio da rua em pleno dia de sol (nem uma pestana do 'morto' tremelicou com a nossa gritaria).

Lembram-se das férias no Pedrogão? Lembram-se dos inúmeros jantares na mesa da Gema, onde cabia sempre mais um? E as garrafas. As incontáveis garrafas que se viam em cima das mesas ou nas nossas mãos. Não nos lembrávamos de como bebíamos quando bebíamos! E ainda conseguíamos estudar, fazer trabalhos de que ainda hoje nos orgulhamos, escrever para o 8ª Colina, filmar para o E2, dançar no gabinete do Pedro Azevedo em dias de electricidade estática (ou chorar, com a porta fechada, quando foi preciso), cantar em toda a parte, conversar e rir, rir, rir.

Tantas fotografias tiradas na faculdade, a fazer as coisas mais estranhas. Algumas não poderão nunca ser reveladas, nem sequer aqui descritas. "Como é que as pessoas haviam de gostar de nós?" - foi o comentário que mais vezes fizemos esta noite. A verdade é que conseguíamos ser incómodas, de tão gozonas. Mas nós adorávamo-nos e isso era tudo o que importava. Isso e o carinho de quem nos era querido.

Essas imagens juntaram-se, como frames, e surgiram feitas filme nas nossas cabeças, na viagem entre margens. Só quando estávamos quase a chegar ao primeiro destino, ali na curva das Amoreiras em direcção ao Rato, o silêncio foi quebrado. Com o olhar ainda fixo num ponto qualquer da rua, a Gema, como se suspirasse:

- Estou nostálgica.
- Eu também, respondi. Vivemos anos tão felizes. Quando é que as coisas ficaram tão difíceis?
- Nós antes também achávamos as coisas complicadas.
- Talvez, mas era diferente. Não ter namorado, por exemplo. Não nos preocupava muito. Não tínhamos pessoas à volta a casar, a ter filhos, não pensávamos na idade a avançar...
- Sim, isso é verdade. Mas acho que faríamos as mesmas coisas.

Respondi que não, que a maturidade não nos permitiria fazer certas coisas. Agora que penso melhor nisso, sei que, no essencial, faríamos precisamente o mesmo hoje, se estivéssemos todos juntos em volta de uma mesa. Viu-se no jantar na avenida do Cristo Rei (na casa que a Vera agora já tem com o Rui). Nem sequer acabámos a garrafa de vinho, mas as gargalhadas, o gozo, o brilho no olhar - iguais. Com uma grande diferença. Depois de quase 7 anos (sim, já 7!), maior, muito maior, é a cumplicidade.

Já não saberia viver sem isso.


Para as Elas e os Elos, meus cúmplices.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Portugal Meu Amor

Programa polémico e cheio de coisinhas politicamente incorrectas (esperemos) do nosso amigo virtual, Hugo Gonçalves. A ver hoje, em grande estreia, e daqui para a frente. Na SIC Radical, às 23.10. Repete sábado, às 17.30, e domingo, às 22.40.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Ele nem nos conhece, mas a descrição fica-nos tão bem

"O ovo, qualquer ovo, era para Mylia um material perturbante. O que mais rapidamente muda, o que é composto de maior desassossego, o que existe já para ser outra coisa. Havia em qualquer ovo uma espécie de altruísmo material, concreto, que ela não via em mais nenhuma coisa do mundo. Aparecer porque se quer desaparecer. Aparecer porque se quer fazer aparecer outra coisa."

Jerusalém
Gonçalo M. Tavares

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Mas como?

Como é que nunca nos lembrámos de pôr este vídeo no blog?

A vida obscura que o ovo teve no passado - há que ver com os olhinhos bem abertos!

E a música também faz abanar a cabeça. Sai para a rua, grita alto...

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Amiga-irmã


Não se incomoda que, depois de dias de separação, seja recebida por uma cara zangada e gritos magoados.
Não só ouve a nossa voz exaltada, como se exalta ao nosso lado.
Não diz "tu é que foste estúpida" porque não confunde sinceridade com crueldade.
Finge que não percebe as repetidas tentativas de conter as lágrimas.

Fica aqui por escrito o beijo e o abraço que devia ter-te dado assim que te vi.

terça-feira, 5 de maio de 2009

The 60's in the 00's

The Family Jams - Trailer from kevin barker on Vimeo.



Este é o trailer do documentário The Family Jams, de Kevin Barker. O realizador acompanhou a tour dos músicos de San Francisco Devendra Banhart, Joanna Newsom e Vetiver (Barker também dá uma perninha nesta banda de vez em quando), onde há convidados como Antony Hegarty.

O vídeo veio daqui e a informação está lá toda.

A pergunta é: porque é que eu não tenho uma vida destas?

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Marta, és uma mulher

Não foi há muito tempo que me apercebi de que tinha crescido. Maturidade. Que não se mede por já termos o período, por perdermos a virgindade, por tomarmos a pílula, por nos deitarmos com meia dúzia de pessoas, por já não vivermos com os nossos pais, por estarmos noivas, grávidas ou usarmos creme anti-rugas. Para isso é preciso apenas dinheiro, sorte ou um grande azar.
Quando percebi que já não era realmente uma criança foi há pouco tempo. Tinha acabado de almoçar e quis comer uma fruta. Pedi à minha irmã, que estava mais perto da fruteira, que me mostrasse as minhas escolhas. Decidi-me por uma pêra. Ela perguntou: "qual queres?", ao que eu respondi:

- É melhor ser essa mais madura, para não se estragar.

PIMBA!, atingiu-me como uma frigideira espetada pelo Jerry no focinho do Tom. Antes, tirava sempre a fruta mais apetecível, os meus pais que comessem a velha, já tocada aqui e ali. Eu cá queria as minhas pêras fresquinhas e o resto que se lixasse. Mas agora não. Agora como a fruta mais madura, para não se estragar, porque tem de ser. Estão ali uns morangos fabulosos, mas, caramba, não vou deixar a maçã apodrecer. Foi nesse exacto momento que disse para mim própria: Marta, estás uma mulher.

domingo, 3 de maio de 2009

Triste, triste


não é ficar trancada em casa num sábado de sol e Feira do Livro.
não é estar em casa por ter trabalho para fazer.
não é estar trancada em casa, a trabalhar, num sábado à noite.

Triste, triste, é a ÚNICA pessoa online neste momento ser o meu primo John, que mora em New York, onde ainda nem é hora de jantar.

Onde estão todos?! Olá...! Anyone...?