sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Sabia que...

...a comunidade portuguesa de Toronto tem um programa de rádio chamado Chin Radio?

Alguém o viu?

Avenue of poplars in Autumn, Vincent Van Gogh


Encolho-me dentro da roupa. Sinto-me febril, mas sei que não tenho febre. Às vezes tremo. Não sei se de frio, se de medo do inesperado, do demasiado rápido.
A luz cinzenta, a chuva, o vento, mas principalmente o frio - chegou o Inverno. Tão depressa...
Gosto das coisas no seu lugar. Gosto de rotinas, gosto de saber o que me espera no dia seguinte.
Mas já nada é como devia ser. Tenho de fechar os olhos para vê-lo: sob um sol ainda morno, as árvores mostram, no seu lento despir, como a natureza consegue ser sensual. E são como mulheres: é quando estão nuas que são mais bonitas. Ou, pelo menos, mais verdadeiras.
Alguém deu pelo Outono passar? Alguém notou a terra ficar vermelha e dourada? Nós próprios aceleramos as estações. Ainda não acabou Outubro e já o Natal está por toda a parte, nos centros comerciais, nas cabeças aflitas dos pais, nas mãos ansiosas das crianças.
Pobre S. Martinho, o mais injustiçado dos santos. Demos-lhe um dia e agora esquecemo-nos dele. Gostava de me sentar num banco de jardim, com os pés deliciados sobre as folhas secas, a comer castanhas quentes, daquelas que queimam a boca e deixam as mãos sujas. Mas não posso. O Inverno não me deu tempo.

Obrigada, Van Gogh, por tantas vezes teres pintado o Outono. Daqui a uns anos, já com a memória tão indefinida como as pinceladas dessas imagens, vamos olhar para elas e perguntar: "lembras-te"?

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Ah! Outra coisa.

Esta noite sonhei que tinha havido um incêndio no El Corte Inglés. A cidade entrou em pânico, parecia Nova Iorque no 11 de Setembro. Os lisboetas todos aos gritos, a correr de um lado para o outro, a telefonar a saber dos familiares, enfim, uma balbúrdia completamente inusitada. Eu estava em casa da minha avó, que recebia e ajudava vítimas com sangue a escorrer por toda a parte. O estranho é que a catástrofe se passou na António Augusto Aguiar e a minha avó mora na Pontinha.

Mas o que é isto? Alguém me explica?

Só penso em ti


Neste dia tão cinzento, tão escuro que nem se vê a chuva a cair, não consigo tirar-te da cabeça. Ai sofá, sofá... onde estás quando preciso de ti?

terça-feira, 28 de outubro de 2008

De repente...

...alguém pega num livro e diz: "Já tenho este. Alguém quer?" A minha mãozinha ávida levanta-se rapidamente: "eu, eu!".

Não foi difícil. É que eu sou a mais nova e há muita coisa que não tenho, que os outros já têm em duas ou três edições diferentes. Esta noite, levo mais um livro para casa. Diz na capa: Italo Calvino, As Cidades Invisíveis, Uma das obras-primas da literatura do século XX.

É por estas e por outras que eu cá vou aguentando não ver um salário no bolso ao fim do mês. O JL é tramado.

domingo, 26 de outubro de 2008

Atrasem os relógios

Há poucas horas, estava eu no bar de todos os sábados, levantei-me para ir ao balcão buscar bebidas e, ao voltar para a mesa, um jovenzinho magricela de óculos graduados e muitas borbulhas na cara olha para mim e diz "És mêmo feia!". Assim: curto e grosso. Pouco passava das duas da manhã.
Mais tarde, o mesmo magricela, feio e bêbedo, quase caiu para cima de umas miúdas e estatelou-se no chão. E tão depressa caiu, como depressa veio um rapaz do bar agarrá-lo pelo braço fininho e empurrá-lo sem esforço para a rua. "És mesmo otário!", pensei eu. Pouco passava das duas da manhã.

A vingança é assim: dura e impiedosa. E esta noite ela chegou precisamente à hora marcada.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Elogio

Eu sei, eu também me assusto de cada vez que passo na Praça de Espanha e leio "Teatro de Pesquisa" na parede do Comuna. Parece um aviso: "beware, intelectuais em trabalhos". Dá um bocadinho de medo.

Na verdade, só fui ao Comuna às festas (as mais divertidas da cidade, quando a companhia é boa e o Joaquim Horta põe música). Não sou habitué de teatro e nunca vi nenhuma peça neste palco, mas isso pode mudar em breve.

É que ontem falei ao telefone com o João Tempera (aquele da sombra), que é actor residente do Comuna e o responsável por muito do que por lá acontece. Foram 5 minutos da mais pura simpatia e disponibilidade. 5 minutos apenas, que chegaram para dizer "se quiseres ir ver a peça, é só dares-me um toque, arranjo-te um bilhete. ou dois, se tiveres companhia".

Fiquei com vontade, claro. O homem representa, escreve, canta, lê e é simpático (e ainda outras coisas que me escuso a referir...). Assim dá gosto trabalhar.

A peça é "Homem Sem Rumo", espreitem aqui.

E porque não ir ver? Se é com o João Tempera, o "teatro de pesquisa" não pode ser assim tão negro...

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Um livro bom (parte II)

Este post estava prometido há muito tempo. Se não surgiu até agora, é porque me é muito difícil escrever sobre este livro. Escreveram-se textos longos e muito bem pensados sobre ele. Eu, na minha modesta condição de jovem leitora, não vou conseguir dizer dele nada que se aproveite. Mas promessas são promessas.

Um colega meu definiu os livros deste autor em três palavras: "o suspense contínuo". Tem razão.

No meio do Alentejo, inventou a Quinta do Tempo. Lá dentro, António Augusto Millhouse, um homem intrigante, que tem uma ocupação tudo menos normal. O narrador, um jovem angustiado que passa os dias a tentar descobrir o que a vida quer dele, deixa-se levar até este misterioso sítio. Depois, há a Camila e os seus dois irmãos: Gustavo, amante do álcool, e Nina, a mais pequena, ainda amante de coisa nenhuma. Camila é fascinada por funambulismo e sabe que quer passar a vida equilibrada numa corda.

Diz-se desta história que é sobre memórias, o passado que nunca nos deixa o presente tranquilo. Mas é também sobre buscas. A eterna procura de felicidade, que às vezes vemos tomar forma em certos lugares e pessoas. Quando lá chegamos, percebemos que não era nada daquilo, que estamos mais infelizes do que antes. É aí que chega a angústia, a amarra toda-poderosa que nos ata as mãos e os pés. É nesse frágil cordão que se tenta equilibrar o narrador; um sinuoso caminho que passa por Santiago do Cacém, Lisboa, Nova Iorque e Londres e, principalmente, por dentro de si próprio. Do outro lado do fio, está Camila, mais imaginária do que real. Mas o fim parece nunca chegar.

Quando lerem (porque, mais cedo ou mais tarde, vão ler), prestem atenção a cada personagem. Depois, respondam-me: quem vive, afinal, na corda-bamba?

Curioso...


http://www.iftheworldcouldvote.com/


Eu sempre achei que o mundo inteiro devia votar nas eleições americanas. Neste site, as votações não têm qualquer valor efectivo, mas dão que pensar...

No momento em que escrevo, já votaram 366,061 pessoas de 198 países. Barack Obama seria o eleito, com 87.5% dos votos. É o escolhido em todos os países, excepto na Macedónia (mas que seriedade tem um país com nome de salada?).

Isto não é nenhuma surpresa. O engraçado é que, a seguir aos EUA, o país com maior número de votantes é... Portugal. Proporcionalmente, acho que a abstenção nas nossas eleições é até bastante maior.

Poderia fazer aqui uma data de considerações sobre a ligação dos portugueses com a política internacional, a tecnologia, a Internet e o Magalhães, mas deixo só a informação. Vocês que pensem que agora não me apetece.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

1, 2, 3

4, 5, 6, 7, 8, 9, 10...



...20 000, 20 001, 20 002, 20 003...

...segundos. A saudade aperta. Quanto tempo falta?


Tori Amos canta Tom Waits, "Time"

domingo, 19 de outubro de 2008

Um samba sobre o infinito

http://www.trioguanabara.com/videos.php?l=pt (procurem "Para ver as meninas")

Conheci esta música há pouco dias, pela voz da minha prima, que podem ver a cantar aí com o Trio Guanabara. Chama-se "Para ver as meninas", é do Paulinho da Viola e foi gravada pela Marisa Monte. Mas eu gosto mais desta versão.

Hoje estou assim:

Silêncio por favor
Enquanto esqueço um pouco
a dor no peito
Não diga nada
sobre meus defeitos
Eu não me lembro mais
quem me deixou assim
Hoje eu quero apenas
Uma pausa de mil compassos
Para ver as meninas
E nada mais nos braços
Só este amor
assim descontraído
Quem sabe de tudo não fale
Quem não sabe nada se cale
Se for preciso eu repito
Porque hoje eu vou fazer
Ao meu jeito eu vou fazer
Um samba sobre o infinito

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

João e a Sombra


Tudo a ouvir João e a Sombra, a nova banda do nosso querido Rui Berton. Na voz, o querido de muitas, João Tempera.

A caixa

Encontrei a caixa num recanto esquecido do meu quarto. Devo tê-la escondido ali certamente para não a olhar todos os dias, para não me lembrar do tempo que ali está guardado dentro. Encontrei-a sem surpresa. Desfiz o laço de cetim azul, que a deixa encerrada no espaço de tempo em que não lhe toco, e abri a tampa. Sem pressas. Não fazendo qualquer esforço de memória que antecipasse o que ia encontrar. Lá dentro, um mar de bolinhas de esferovite cobria todos os tesouros daquele tempo. Mergulhei a mão e, uma a uma, fui tirando as memórias de um passado, que agora já consigo lembrar com o coração quente outra vez. Sem nós no estômago, ou pássaros a voar os largos corredores da imaginação.
Um jardim de flores feitas de palhinhas de plástico. Um postal com declarações de amor improvisadas de madrugada. Uma carta de jogo transformada em lembrete de futuro casamento. (...) Tantas coisas que fazem parte do que nós fomos.
Fechei a caixa, tornei a fazer o laço de cetim azul e não consegui tirar o sorriso da cara. Foi bom olhar para tudo aquilo assim pela primeira vez. Serena. Feliz. Remexer a caixa foi ter a certeza de que, agora sim, já está tudo bem.
Guardei-a no mesmo sítio de sempre, assim como te vou guardar para sempre em mim.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Demasiado tempo em casa

Olho agora para as pessoas que falam com os animais e julgam saber exactamente o que eles lhes querem dizer de uma maneira completamente diferente. Nestes dias tenho passado mais tempo com o meu cão e o meu gato do que com qualquer outro ser vivo e hoje, pela primeira vez, percebi o que se passa nas mentes destas criaturas que habitam a minha casa.

Eu estava no escritório, sentada a jogar Tetris (não me julguem assim sem mais nem menos, por favor!) depois de almoço. Afonso (o cão) veio deitar-se no sofá ao meu lado e estava com o olhar triste e vago, que todos os cães dominam e usam quando não querem que os donos os repreendam por estarem a usurpar o espaço que não é deles. E eis que entra Freddy (o gato). Vem no seu andar leve e gracioso. Pára à nossa frente, olha para mim e para o cão durante uns segundos. dá meia volta e desaparece, tão calmo e cheio de si como quando chegou.
Afonso pousou a cabeça e adormeceu, eu tirei o Tetris do pause e continuei a encaixar as peças.
Passado algum tempo, olhei, por mero acaso, para a porta do escritório e lá bem ao fundo no corredor, mas suficientemente perto para poder alcançar no campo de visão a molenguice de início de tarde no escritório, estava o gato, de olhar fixo em nós, sem mexer um músculo. Quando os nossos olhos se cruzaram, Freddy levantou-se e desapareceu, lento e ameaçador, como quem sai para elaborar um plano maquiavélico de vingança.
No resto do dia, não nos voltámos a cruzar com o gato, mas hoje vou dormir com a porta do quarto fechada e amanhã não fico em casa sozinha, de certeza.

Lisboa, Lisboa

Hoje li no Público que a Lonely Planet pôs Lisboa em primeiro lugar no top de cidades a visitar em 2009, no guia Best Travel. Não sou uma pessoa especialmente patriótica (como, aliás, poderão constatar mais à frente neste post), mas estas coisas fazem-me sempre sorrir de orgulho. Sim, ao contrário do que pensa o resto do país, os lisboetas têm sentimento de pertença. Lisboa é a nossa terra. Até mesmo para mim, que moro nos subúrbios.

Sabem quando gosto mais de Lisboa? É em Agosto. Porque os portugueses estão todos no Algarve e na capital só ficam alguns resistentes e os turistas. Gosto de ver pessoas de muitas cores, de várias alturas e belezas (menos as suecas muito altas e muito giras), de ouvir línguas diferentes. Mas o que sabe mesmo bem, não querendo ferir susceptibilidades, é tirar umas férias dos tugas (não dos portugueses, mas dos tugas).

Pronto, pronto, não gritem. Acompanhem-me:

- Ontem, no metro. Estou sentadinha no meu canto e tenho de fazer uma péssima figura. O livro numa mão e a outra a tapar o ouvido. Ao meu lado, um jovem com o MP3 aos berros. Mudo para o comboio no Cais do Sodré. Atrás de mim, dois rapazes falam muito alto e dizem palavrões como se fossem palavras. Tudo muito alto. No autocarro, como é habitual, alguém tenta passar à frente. Não sei se é mais enervante a velha que fura a fila ou a que fica lá atrás a resmungar "falam da juventude, mas depois ainda fazem pior".

- Hoje, de novo no comboio. Duas senhoras falam muito alto sobre doenças e de como a vida é horrível, "já viu, com isto se perde uma manhã" (e uma manhã ganha é o quê? ver o Goucha enquanto se faz o almoço?). Na paragem do autocarro, em Paço de Arcos, um jovem, daqueles que os deve ter enormes porque tem de andar com as pernas muito abertas, gel no cabelo e pele de quem usa mais perfumes da Zara do que água, assobia e assusta um cão. O cão ladra e ele, claro, assobia outra vez. E outra vez. E outra vez. Ri-se muito e abraça a namorada cheia de fast food na barriga e madeixas loiras no cabelo castanho escuro.

Percebem? De vez em quando é preciso férias. Por isso, turistas, sigam os conselhos da Lonely Planet e venham para Lisboa. E vocês, tugas, vão para Albufeira, vão.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Honey, I'm home!!!

Cheguei há precisamente duas semanas e olhar para este blog dá-me um nervoso miudinho na ponta dos dedos. Tenho estado paralisada e não consigo escrever nada, não consigo contar-vos como foi a minha vida estes dois meses e meio. Estou num estado de letargia consciente e a única coisa que consigo fazer é jogar a porcaria do Tetris que comprei nos chineses por 1,5€. Tem 9999 jogos, o que é que querem???

Mas, para não dizerem que o meu regresso foi uma coisa muito xururu, aqui fica finalmente a desmistificação de uma palavra que nos atormenta há demasiado tempo. Para ti, Martinha!


LADEIRA s.f. 1 inclinação de terreno de grau variável 2 rua ou caminho íngreme; calçada 3 encosta de montanha por onde escorrem as águas pluviais; vertente
(in Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa)


Mais tarde escrevo qualquer coisa decente, prometo!

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Samson

Não é uma coisa nova, mas os vícios não ligam nenhuma aos valores-notícia. Não consigo largar esta, por Miss Regina Spektor.



...told me that my hair was red... la la la

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

This is so great i had to share it with you


Ontem reencontrei-me com o explodingdog.com, que visitava muito na adolescência.

Enviem frases que o Sam faz os desenhos. Fica aí o link. É tão giro.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Um livro bom



Não é que não goste do que faço. Mas o que eu queria mesmo era ir para casa ler. Nem é preciso ser em casa, pode ser noutro sítio qualquer, num café, num jardim, na praia, no banco do metro.

É que nas mãos tenho um livro muito bom. E quando um livro é mesmo bom assim, é difícil desligar a vontade de ler mais um bocadinho, só mais um capítulo, só mais uma frase até adormecer de luz acesa. A ânsia de acabar é imensa, mas também não queremos que acabe.

Eu devia poder ficar só a lê-lo o dia inteiro e a noite inteira. Porque o livro é mesmo bom. E porque me faz sentir-te sempre perto.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Like a good book I can't put this day back

Nunca me tinha cruzado com este vídeo, embora conheça a música de cor. Mas para coisas bonitas vai-se sempre a tempo.

Tori Amos - A sorta fairytale
(com Adrien Brody)

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Para sempre

O amor é incondicional. Existe apesar de, para além de, mesmo que. Façam-se todas as asneiras do mundo e ele não desaparece. Porque há sempre alguma coisa que compensa.

Não dá para nos livrarmos daquilo que está colado a nós, mais, dentro de nós. Aquilo que engolimos há anos, no início da vida às vezes, e ficou para sempre alojado no estômago. O que amamos não se dissolve.

Queria descrever e elogiar o objecto do meu amor, mas não conheço as palavras certas. É muito grande.

Feliz Dia Mundial da Música.

Feliz

Feliz, feliz, feliz, feliz, feliz.

Muito.

Ainda bem que voltaram. Tu, que foste embora dos meus olhos. Tu, que foste embora para longe do que éramos.

Nunca mais se vão embora. Ouviram? Gosto tanto de vocês.

Já vos disse? Estou muito feliz.