quinta-feira, 30 de abril de 2009

domingo, 26 de abril de 2009

O Homem-Nuvem


Ela: Olá.
Ele: Olá.
Ela: Tens cara de nuvem.
Ele: Nuvem?
Ela: Sim. Pareces muito fofo e confortável. Mas não dá para te agarrar e prender na mão fechada. Ou no coração. Ou aqui ao lado, neste sofá.
Ele: Para que queres tu prender-me?
Ela: Para poder olhar para ti sempre que quiser.
Ele: Mas podes olhar para mim sem me prender.
Ela: Não, não.
Ele: Porquê? Estou aqui, mesmo ao teu lado.
Ela: Mas daqui a pouco já não estás. Tu nunca ficas. Passas, como uma nuvem.
Ele: Nuvem?
Ela: Sim. Não faças essa cara de nuvem que chora. Tens mesmo de passar, faz parte do que és. Se ficasses, o céu, o mundo, tudo perdia o seu rumo. Era o caos. E tu não queres o caos.
Ele: Não, prefiro que tudo fique como está.
Ela: Pois é. E eu não quero alterar a ordem das coisas. A sério que não quero.
Ele: Às vezes, acho que preferia que quisesses. Mas não hoje. Posso ir embora sem me despedir?
Ela: É assim que fazes sempre. Desvio o olhar e, quando quero encontrar-te de novo, já lá não estás. É assim...como uma nuvem. Não é?

[silêncio e um lugar vazio]

Ela: É.

Avôzinho, diz-me tu

Ontem, numa mesa cheia de comida e de gente, o Avô António, de camisa, pullover sem mangas e gravata (anda sempre bem vestido), estava sentado ao meu lado. De pé, do outro lado, estava a sua sexta filha, Paula. (Eu, curiosamente, sou a sexta neta.)

Tia Paula: Ó pai, não tem frio?

Avô: Não... [passa o braço por cima dos meus ombros] Estou sentado ao lado de uma brasa!


Ao meu ego, chega-lhe para uns 15 dias.

sábado, 25 de abril de 2009

25 de Abril é hoje





Isto não seria possível.
Isto: um blog. Isto: uma caixa de comentários públicos. Isto: esta música ouvida na praça pública. Isto: uma mulher falar do seu corpo. Isto: o meu post chamado Transparente. Isto: escrever num jornal sem ninguém me guiar a mão. Isto: falar alto na rua. Isto: escrever o que escreverei a seguir.

O país está mal, muito está mal. Mas ao menos podemos dizê-lo e estar aqui amanhã para o dizer de novo. As vezes que forem precisas até as coisas mudarem. Tirem-nos tudo: emprego, estabilidade, ordenado justo, reconhecimento de mérito, mas nunca mais nos vão tirar a liberdade de falar, de escrever, de cantar, de gritar. Nunca mais.

Hoje, digam o que pensam, escrevam o que pensam, cantem o que pensam. É a melhor forma de homenagear quem lutou para que as coisas mudassem.
Que a lembrança de cravos nos dê força para mudarmos o rumo das coisas. Hoje.
Peguemos nas armas que temos: as palavras. Hoje.
E, se for preciso, vamos mesmo para a rua gritar. Hoje.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Olho por olho...


Pedi ao Jacinto Lucas Pires que escrevesse o meu elogio fúnebre e ele pôs o Ovo na sua lista de links.

Na blogosfera é assim, somos uns para os outros.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Eu

A minha querida prima ofereceu-me esta pérola, que no dia de Páscoa cantámos à mesa da avó. Muitas vezes não sei quem sou, mas sei quem fui. Fui fã dos Onda Choc. E se não fossem eles, hoje não daria uma nota afinada, não seria romântica e, mais importante que tudo, não teria memórias tão tão boas partilhadas com pessoas tão tão importantes.

Obrigada.


quarta-feira, 22 de abril de 2009

Eu?

Agressiva. Analítica. Arrogante. Bonita. Céptica. Confiante. Desajeitada. Descontraída. Divertida. Engraçada. Entediante. Esperta. Estúpida. Extrovertida. Feia. Forte. Fraca. Fria. Ingénua. Insegura. Inteligente. Louca. Madura. Nervosa. Pura. Puta. Racional. Retraída. Romântica. Sensata. Sensível. Sexy. Tímida. Virginal.

Há dias em que não faço ideia quem sou. E são mais que os outros.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Carta aberta a Youssef

Autumn Self-Portrait
Paris 2004


Youssef Nabil tira fotografias com uma máquina que não tem megapixeis nem zoom digital nem crops, brightness e contrast. A máquina é daquelas que não deixa ver as fotografias, que têm de ser tiradas com muita atenção, porque os rolos são caros. Saem a preto e branco. Depois, Youssef pinta-as, com um realismo que parece mais real do que o que é realmente. Notam-se as pinceladas e as imperfeições (serão?) se se olhar de perto. As mulheres não têm rugas. Ele recusa-se a pintar esses vincos que se ganham por se estar há muito tempo com a cabeça encostada ao mundo dos vivos.


Caro Youssef:

Descobri-te há pouco tempo (ontem só), a ti e às tuas fotografias pintadas. Suspeito que tu é que me descobriste já há muito. A mim e a todos os outros, aqueles que moram ao nosso lado. Mas não se deve falar pelas bocas alheias, por isso direi apenas 'eu'.
Parece-me que tenho andado por aí (não lhe chamarei mundo, que não é verdade. vida, talvez.) a fazer o mesmo que tu. Não penses que te copio o estilo. Não sei arrancar arte de máquinas fotográficas e muito menos pintar. Mas também tiro fotografias a preto e branco das pessoas que vou conhecendo. Tiro-as para dentro de mim, entendes? Só na minha cabeça. Aí estão as pessoas, todas elas só preto, branco e um ou outro cinzento. Então pinto-as. Já agora, para que saibas melhor quem sou, gosto de todas as cores menos laranja. Estava a pintar pessoas. Pois, na minha cabeça, lá lhes vou dando pinceladas coloridas, umas saem mais escuras, outonais (como tu, naquele auto-retrato), outras muito vivas, garridas, de vermelhos e verdes. Outras ainda podem ser cor-de-rosa pastilha elástica ou amarelo marshmellow. Os bebés, por exemplo.
"Pintas na tua cabeça? Arte contemporânea conceptual, é?", pensas tu. Não, nada disso. Entende: pinto as pessoas com os meus pincéis e as minhas tintas, dou-lhes as cores que quero. Percebes agora? Isto tem um senão: é que a pintura (e mesmo a fotografia) nunca soube captar a verdade. Tal como os nossos olhos. Por isso, às vezes penso que esta ou aquela pessoa é cor-de-rosa e depois venho a descobrir que afinal é cinzenta ou castanha-escura. Ou o contrário. Faço heróis de vilões e bruxas de princesas. Estás a ver, não é? Tenho grandes desilusões e grandes boas surpresas.
Não devia fazer assim. Sei que não devia imaginar que as pessoas são aquilo que não são. Mas também não acredito que consiga parar de as pintar como a minha imaginação manda. Como se trava a arte?

Um beijo,

.

terça-feira, 14 de abril de 2009

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Quando Candy era eu



Lembro-me do tempo em que não gostava do meu corpo. Olhar-me no espelho provocava-me um franzir de sobrancelhas e o desvio do olhar. Excepto quando não me provocava absolutamente nada. Não queria ver-me. Preferia esquecer cada curva, cada osso saliente, cada sinal, cada sarda, cada caracol. Sempre que pensava em mim, lembrava-me apenas dos defeitos. Primeiro magra, tão magra; como eu detestava que me chamassem palito ou trinca-espinhas, como me enervava enquanto tentava explicar que isso era tão ofensivo como chamar alguém de gorda. Uns kilos mais tarde, as ancas largas, o peito pequeno, o cabelo indomável, os dentes espaçados, a pele imperfeita.

Pensar em mostrar o meu corpo nu aterrorizava-me.

Com o passar do tempo, percebi: eu não detestava o meu corpo. Simplesmente não o conhecia. Como quando se faz juízos de valor precipitados.

Hoje, conheço-o bem. Sei-me de cor. Consigo indicar com exactidão onde está cada defeito - combato os combatíveis; os outros, deixo-os estar, encontrei lugar para eles. Agora sei também onde estão as qualidades. Olho-me tranquilamente, pisco-me o olho de cumplicidade. E, não contem a ninguém, mas já mais do que uma vez apanhei o reflexo a sorrir-me do lado de lá do espelho.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Novos Fados LX

Ontem à noite foi assim:



Dando umas pinceladas escritas (muito subjectivas) do que se passou ontem no Festival Novos Fados LX:

Oioai foram um pouco bocejantes. A mim só me acordaram com Pertencer, a linda canção que gravaram com os Xutos para o UPA.

João e a Sombra deram um concerto marítimo, de luz fraca e música de embalar. Como um suave barco em noite de luar. Lindas letras saem das mãos do sr Tempera.

Feromona agradaram aos fãs (que, curiosamente, tinham todos caracois. deve ser uma coisa deles). Letras engraçadas (ao contrário das piadinhas cuspidas para o micro), mas vozes pouco agradáveis ao ouvido.

Samuel Úria esteve em grande no show tipo "eu e a minha guitarra, amantes solitários", com as suas bonitas músicas, piadas bem metidas (uma ou outra boca um bocadinho ao lado, mas pronto) e look à Lenine. O brasileiro, não o outro.

Deixando o melhor para o fim, doismileoito deram, de facto, o concerto da noite. Uma maturidade musical (não igual a experiência) que os distingue das outras bandas. Além do tão orelhudo single, descobri outras canções, frescas, com aquele bom cheiro a novo e diferente, pelo menos no que toca ao nosso panoraminha nacional.

A fechar, um excelente djset (pelo menos até onde ouvi) do Pedro Moreira Dias, da Radar, já com muito pouca gente na sala. E foi pena, que cumprir com aquela qualidade a exigência de passar música portuguesa (e, de preferência, em português) nova e dançável não era tarefa nada fácil. Missão (bem) cumprida.

Quem for hoje e amanhã, que apareça para contar como foi. A música portuguesa fervilha! Viva a crise!


PS.: Hão-de passar por aqui souvenirs de Madrid, seja em vídeo, fotografia ou palavras. Ainda não está decidido. Não percas o próximo episódio, porque nós também não!

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Hasta luego!


O vosso Huevo vai de malas aviadas para Madrid, de mãos dadas com a Ela Adormecida e a Catá, e volta segunda feira.

Benditos, these dancing days!

Até já!

quarta-feira, 1 de abril de 2009

A fama

E já há quem, no mundo dos blogs, se dedique a escrever sobre mim (ou aquilo que pensam que sou eu).

Aqui.

Obrigada por te teres lembrado de mim, querido Snake.

Grande novidade!

Pessoal, tenho uma boa nova para vocês! Estou grávida!! Pois é, vou ser mamã de três meninos, cada um de um pai diferente. E quem são os pais? Os três sobrinhos do Pato Donald! Vou chamar-lhes Zezinho Jr, Luisinho Jr e Huguinho Jr. Estou tão contente.

Pronto, mentirinha de 1 de Abril. Ah Ah Ah! Acreditaram, não foi? E agora estão a pensar "ai que gira que ela é, tão engraçada, pá, mesmo gira". Queridos fools de Abril.

Sinceramente, nunca percebi muito bem a piada do Dia das Mentiras. Afinal, mentir (uns aos outros e/ou a nós próprios) não é o que fazemos o ano inteiro? Hoje é apenas um dia em que o podemos fazer, sermos descobertos e ninguém nos levar a mal. Querem animar a malta a 1 de Abril? Agitar as massas? Façamos um Dia da Verdade. Um dia em que toda a gente diga verdades e apenas e só verdades. Imaginam a catástrofe? As famílias desmanchadas? Os namoros arruinados? Os amigos zangados? Ou talvez, depois do primeiro choque, andássemos todos mais leves e, finalmente, mais felizes. Pequenas nuvens brancas em vez dos blocos de cimento escuro que somos.

Nisto acredito piamente: bastaria um dia, 24 horas de verdade absoluta para o mundo se transfigurar, sair do seu eixo, mudar de velocidade, ficar virado de pernas para o ar e nós todos nus, sem termos onde esconder as mãos, os olhos e os pensamentos. Transparentes, de tão nus.