quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

E a melhor prenda deste Natal...

...é a notícia de que o primo/a 21 vem a caminho! No próximo Natal, mais dois pequenotes presentes: um/a primo/a em 2º grau (para iniciar a nova contagem) e mais um primo direito!

Como dizia o Zeca, "venham mais cinco", mais dez, mais vinte, o meu sorriso há-de ser sempre do tamanho do mundo ao receber uma notícia destas!

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

A Gema é que sabe

Junto-me à Gema no amor pelas músicas de Natal. Se pudesse, ia de porta em porta charoling. Mas moro num prédio com 12 andares e 4 apartamentos por andar, em que metade das pessoas nem deve festejar o Natal, porque a sua religião não permite. Por isso, limito-me a cantarolar em casa.

Leitores do Ovo, desafio-vos a cantar por esse mundo fora, na rua, à porta do vizinho, na cozinha, na banheira, do fundo do copo de vinho, onde quiserem, mas abram bem essas goelas! All I want for Christmas is you!! A Mariah Carey é a maior.

Aos nossos leitores
E a todo o Portugal
O Ovo deseja um Feliz Natal!

Um regresso e um Feliz Natal!

Estou de volta ao ovo. E para o celebrar (e também ao dia que aí vem) deixo-vos com o meu guilty pleasure da época.




FELIZ NATAL!!!

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Declaração


Como Dizia O Poeta - Vinicius De Moraes e Toquinho

Estou farta de que homens novos falem como velhos. Estou farta de que homens novos digam que já não acreditam no amor, na paixão, na bondade humana, no Pai Natal, quando ainda vão a um terço da vida. Estou farta de homens novos que não fazem ideia do que será o dia de amanhã, mas pensam que já descobriram tudo o que têm para descobrir. Estou farta de homens novos que querem forçosamente ser velhos.

Estou farta de jogos, caminhos sinuosos e atalhos. Estou farta de "tragédias de bolso". Estou farta de melodramas, dramazinhos de domingo, vidas dramáticas e dramaturgias da vida. Estou farta de fingir isto e aquilo. Estou farta de não poder sentir, dizer, fazer aquilo que gosto. Estou farta de lições de moral. Estou farta de que me digam o que posso fazer, o que não devo fazer, o que tenho mesmo de fazer, o que deveria fazer. Estou farta de que toda a gente saiba mais do que eu, melhor do que eu, em vez de mim. Estou farta de "eu bem te disse". Estou farta de ter medo de amar e medo de sofrer. Estou farta de não poder admitir que faço coisas sem pensar antes. Estou farta de não poder admitir que amo, que sofro, que choro, que rio sem parecer menos inteligente. Estou farta de ter medo da vida. Estou farta de posts sobre lágrimas e passagens de ano solitárias. Estou farta de mim própria e das sombras que pus em frente dos olhos.

Declaro aqui encerrada a minha depressão.

Natal vs. Passagem de ano

Gosto do Natal. Muito. Costumo dizer que dia 25 de Dezembro é o meu dia favorito. Todos os anos é o mesmo: almoço e prendas com a família alargada, pais, tios, primos, etc. Talvez goste muito porque ao todo somos cerca de 40. Talvez porque tenha 18 primos. Talvez porque possa rir-me com os primos mais velhos e mimar os mais novos. Talvez porque a minha tia mais nova tenha 32 anos e conheça a minha vida íntima como uma amiga.

Ou talvez não. O mais provável é que eu goste do Natal simplesmente por ser uma época segura. Não preciso de pensar nem de me preocupar. Não me causa depressões. Compro prendas apenas para os meus pais e para a minha irmã; sei sempre o que comprar e sei sempre que vão gostar. De resto, a família não desaparece, não vai a lado nenhum, não se esquece de mim, não se farta de mim (ou mesmo que se farte, nunca o admite). Está ali comigo, todos os anos.

Já o fim de ano, esse sim, é uma tormenta. Porque esse é o espelho de outra parte da minha vida, uma parte tumultuosa e insegura. Não tenho dinheiro para pegar numa amiga e fugir daqui. Mesmo os amigos ameaçam dispersar-se. Ao contrário dos últimos anos, não tenho quem beijar quando for meia-noite. Até agora, as hipóteses são passar com os meus pais ou com um casal.

E o Natal é que é deprimente?

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Coincidências

Um conto publicado na New Yorker cujo título me chamou a atenção (mas as coincidências acabam aí)...

Clara

She had big breasts, slim legs, and blue eyes. That’s how I like to remember her. I don’t know why I fell madly in love with her, but I did, and at the start, I mean for the first days, the first hours, it all went fine; then Clara returned to the city where she lived, in the south of Spain (she’d been on vacation in Barcelona), and everything began to fall apart.

Um Natal assim


Ainda não li todos os contos do livro Um Natal assim (da Quidnovi, exclusivo da Bertrand), mas aqueles que li e os outros pelos quais dei uma vista de olhos conquistaram-me. Mas enfim, só os nomes na capa já dão a certeza de que a coisa é boa. Carlos Quiroga, Eduardo Pitta, Francisco José Viegas, João Tordo, Jorge Listopad, José Luís Peixoto, Maria Antonieta Preto, Miguel Real, Paulo Bandeira Faria, Paulo Moreiras e valter hugo mãe são os autores.

Aqui fica um bocadinho que me encantou.

"- O Inverno é mau? - perguntas tu.
Não respondi imediatamente: começou a chuviscar, chuva misturada com neve, a neblina descia sobre o mundo onde tínhamos estado.
- Se o Inverno é mau? - retomei eu o diálogo. - No Inverno acontecem mais acidentes, estamos mais doentes, a morte engole muitas pessoas que queriam viver ainda mais um Verão. É assim mesmo. Mas num Inverno, ao contrário das outras más notícias, nasceu o Menino com letra maiúscula, o que nem todos os anos acontece. No Inverno comem-se mais doces e castanhas assadas, os doces caseiros são feitos no Verão para serem comidos durante o Inverno, tal como aquelas pequenas maçãs, tu sabes quais são, e bebe-se chá quentinho, translúcido, e as vozes humanas são mais aveludadas. Não te preocupes se não entenderes tudo o que te estou a dizer. Um dia compreenderás."

À procura do Natal, Jorge Listopad

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Mística

Hoje, em cima da minha secretária, estava a revista Mística, edição de Janeiro, nº5 do ano 2. Para quem não sabe, é a revista oficial do nosso glorioso Benfica. Esta é uma publicação séria, que contém a informação mais pertinente, sem, no entanto, esquecer o entretenimento necessário à manutenção do interesse do leitor.

Neste número, ficamos a saber, por exemplo, que o futebolista Yebda namora há sete anos com uma jovem de nome Julie e que só começaram a viver juntos em Lisboa. Yebda gosta dos centros comerciais, da Avenida da Liberdade, do Oceanário, da praia e da gastronomia portuguesa. O destaque da entrevista é uma citação do jogador que, demonstrando uma extraordinária veia humorística, faz uma jocosa referência às suas constantes mudanças de penteado: "Não se admirem se quando a Mística chegar às bancas eu já tiver mudado de visual!" A vermelho, as palavras 'Mística' e 'visual'.

Admiráveis são também os títulos que se encontram nas páginas da revista. Mesmo os textos mais minúsculos são precedidos de brilhantes expressões espremidas da criatividade infinita desta redacção. Ou talvez haja um departamento especial para o efeito. Deixo-vos alguns exemplos, retirados de um artigo que passa em revista os jogos do ano (de notar as inteligentes referências históricas):

"Enfim... conquistadores" (V.Guimarães 1 - 2 Benfica)
"Gigantesco equilíbrio" (Benfica 0 - 0 Inter de Milão)
"Nuno sebastiânico" (Rio Ave 1 - 1 Benfica)
"Com um coração do tamanho do mundo" (Benfica 1 - 1 FC Porto)
"Se não têm abatido a pantera..." (Nápoles 3 - 2 Benfica)
"Golo 5000 bordado a letras douradas" (V.Guimarães 1 - 2 Benfica)
"Feridos na madrugada" (Olympiacos 5 - 1 Benfica)

Nas páginas finais, a Mística dá-nos a conhecer a jovem Carolina Graça, à qual se refere como "uma Graça de mulher". Tem 22 anos, é alta, magra, tem dois grandes talentos e é a nova Axe Dancer (?) do Benfica. A entrevista a esta estudante de arquitectura e campeã de ginástica compõe-se de perguntas e comentários como: "Os traços faciais revelam algo de oriental em ti..." e "O namorado é ciumento?"

Já o assunto de capa é o há muito ansiado golo 5000 do Benfica, que acabou finalmente por acontecer contra o V.Guimarães. "El señor 5000" é o título da reportagem de fundo e refere-se a David Suazo, o autor deste feito épico. Revelando um domínio perfeito da metáfora, o jornalista descreve o momento: "Criação de uma obra-prima. Com letra de Aimar e música de Suazo. Assim se tocou a sinfonia do golo 5000."

Glorioso SLB. Só quem o ama pode entender a mística.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Transparente

Gosto que me beijem na boca. Gosto que me beijem o pescoço. Gosto que me beijem a barriga. Gosto que me dispam. Gosto que me acariciem o ventre e daí para baixo. Gosto que não haja pressa. Gosto de delicadeza com intensidade. Gosto que não me tomem como garantida. Gosto de ser conquistada. Gosto que me oiçam. Gosto que me elogiem. Gosto que se preocupem comigo. Gosto de ver a minha sensualidade nos olhos de quem me olha. Gosto de mãos insaciáveis. Gosto que me descubram. Gosto de ser conduzida. Gosto de sentir o peso do outro em cima de mim. Gosto de deitar a cabeça para trás. Gosto de perder totalmente o controlo.

Nem as bananas

A propósito deste pequeno mas muito elucidativo texto:

Alberto João Jardim é um provocador. A mim provoca-me vómitos.

Pergunto-me também quais serão as terríveis consequências para o continente de que fala ele. Será que vai pôr no papel o oceano que separa a Madeira do resto do país e tornar o arquipélago independente? Isso seria uma medida drástica. Não podemos esquecer as grandes contribuições que a ilha do senhor Jardim faz ao continente.

Contribui, por exemplo, para a nossa imagem de terceiro-mundistas disfarçados de europeus evoluídos. Por trás de computadores, vias verdes e auto-estradas, está um país que permite que um obeso de charuto e álcool no sangue mantenha o seu pequeno paraíso tirano, onde quem põe a cruz no quadrado errado do boletim de voto não pode construir um negócio. Onde os jornalistas recebem telefonemas pouco amigáveis se tentam investigar qualquer coisa que manche a imaculada reputação madeirense. Onde explodem estrondosos fogos de artifício sobre aldeias carregadas de pobreza. Onde se disfarça a falta de democracia com a construção de demagógicas estradinhas para a dona Maria poder visitar a filha Adelaide sem dar muitas voltas. Onde não há liberdade de imprensa e expressão, mas "pronto, ele tem feito coisas tão bonitas".

Correndo o risco de ser linchada por nacionalistas com utopias imperiais, afirmo que não me ralava nada que a Madeira se tornasse independente. Faça-se um referendo: pergunte-se ao povo do continente se quer continuar a ser compatriota do senhor Jardim. É que nem sequer temos um descontozinho nas bananas.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Cigarettes and Chocolate Milk

Cigarettes and Chocolate Milk (live at lion dor) - Rufus Wainwright

Uma canção do Ovo.

cigarettes and chocolate milk
these are just a couple of my cravings
everything it seems i like's a little bit stronger
a little bit thicker, a little bit harmful for me

if i should buy jellybeans
have to eat them all in just one sitting
everything it seems i like's a little bit sweeter
a little bit fatter, a little bit harmful for me

and then there's those other things
which for several reasons we won't mention
everything about them is a little bit stranger
a little bit harder, a little bit deadly

it isn't very smart
tends to make one part
so broken-hearted

sitting here remembering me
always been a shoe made for the city
go ahead, accuse me of just singing about places
with scrappy boys faces
have general run of the town

playing with prodigal sons
takes a lot of sentimental valiums
can't expect the world to be your raggedy andy
while running on empty
you little old doll with a frown

you got to keep in the game
maintaining mystique while facing forward
i suggest a reading of 'a lesson in tightropes'
or 'surfing your high hopes' or 'adios kansas'

it isn't very smart
tends to make one part
so broken-hearted

still there's not a show on my back
holes or a friendly intervention
i'm just a little bit heiress, a little bit irish
a little bit tower of pisa whenever i see you
so please be kind if i'm a mess
cigarettes and chocolate milk


Um obrigada público à Gema, que sempre foi mais sábia que eu.

Forte


O colégio de freiras tinha vantagens e desvantagens. A desvantagem era ter 13 anos numa turma só de raparigas. A vantagem era a sala de aula ser muito grande, como a escola toda. Era tanto o espaço, que até jogávamos ao ringue lá dentro. Um dia, um daqueles ringues de borracha duros que hoje devem ser perigosíssimos para as crianças voou direitinho à minha cara. Com toda a força. Eu levei as mãos à dor e disse: Ai! As minhas colegas rodearam-me e perguntaram-me: Estás a chorar? Eu não estava. Nunca estava. A Ana Maria olhou para mim muito séria e disse: És tão forte.

Tenho pernas de cimento. Coisas de bailarina. Os braços frágeis como caules de flores, mas as pernas rijas como raízes. Poderia estudar-se anatomia nelas; quando as estico, nota-se cada músculo, com incrível detalhe. E, se se pressionar a pele com os dedos, mesmo com alguma força, eles não cedem. A sua rigidez de pedra provavelmente tira-lhes beleza, mas eu gosto delas assim. Orgulho-me até, porque em cada músculo saliente vejo as horas de esforço (saboroso) que tenho todas as semanas nas aulas de ballet.

Forte. Chamaram-me assim mais do que uma vez. Mais do que duas. Muitas vezes. Não, dizia eu, não, é tudo fachada, sou tão frágil por dentro, soprem-me na cara, mesmo levemente, e eu caio redonda no chão.

Hoje vejo-me de pé, às vezes nas pontas dos pés, sem vacilar. Não me lembro de ter sentido o frio do chão nas costas, mesmo quando a ventania me humedeceu os olhos. Forte? Começo a acreditar.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

As lágrimas da minha amiga

Ontem à noite, consolei uma grande amiga.
Na despedida, abraçámo-nos com força, como sempre fazemos, e eu senti o rosto dela molhado contra o meu. Ela tem lágrimas fáceis e, ainda com a música da Amália nos ouvidos, era ainda mais difícil contê-las. Agarrei-lhe a cara com as duas mãos, beijei-lhe as bochechas várias vezes, acariciei-lhe o cabelo dourado e perguntei-lhe finalmente

- O que foi?

- Não quero que estejas infeliz,

disse ela. Sorri-lhe e disse

- Não te preocupes, vai correr tudo bem. Sabes como eu sou. Tenho uma Amália dentro de mim.

Ela riu-se e eu acalmei-me por vê-la mais calma.
Está algo errado neste episódio? Alguma coisa ao contrário? Não. Eu acho que não.

Amália



Vi ontem. Apesar de tudo o que foi dito, o filme tocou-me muito. É que, pela primeira vez, a voz da Amália chegou cá dentro. E isto, diga-se a verdade, deve-se em grande parte à fantástica actriz. Dizia sempre que não gostava muito de ouvir a Amália cantar: era uma ignorante. Ontem, tive lágrimas nos olhos sempre que ela cantou. Até a Mariquinhas me arrepiou os braços. Mesmo com a horrível ditadura, mesmo com o atraso de Portugal, mesmo com o pior provincianismo, quem me dera ter estado lá, perto daquela mulher de personalidade forte e amores grandes, ainda sem rugas, mas já madura (nunca foi nova, não é?) e dizer: Amália, canta-me o fado.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Insónia

I couldn't sleep
Didn't want comforting
Just company to sleep

And then in dreams we meet
And stay asleep

I awoke feeling restless
Didn't know quite where I was
Though I felt far away and cold
It was so late but my mind was curious
It was quiet, snowing with frosted windows
I had a book but wasn't reading just watching you

Didn't want comforting
Just company, oh be sweet
It could go either way
Based on what they say

I didn't wish to be somewhere else
Your face was comforting to me
I don't remember you smiling
But just the same
I didn't know you
You didn't know what to make of me
It was peaceful that night
A kind of friendship all too serious

"I couldn't sleep", Au Revoir Simone

domingo, 7 de dezembro de 2008

Post para o Snake

Snake, a única coisa que sabemos de ti é que és um gajo do metal. E isso anda a dar cabo de nós. Vemos-te em toda a parte: no trânsito vimos um Snake (por acaso não tens um jipe da Mercedes?), hoje na festa do Santiago Alquimista vimos QUATRO (!) Snakes. Para nós, Snake, tu estás em todos os metaleiros portugueses. Qual deles és tu?

Ah! E vamos lançar uma petição para criares o teu próprio blog. Queremos o http://oblogdosnake.blogspot.com


Ass.: o Ovo

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

O meu pai deitado no divã

(por entre baforadas de charuto do psicanalista e com o consultório banhado com uma luz fraca, amarela, vinda do pequeno candeeiro, eternamente de pé na secretária empoeirada)

"Ontem levei a minha filha para Lisboa, uma situação habitual no início das semanas. Almoçámos em Leiria ainda e arrancámos logo depois. A viagem foi um suplício: o sol brilhava demais e a luz entrava em força pelo vidro da frente; os olhos teimavam em querer fechar-se e no rádio nada que fizesse despertar este estado de sonolência pós-almoço.
Chegámos! Incrivelmente, havia um lugar de estacionamento mesmo em frente à porta do prédio. Acho que isto nunca tinha acontecido. Como a miúda estava muito carregada, estacionei o carro e ajudei-a com as tralhas. E também aproveitei para esticar as pernas e ir à casa-de-banho. Ela subiu as escadas à minha frente, com a chave de casa na mão. Abriu a porta, mas do lado de dentro não veio a luz que seria de esperar. As almofadas do sofá estavam no chão e a sala muito desarrumada. Não era um cartão de visita muito agradável, mas não estranhei. A minha outra filha anda cheia de trabalho, coitada. Farta-se de trabalhar todos os dias até muito tarde lá na Gulbenkian. Enfim...entrei e, quando pousei as coisas que trazia na mão, olhei em redor e vi uma camisola de homem nas costas de uma cadeira, uns sapatos de homem à porta da sala, mais umas coisas que não podiam pertencer a nenhuma das minhas filhas... a porta do quarto da minha filha estava fechada e a Rita começou a ficar nervosa e tentou mostrar-se ocupada no quarto dela. Ela nem precisava de dizer nada... Senhor doutor, eram quatro da tarde e a minha filha estava ali ao lado, fechada no quarto a fazer sexo com alguém, em vez de estar a trabalhar.
Um pai não merecia passar por uma situação destas!"

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Breathe me

De tempos a tempos, esta música aparece no meu caminho. De quase todas as vezes fico com lágrimas nos olhos. E de todas as vezes um arrepio percorre-me as costas.

Enjoy (a música e o vídeo, que ambos valem a pena).


Breathe Me - Sia

O pássaro na minha janela


Já era a madrugada de hoje, mas para mim ainda era a noite de ontem. Estava na cozinha, a fazer qualquer coisa automaticamente e a cismar (actividade que tenho praticado com muita frequência nos últimos dias). Cismar no sentido pessoano do termo. Estava portanto perdida nos meus pensamentos, que são obssessivamente sempre os mesmos. Obssessão deles, não minha. E os meus pensamentos, como qualquer leitor assíduo deste Ovo pode constatar, têm sido tudo menos luminosos.

Ontem não foi diferente. Testa franzida, uma expressão entre a preocupação e a tristeza - esta era de certeza a minha imagem - e a noite dentro da cabeça. Olhei pela janela e vi o meu estado de alma reflectido: tudo escuro. Por entre estes caminhos de trevas, pareceu-me irreal ouvir um pássaro a cantar. Parei. Eu e os meus pensamentos. Estiquei o ouvido e ouvi de novo. Era mesmo um pássaro a cantar.

Noite cerrada, muito frio, chuva e vento: o cenário era o pior, mas o pássaro cantou à mesma. Lembrei-me da menina dos sapatos vermelhos que perguntava porque não podia voar por cima do arco-íris como os pássaros. Perguntei-me porque não podia eu cantar no meio de uma noite escura e fria como aquela avezinha.

Percebi que posso. O pássaro na minha janela, só com uns segundos de canto, fez-me entender: é possível cantar mesmo na noite mais escura, porque, mais cedo ou mais tarde, inevitavelmente, chegará o amanhecer.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Para começar bem o mês...

...fiz finalmente o meu MEDEIA CARD!!!
Nota-se na foto o meu ar de satisfação :)
E pronto, a partir de agora aceitam-se convites para ir ao "moves". Monumental, King, Nimas, ou Fonte Nova, é só escolherem qual vos dá mais jeito.
Estou tão contente que nem dormi e passei a noite inteirinha a olhar para o meu cartão.
Para a estreia, fui com a Clara ver o Ensaio sobre a Cegueira. Embora ainda não tenha acabado de ler o livro, gostei muito do filme. Baseado na obra, é claramente uma adaptação, e não uma colagem, da ideia do Saramago. O livro é o livro. O filme é o filme. Gosto de cada um à sua maneira.
Agora espera-me o Paris, A fronteira do amanhecer (com o maravilhoso Louis Garrel), o Hunger e o Amália que estão quase a chegar...
Tempo é o que não me falta.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Anúncio

Procura-se homem com idade entre os 25 e os 35, bom aspecto, inteligente, culto e sociável para acompanhante no jantar de Natal das meninas do ballet, onde só estarão casais. Interessados, façam o favor de responderem na caixa de comentários deste post.

domingo, 30 de novembro de 2008

Melancolia ou depressão?



Hoje vi o Magnolia pela primeira vez. Ouvi lá muitas coisas interessantes, incluindo esta:

"I confuse melancholy with depression sometimes."

Isto não é uma depressão. É só uma fase Aimee Mann. It's not going to stop 'til you wise up. No, it's not going to stop.

So just... give up?

Não me parece.

sábado, 29 de novembro de 2008

Crise do quarto de idade


Será que algum dia me vou conseguir definir de forma simples e clara? É que, por enquanto, aquilo que eu sou é uma grande indefinição. Ora vejamos:

- Não sou de Leiria, nem de Lisboa;
- Não estou empregada, nem desempregada;
- Não vivo com os meus pais, mas também não sou independente, nem emancipada;
- Não trabalho em informação, nem em entretenimento;
- Não sou jornalista, nem guionista;
- Não sou puritana, mas também não sou nenhuma louca devassa;
- Não acredito em Deus, mas tenho a minha "fé";
- Gosto de cinema independente, mas não tenho paciência para o Schroeter;
- Sou muito activa e muito dinâmica, mas estou há dois dias fechada em casa;
- Gosto de sair, mas só se não estiver a chover;
- Sou optimista, mas com tendência para a melancolia;
- (...)

Ao menos a minha identidade sexual não está em crise. Isso sim, seria o fim!
Who the fuck am I???

Alguém me explica?

Eu já percebi que há manifestações e greves que têm a ver com a avaliação, já percebi que os professores querem que a ministra se demita. Só ainda não percebi porquê.

Sem qualquer ironia ou crítica implícita (a qualquer uma das partes), alguém me explica afinal o que anda este ministério a fazer de tão tenebroso?

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

A Crise

Hoje deparei-me com um anúncio inacreditável no cargadetrabalhos.net. Antes de mais, o copy paste:

estágio em jornalismo

Faculta-se estágio subsidiado a recém-licenciado em jornalismo com boa média final de curso na Universidade de Lisboa.

Se não preenche este requisito não responda p.f.


Para quem não sabe, estes senhores nunca conseguirão encontrar ninguém que preencha este requisito. Porquê?

É muito simples. Porque não existe nenhuma licenciatura em Jornalismo na Universidade de Lisboa. Na verdade, nem sequer existe nenhuma licenciatura em Comunicação Social. Em Lisboa, podemos licenciar-nos em Comunicação Social na Universidade Católica e em Ciências da Comunicação na Universidade Nova. Licenciatura em Jornalismo, só mesmo na ESCS (onde o vosso querido Ovo estudou). É claro que basta ir aos sites das respectivas universidades e ler a lista de disciplinas para perceber que são cursos muito diferentes uns dos outros e, como tal, que os seus alunos serão profissionais bem diferentes uns dos outros. Mas já nem me passa pela cabeça que as empresas se dêem a esse duro trabalho de escolher o que é mais adequado para os seus quadros...

Que raio de mercado de trabalho é este que nem sequer conhece as escolas onde se formam os seus futuros profissionais? Que empresas são estas que não têm o mínimo pudor em fazer exigências que nem sequer são realistas?

São estas coisas, estes pormenores aparentemente insignificantes, que fazem do nosso pequeno país o que ele é: um pequeno país.

"Now I spend my time just making rhymes of yesterday"



"Olá, eu sou a Rita e a música que ouço em repeat é a One, da Aimee Mann."
Se o Pedro (Moreira Dias) me perguntasse isto hoje, não hesitaria nem um segundo a responder.

De molho

Chuva na janela, dores na garganta, manta no joelho, Sex and the City na televisão. Hoje estou de molho, em casa.

Até poderia ser bom, mas sozinha é uma grande chatice. Não tenho com quem e rir e concordar com as coisas que diz a Carrie.

Hey! Tu! Não queres pegar nessa chávena de chá quente e sentar-te aqui ao meu lado?

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Um presente para ti, minha Clara


Sempre que o vento teimar em entrar para dentro da tua camisola e te desalinhar o cabelo, olha para esta carinha, com o sol lá atrás, e sorri!
Os bons dias vêm aí outra vez *

A pior das condições atmosféricas

A frase que digo mais vezes no Inverno (a seguir a "tenho as mãos frias") é de certeza "odeio vento".

É que odeio mesmo. Além de pôr cabelo por todo o lado, inclusive à frente dos olhos, é este vento estúpido que torna o nosso frio mais insuportável. Entra por dentro dos casacos, atravessa as camisolas, infiltra-se na pele e instala-se teimosamente nos ossos. Tentamos de tudo para o expulsar de lá, mas é impossível. Incontrolável, ali fica, até que chegue o Verão.

E a dor? Faz tremer os dentes, deixa-nos paralisados, magoa os músculos, deixa os lábios secos e lágrimas nos olhos. Queremos ser mais fortes, mas a maior parte das vezes não conseguimos construir aquela carapaça que nos permite ser resistentes e superiores.

De que é que eu estou a falar, afinal?

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Náusea

São coisas destas que me dão a volta ao estômago.

Hoje, no Público:

Detidos dez suspeitos de ataques a jovens afegãs, num país onde é difícil estudar
26.11.2008, Sofia Cerqueira

As autoridades afegãs anunciaram ontem a detenção de dez homens, suspeitos do ataques com ácido a um grupo de jovens estudantes há duas semanas no Sul do Afeganistão. Segundo a agência AFP, os homens detidos na semana passada são afegãos e actuavam sob as ordens dos taliban, em troca de 100 mil rupias (1000 euros) cada um.Os relatos do ataque, que teve lugar em Kandahar a 12 de Novembro, contavam que dois homens numa moto se tinham aproximado de um grupo de raparigas - alunas e professoras a caminho da escola - e lhes tinham atirado com o que se veio a descobrir ser ácido de baterias. Duas das raparigas tiveram de ser hospitalizadas e uma, apesar de provavelmente não voltar a ver, prometeu que regressaria à escola, a qualquer custo.Apesar de um porta-voz dos taliban ter repudiado o ataque, em declarações à AFP, o ministro adjunto do Interior, Mohammad Daud, revelou ontem que os dez detidos "recebiam ordens [dos taliban] do outro lado da fronteira [no Paquistão], daqueles que conduzem os ataques terroristas em Kandahar", o último reduto dos islamistas. Daud acrescentou ainda que alguns confessaram o crime.Os ataques com ácido não são comuns no Afeganistão, mas a violência contra as mulheres não é novidade. À medida que recuperam o poder militar perdido após o derrube do regime taliban, os extremistas islâmicos atacam as estruturas do Governo contra o qual lutam e reagem às (parcas) liberdades recém-conquistadas pelo sexo feminino.As escolas são dos principais alvos. Só este ano, 115 foram atacadas e 120 funcionários do sector foram mortos, diz o porta-voz do Ministério da Educação afegão, Hamed Elmi.A educação foi um dos principais investimentos do Governo pós-taliban, que afirma ter colocado 6,2 milhões de crianças a estudar, seis vezes mais do que o número de alunos do regime extremista, no qual apenas estudavam rapazes. Apesar do esforço recente, a realidade não é homogénea e longe da capital, Cabul, a velha mentalidade persiste e as raparigas continuam a viver sob repressão.Apesar de não haver documentação exacta, estima-se que a violência sobre as mulheres esteja a aumentar, devido à crise económica e à falta de segurança. Najla Zewari, membro do Fundo de Desenvolvimento para as Mulheres da ONU (UNIFEM), conta ao Guardian que há cada vez mais jovens violadas, devido à falta de recursos económicos para pagar o dote exigido no casamento. Depois de violadas, ninguém quererá casar com estas jovens sem honra, que se vêem assim obrigadas a aceitar a mão do violador, explica Zewari.O relatório do UNIFEM de 2008 conta que no Afeganistão a taxa de literacia feminina está nos 15,8 por cento, metade da registada entre os homens. Em 29 por cento dos distritos escolares, não há escolas para raparigas e, se, no ensino primário, há uma rapariga por cada dois rapazes, no secundário o rácio passa para uma em cada três ou quatro rapazes. Dados de um débil progresso, em risco com a falta de estabilidade do país. "As ideias taliban são naturais entre as pessoas, principalmente quanto à visão das mulheres", explica Shukria Barakzai ao Guardian, deputada do Parlamento afegão, que recebe frequentemente ameaças de morte. Dos 249 membros da Assembleia, 68 são mulheres, mas, segundo a também deputada Shinkai Karokhail, apenas cinco defendem os seus direitos. Muitos comentam a aproximação de ex-guerreiros mujahedin ao Presidente Hamid Karzai. "Estamos muito preocupadas que, agora que o Governo está a falar com os taliban, os nossos direitos sejam comprometidos", defendeu Karokhail.

A dúvida


Ontem, a minha querida companheira de omeletes disse o seguinte:

"Tens de perceber que anda meio mundo a tentar comer o outro meio".

Depois de me rir muito, pus-me a pensar. Quando é que nos tornámos cínicas? Quando é que deixámos de acreditar em príncipes encantados, sonhos cor de rosa e finais felizes?

Não sei em que momento se deu essa viragem, nem sei qual foi o click que nos fez ver as coisas de maneira diferente (ou abrir os olhos?). Também não sei se isso é um reflexo de maturidade ou da crise económica.

É verdade que o cinismo é bem mais divertido e evita as dores agudas de que sofrem os românticos. Mas será que também não evita as suas alegrias? Não faço ideia. A minha experiência já deitou por terra muitas das minhas ideias encantadas, mas a minha inexperiência ainda não me deixa saber se isso é bom.

Por via das dúvidas, hoje pus uma flor ao peito.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Wook dá livros!

100% de desconto. Uma prendinha de Natal antecipada!

Já estou a salivar... e a aquecer os dedos para ser muito rápida.

Registem-se aqui!

40 anos do álbum branco

Eu não conheço este álbum. Aliás, dos Beatles não conheço discos, só músicas. E gosto de todas. Mas diz o Nuno Galopim que os 40 anos do White Album (título não oficial, já que a capa, toda branca, tem escrito apenas The Beatles) são "o" aniversário pop/rock do ano. E se ele diz, quem somos nós para contrariar... Foi lançado a 22 de Novembro de 1968 e era duplo, o que na altura equivalia a 4 lados de música.
Armada em grande egocêntrica, deixo aqui como pedacinho do disco uma linda canção chamada "Martha, my dear". Digam lá se não é tão bonita. A canção, claro.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Pecado mortal do dia: INVEJA

Uma tem uma casa nova, com um walking closet, um sotão e um homem com quem partir o varão da banheira.

Outra diz que lhe "vão arranjar o computador", o que terá como consequência uma data de coisas, todas elas deliciosas.

Adeus a todos. Esta noite um relâmpago virá direitinho dos céus e vai rachar-me a cabeça.

Gala de encerramento EFF2008 - o rescaldo

Um jantar delicioso. Uma entrega de prémios mal organizada. Um bom concerto dos Deolinda, mas com um volume demasiado baixo para a falta de interesse do público.

O melhor de tudo foi, sem surpresa, estar com os amigos e amigas do coração, de sorrisos sempre prontos na cara. Podia ser todos os dias.

Ah. E o saquinho de ofertas da L'Oreal.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Análise profunda

Werner Schroeter é um realizador alemão que veio a Portugal com o prognóstico de 48 horas de vida, mas já está vivinho da silva há bem mais de 72. Não sei se pela proximidade da morte, ou se por mau feitio de nascença, Werner Schroeter é das pessoas mais insuportáveis com quem podemos ter o azar de nos cruzar. É uma diva (no pior dos sentidos, claro), cheio de si próprio e sem a mínima tolerância pelos outros.
Eis a análise que o sr. alemão, nos momentos finais da sua vida, cheia de obras e de sentido, fez do povo português: "Vocês, os portugueses, perdem demasiado tempo a fazer amigos e a fazer amor... perdem demasiado tempo a ter sexo. Deviam aproveitar o vosso tempo no cinema, ou a ler livros."
Assim se explica a amargura de algumas pessoas que povoam o nosso mundo.

Gala de encerramento EFF2008


E lá vamos nós todas pirosas, pelo red carpet fora, vestidos novos e saltos altos, dar a Paul Auster, Catherine Deneuve e outros que tais o privilégio de jantar no mesmo espaço que nós.

Depois contamos como foi!

Minhocas de Biblioteca

E afinal esta é que é mesmo a expressão certa, os ratos não têm nada a ver com o assunto.

Visitem http://bookworms.sapo.pt/, uma espécie de Hi5 literário, onde podemos dizer aos outros o que lemos, saber o que eles lêem, aceitar e dar sugestões. Um site interactivo, útil e sobretudo muito fofo!

Eu e a Gema já somos minhocas! E vocês?

João e a Sombra II


Ora aí está o primeiro disco! João Tempera, Pedro Tempera, Francisco Santos, João Tubal e RUI BERTON apresentam um delicioso EP com sete canções para ouvir antes de adormecer.
E aí estão também os showcases nas Fnacs, a começar já no Chiado, dia 27. Lá estaremos!!

27 Nov 2008
18:00
Fnac - Armazéns do Chiado

18 Dez 2008
18:00
Fnac - Colombo

19 Dez 2008
21:00
Fnac - Forum Almada

16 Jan 2009
18:00
Fnac - Forum Coimbra
Coimbra

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Cinzento

Nem bem nem mal.
Nem feliz nem infeliz.
Nem deprimida nem eufórica.
Nem parada nem a correr.
Nem choro nem riso.
Nem sonho nem pesadelo.
Nem prosa nem poesia.
Nem samba nem bossa nova.
Nem preto nem branco.

Hoje, estou cinzenta.

Man in the light II

Olhem aqui tão bom: http://noticias.sapo.pt/noticias/videos/#nU3gVkhR2dwA6OVZ87CC

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Man in the light

Ele era o único iluminado. O público estava às escuras e escutava. Ele, Paul Auster, lia passagens do seu novo livro, Man in the dark. E foi uma delícia. Com a sua voz profunda, o escritor mais charmoso que conheço pôs todas as bocas (femininas) a dizer, no final: "ele podia era estar no meu sofá a ler para mim a noite inteira."

Isso é que era.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Infiltrada

Quando a casa de banho dos homens fica muito mais perto do que a casa de banho das mulheres e eu não tenho paciência para andar quilómetros na imensidão do Centro de Congressos do Estoril (e também não trouxe os patins em linha, como tinha pensado na primeira vez que aqui entrei), fico a saber que todos os urinóis têm uma mosca desenhada, para os meninos se divertirem a fazer pontaria.

E nós? Com o que é que nos entretêm? Só consigo lembrar-me das mensagens escritas nas portas das casas de banho. "Amu-te muinto prinxesa!"

Também quero a minha mosca!

Sparkling night

Sexta-feira passada, sentei-me para jantar depois de um dia de trabalho que parecia não ter fim. Desta vez não tinha de passar por um corredor estreitinho, esgueirando-me pelo intervalo dos caixotes do lixo e pedir um prato de comida, que deslizaria até à caixa de pagamento em cima de um tabuleiro ainda molhado. Desta vez, entrei pela porta principal. A sala estava a meia luz, cheia de luzinhas no tecto, com pessoas que conversavam e muitos empregados bem vestidos, que serviam pratos requintados, com nomes como "creme de lavagante", "confitado de pato em aromáticos e molho de frutos silvestres" e "pirâmide de chocolate".
Independentemente do sítio e do requinte da refeição, aquele seria um jantar normal de equipa, numa gala para a qual apenas fomos "convidados" para trabalhar. Mas não foi um jantar normal.
Apenas à distância de uma mesa, ao meu lado jantavam Bernardo Bertolucci, Paul Auster, J.M. Coetzee, Catherine Deneuve e Louis Garrel.
E eu voltei a um hábito antigo: absorvi cada momento daquela companhia para me poder lembrar durante muito tempo dos meus companheiros de refeição daquela noite.

Eu sabia que esta experiência de trabalhar no Estoril Film Festival ainda ia trazer alguma coisa de bom!

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Vicky Cristina Barcelona

Ontem, no Estoril Film Festival, infiltrámo-nos na sala escura do Casino para ver o novo do Woody Allen, que tem o belo nome que ali está em cima. Vicky (a linda Rebecca Hall, injustamente deixada de fora do cartaz) e Cristina (a arrebatadora Scarlett Johansson) são duas amigas que vão passar umas férias de Verão a Barcelona. Pelo meio, conhecem Juan Antonio, um pintor muito cativante (basta dizer que é o Javier Bardem...), e a sua louca ex-mulher Maria Elena (Penélope Cruz, a musa latina).
Além de provocar gargalhadas constantes (sempre é um Woody Allen), este filme conta uma história aparentemente surreal, mas que se revela muito realista. Eu explico. É que a verdade é que estas amigas têm um Verão intenso, cheio de acontecimentos explosivos, daqueles que parece que vão mudar as suas vidas. Mas, afinal, nada muda.
A maior parte das vezes é assim: vivemos as maiores aventuras, mas não passam de aventuras. No fim do Verão, metemo-nos num avião de volta a casa, e a nossa vidinha rotineira aí está, intocável, de braços abertos para nos receber. E nós, enfim, que havemos de fazer, no fim de contas não mudámos nada, as nossas loucuras não nos fizeram crescer nem encontrar novos rumos. Seguimos em frente e atiramo-nos aos braços da nossa vida, já que não temos mais nenhuma.

Mas sobre isto há quem saiba falar melhor que eu.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

A porta

Estou fechada, tudo escuro à volta, quase negro. Apenas umas luzes vagas, que de vez em quando entram, mas saem sempre. Não que seja a vontade dessas luzes deixar-me na escuridão, mas têm mais sítios para iluminar e acabam mesmo por me deixar. Sozinha.

Mas, de repente... um som, muito leve. Entra pelos meus ouvidos dentro, quase sem tocar na pele, e instala-se suavemente nos tímpanos. É mesmo um som. Concentro-me, tento associar o som a qualquer coisa, um objecto, um movimento. Sinto um arrepio nos braços e percebo: é a porta que range.

Depois, lembro-me dos olhos que tenho. Levanto então a cabeça das mãos. As mãos, que o sangue que fugiu deixou brancas, têm os dedos doridos. A testa está cheia de vincos, vestígios dos cabelos que a pressionaram. Penso: fiquei com a cabeça entre as mãos demasiado tempo.

Dirijo finalmente o olhar para o som. Para a porta, que o som não se vê. Porque estará a ranger? Porque está a abrir, claro. Que outra razão há para uma porta ranger? Semicerro um pouco os olhos, já demasiado amigos da escuridão, e vejo a porta abrir devagarinho. Do outro lado, um fio de luz.

Levanto-me. Ando em direcção à porta, muito devagar. Tão devagar, que penso que é das pernas trémulas, há muito desabituadas de andar. Mas não. É medo. Aproximo-me e estendo a mão, mas não me atrevo a tocar na madeira. Ponho então os olhos fora da porta e espreito.

Parece mesmo uma luz. Lá ao fundo, no fim do corredor. Será que consigo chegar?

Para mais tarde recordar


Chocolates e Amigas


Tenho um ex-namorado que percebe imenso de mulheres.

Disse ele: "Com chocolates e boas amigas, tudo se resolve".

A sabedoria popular sempre foi a mais certa.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Colo

Acordei e queria gritar, zangar-me, barafustar e ter razão.

A seguir quis chorar, encostar-me ao ombro de alguém e sentir pena de mim própria.

Entretanto, tive vontade de rir, caramba, tudo passa e qualquer dia já ninguém se lembra.

Depois, fiquei triste, não pelo que foi, mas pelo que poderia ter sido, afinal nem era difícil, como em tudo, bastava vontade.

Agora, quero abraçar-te, dar-te um beijo na testa, passar-te a mão pela cabeça e pousá-la no meu colo.

Mas acabo por apenas respirar fundo e pensar: ser mulher cansa.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Actos e Consequências

Ontem, no Saramago, encontrei esta verdade:

"(…) se antes de cada acto nosso nos puséssemos a prever todas as consequências dele, a pensar nelas a sério, primeiro as imediatas, depois as prováveis, depois as possíveis, depois as imagináveis, não chegaríamos sequer a mover-nos de onde o primeiro pensamento nos tivesse feito parar."

in Ensaio sobre a Cegueira

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Pára-raios


Diz a minha Gema que eu pareço um pára-raios. Só atraio trovoada.

Mas, meu amor, depois da tempestade... Não é o que dizem?

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E essa bonança? Vem ou não vem?

Joan as Sexy Woman

Podia dizer que a Joan as Police Woman e a sua pequena banda de dois elementos encheram o Olga Cadaval, do chão ao tecto (que é bem alto).
Podia dizer que ela tornou o concerto num encontro íntimo de uma forma surpreendentemente original.
Podia dizer que ela tem um sentido de humor estranho, mas engraçado.
Podia dizer que os seus gritinhos adolescentes nos fizeram sempre rir.
Podia dizer que o baterista tem uma voz linda, forte e masculina, apesar do aspecto de formiga.
Podia dizer que o baixista tem um cabelo muito esquisito, mas uma presença amigável, sentado nas escadas do palco a tocar às escuras.
Podia dizer que ela tem uma voz que levanta os pêlos dos braços, daquelas que parece que vai mesmo falhar, mas nunca falha.
Podia dizer que ela interpreta as suas lindas canções de uma tal maneira que conseguiu pôr-me a chorar (com o Feed the Light).
Podia dizer que o melhor foi ser ela a vender as t-shirts e os cds no final.

Mas não. Vou dizer apenas que Joan Wasser deu uma lição. Mostrou como uma mulher vestida com uma roupa cor de tijolo estranhíssima, meias roxas, botas saídas do Star Trek e o cabelo completamente despenteado pode ser incrivelmente sensual.

(Só faltou esta...)

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Reacção retardada


Ontem ouvi na CNN alguém dizer: "Barack Obama cumpriu o sonho de Martin Luther King".

Isto não é verdade e é por isso que estas eleições americanas são históricas e tão tocantes. É que quem cumpriu o sonho de Luther King foram os cidadãos americanos. Foram eles que elegeram um afro-americano para o cargo de maior poder nos EUA... e no mundo. Surpreendentemente (ou não, conforme se seja pró ou anti americano), o factor racial parece ter contado pouco na hora de votar, excepto para os próprios eleitores afro-americanos, dos quais mais de 90% escolheram Obama. Mas este candidato foi também a escolha da maioria dos brancos. Só não foi, como seria de esperar, nos maiores de 65.

Quer isto dizer que é possível um afro-americano chegar a presidente dos EUA pelas ideias que defende e, principalmente, neste caso, por aquilo que representa - a mudança, a esperança, o crescimento. Melhor que isto só quando não se falar do facto de um candidato ser preto, branco, mulher ou homem. Mas, por enquanto, já é bom Barack Obama ter conseguido apresentar-se de forma tão credível que ganhou.

Por muitas asneiras que os americanos façam, é nisto que eles são melhores que nós. É que lá é mesmo possível. Quando alguém quer muito uma coisa, quando trabalha para isso, quando consegue provar que tem mérito (seja de que cor for, seja filho de quem for), é possível. Yes, they can. Estas eleições foram mais uma prova de que os americanos são capazes das piores e das melhores coisas do mundo. E que nós, aqui no nosso cantinho, às vezes tão presunçosos, temos muito que aprender...

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Mãos frias

Tenho as mãos frias.

Nunca me largam, estas mãos. E, quando chega o Inverno, ficam ainda mais frias, geladas, às vezes quase de um roxo de mortas. Sei que estão vivas. Sinto o sangue passar, frio e lento como um cubo de gelo pelas costas.
Sei bem que estão vivas. Sei principalmente nos fins de tarde de segunda, quarta e quinta, quando as ponho a dançar. Conto um segredo muito secreto do ballet: os pés em pontas impressionam, mas são as mãos que comandam. São elas que têm o poder de transpôr o limiar entre o quase inacreditável equilíbrio e a mais aparatosa queda. É nelas que está a diferença entre a boa técnica e a arte. Esta nasce lá dentro, numa alma dentro da alma, um estômago mais fundo dentro do corpo, corre pelas veias, tão rápido que parece um espasmo, e só pára na ponta dos dedos. E é da ponta dos dedos que sai para quem vê dançar (nem que seja a própria bailarina no espelho) aquela onda invisível de emoção que faz arrepiar os braços.
Nestes fins de tarde, luto ferozmente com os pés, esforço as pernas para além dos limites, dobro as costas mais do que elas podem, às mãos... sussurro. Murmuro-lhes "aqueçam, aqueçam, aqueçam". No fim, às vezes, consigo que fiquem quentes. Mas depois...
Depois saio para a rua e passo a noite inteira e o dia inteiro de mãos frias, como agora.

Amor

"A Pilar, que não deixou que eu morresse."

Parece que é esta a dedicatória do novo livro do Saramago, A Viagem do Elefante.

Será que amar afinal não é morrer por alguém mas salvar alguém da morte? Roubar alguém da morte?
Será que a morte tem o coração mole e largou a mão do Saramago ao ver o amor da Pilar?
Será que o Saramago olhou a morte nos olhos e lhe disse "vai-te embora" para não ter de entrar numa vida eterna sem a Pilar?
Será que o amor pode afinal conquistar tudo, derrotar tudo, vencer tudo?
Ou será que sou eu que sou uma tonta romântica?

domingo, 2 de novembro de 2008

Dúvida

Acabo de ver o anúncio ao DVD do Sex and the City - The Movie e tenho uma dúvida. No final, a senhora diz:

- Sexo e a Cidade: a prenda que a sua mulher vai gostar

ou

- Sexo e a Cidade: aprenda, que a sua mulher vai gostar

?

Infinito Particular

Lembram-se desta? Quando a Marisa Monte definiu a complexidade humana em duas palavras?
Fica a música e o poema, de Arnaldo Antunes, Marisa Monte e Carlinhos Brown.




Eis o melhor e o pior de mim
O meu termômetro, o meu quilate
Vem, cara, me retrate
Não é impossível
Eu não sou difícil de ler
Faça sua parte
Eu sou daqui, eu não sou de Marte
Vem, cara, me repara
Não vê, tá na cara, sou porta bandeira de mim
Só não se perca ao entrar
No meu infinito particular
Em alguns instantes
Sou pequenina e também gigante
Vem, cara, se declara
O mundo é portátil
Pra quem não tem nada a esconder
Olha minha cara
É só mistério, não tem segredo
Vem cá, não tenha medo
A água é potável
Daqui você pode beber
Só não se perca ao entrar
No meu infinito particular


É isso mesmo.

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Sabia que...

...a comunidade portuguesa de Toronto tem um programa de rádio chamado Chin Radio?

Alguém o viu?

Avenue of poplars in Autumn, Vincent Van Gogh


Encolho-me dentro da roupa. Sinto-me febril, mas sei que não tenho febre. Às vezes tremo. Não sei se de frio, se de medo do inesperado, do demasiado rápido.
A luz cinzenta, a chuva, o vento, mas principalmente o frio - chegou o Inverno. Tão depressa...
Gosto das coisas no seu lugar. Gosto de rotinas, gosto de saber o que me espera no dia seguinte.
Mas já nada é como devia ser. Tenho de fechar os olhos para vê-lo: sob um sol ainda morno, as árvores mostram, no seu lento despir, como a natureza consegue ser sensual. E são como mulheres: é quando estão nuas que são mais bonitas. Ou, pelo menos, mais verdadeiras.
Alguém deu pelo Outono passar? Alguém notou a terra ficar vermelha e dourada? Nós próprios aceleramos as estações. Ainda não acabou Outubro e já o Natal está por toda a parte, nos centros comerciais, nas cabeças aflitas dos pais, nas mãos ansiosas das crianças.
Pobre S. Martinho, o mais injustiçado dos santos. Demos-lhe um dia e agora esquecemo-nos dele. Gostava de me sentar num banco de jardim, com os pés deliciados sobre as folhas secas, a comer castanhas quentes, daquelas que queimam a boca e deixam as mãos sujas. Mas não posso. O Inverno não me deu tempo.

Obrigada, Van Gogh, por tantas vezes teres pintado o Outono. Daqui a uns anos, já com a memória tão indefinida como as pinceladas dessas imagens, vamos olhar para elas e perguntar: "lembras-te"?

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Ah! Outra coisa.

Esta noite sonhei que tinha havido um incêndio no El Corte Inglés. A cidade entrou em pânico, parecia Nova Iorque no 11 de Setembro. Os lisboetas todos aos gritos, a correr de um lado para o outro, a telefonar a saber dos familiares, enfim, uma balbúrdia completamente inusitada. Eu estava em casa da minha avó, que recebia e ajudava vítimas com sangue a escorrer por toda a parte. O estranho é que a catástrofe se passou na António Augusto Aguiar e a minha avó mora na Pontinha.

Mas o que é isto? Alguém me explica?

Só penso em ti


Neste dia tão cinzento, tão escuro que nem se vê a chuva a cair, não consigo tirar-te da cabeça. Ai sofá, sofá... onde estás quando preciso de ti?

terça-feira, 28 de outubro de 2008

De repente...

...alguém pega num livro e diz: "Já tenho este. Alguém quer?" A minha mãozinha ávida levanta-se rapidamente: "eu, eu!".

Não foi difícil. É que eu sou a mais nova e há muita coisa que não tenho, que os outros já têm em duas ou três edições diferentes. Esta noite, levo mais um livro para casa. Diz na capa: Italo Calvino, As Cidades Invisíveis, Uma das obras-primas da literatura do século XX.

É por estas e por outras que eu cá vou aguentando não ver um salário no bolso ao fim do mês. O JL é tramado.

domingo, 26 de outubro de 2008

Atrasem os relógios

Há poucas horas, estava eu no bar de todos os sábados, levantei-me para ir ao balcão buscar bebidas e, ao voltar para a mesa, um jovenzinho magricela de óculos graduados e muitas borbulhas na cara olha para mim e diz "És mêmo feia!". Assim: curto e grosso. Pouco passava das duas da manhã.
Mais tarde, o mesmo magricela, feio e bêbedo, quase caiu para cima de umas miúdas e estatelou-se no chão. E tão depressa caiu, como depressa veio um rapaz do bar agarrá-lo pelo braço fininho e empurrá-lo sem esforço para a rua. "És mesmo otário!", pensei eu. Pouco passava das duas da manhã.

A vingança é assim: dura e impiedosa. E esta noite ela chegou precisamente à hora marcada.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Elogio

Eu sei, eu também me assusto de cada vez que passo na Praça de Espanha e leio "Teatro de Pesquisa" na parede do Comuna. Parece um aviso: "beware, intelectuais em trabalhos". Dá um bocadinho de medo.

Na verdade, só fui ao Comuna às festas (as mais divertidas da cidade, quando a companhia é boa e o Joaquim Horta põe música). Não sou habitué de teatro e nunca vi nenhuma peça neste palco, mas isso pode mudar em breve.

É que ontem falei ao telefone com o João Tempera (aquele da sombra), que é actor residente do Comuna e o responsável por muito do que por lá acontece. Foram 5 minutos da mais pura simpatia e disponibilidade. 5 minutos apenas, que chegaram para dizer "se quiseres ir ver a peça, é só dares-me um toque, arranjo-te um bilhete. ou dois, se tiveres companhia".

Fiquei com vontade, claro. O homem representa, escreve, canta, lê e é simpático (e ainda outras coisas que me escuso a referir...). Assim dá gosto trabalhar.

A peça é "Homem Sem Rumo", espreitem aqui.

E porque não ir ver? Se é com o João Tempera, o "teatro de pesquisa" não pode ser assim tão negro...

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Um livro bom (parte II)

Este post estava prometido há muito tempo. Se não surgiu até agora, é porque me é muito difícil escrever sobre este livro. Escreveram-se textos longos e muito bem pensados sobre ele. Eu, na minha modesta condição de jovem leitora, não vou conseguir dizer dele nada que se aproveite. Mas promessas são promessas.

Um colega meu definiu os livros deste autor em três palavras: "o suspense contínuo". Tem razão.

No meio do Alentejo, inventou a Quinta do Tempo. Lá dentro, António Augusto Millhouse, um homem intrigante, que tem uma ocupação tudo menos normal. O narrador, um jovem angustiado que passa os dias a tentar descobrir o que a vida quer dele, deixa-se levar até este misterioso sítio. Depois, há a Camila e os seus dois irmãos: Gustavo, amante do álcool, e Nina, a mais pequena, ainda amante de coisa nenhuma. Camila é fascinada por funambulismo e sabe que quer passar a vida equilibrada numa corda.

Diz-se desta história que é sobre memórias, o passado que nunca nos deixa o presente tranquilo. Mas é também sobre buscas. A eterna procura de felicidade, que às vezes vemos tomar forma em certos lugares e pessoas. Quando lá chegamos, percebemos que não era nada daquilo, que estamos mais infelizes do que antes. É aí que chega a angústia, a amarra toda-poderosa que nos ata as mãos e os pés. É nesse frágil cordão que se tenta equilibrar o narrador; um sinuoso caminho que passa por Santiago do Cacém, Lisboa, Nova Iorque e Londres e, principalmente, por dentro de si próprio. Do outro lado do fio, está Camila, mais imaginária do que real. Mas o fim parece nunca chegar.

Quando lerem (porque, mais cedo ou mais tarde, vão ler), prestem atenção a cada personagem. Depois, respondam-me: quem vive, afinal, na corda-bamba?

Curioso...


http://www.iftheworldcouldvote.com/


Eu sempre achei que o mundo inteiro devia votar nas eleições americanas. Neste site, as votações não têm qualquer valor efectivo, mas dão que pensar...

No momento em que escrevo, já votaram 366,061 pessoas de 198 países. Barack Obama seria o eleito, com 87.5% dos votos. É o escolhido em todos os países, excepto na Macedónia (mas que seriedade tem um país com nome de salada?).

Isto não é nenhuma surpresa. O engraçado é que, a seguir aos EUA, o país com maior número de votantes é... Portugal. Proporcionalmente, acho que a abstenção nas nossas eleições é até bastante maior.

Poderia fazer aqui uma data de considerações sobre a ligação dos portugueses com a política internacional, a tecnologia, a Internet e o Magalhães, mas deixo só a informação. Vocês que pensem que agora não me apetece.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

1, 2, 3

4, 5, 6, 7, 8, 9, 10...



...20 000, 20 001, 20 002, 20 003...

...segundos. A saudade aperta. Quanto tempo falta?


Tori Amos canta Tom Waits, "Time"

domingo, 19 de outubro de 2008

Um samba sobre o infinito

http://www.trioguanabara.com/videos.php?l=pt (procurem "Para ver as meninas")

Conheci esta música há pouco dias, pela voz da minha prima, que podem ver a cantar aí com o Trio Guanabara. Chama-se "Para ver as meninas", é do Paulinho da Viola e foi gravada pela Marisa Monte. Mas eu gosto mais desta versão.

Hoje estou assim:

Silêncio por favor
Enquanto esqueço um pouco
a dor no peito
Não diga nada
sobre meus defeitos
Eu não me lembro mais
quem me deixou assim
Hoje eu quero apenas
Uma pausa de mil compassos
Para ver as meninas
E nada mais nos braços
Só este amor
assim descontraído
Quem sabe de tudo não fale
Quem não sabe nada se cale
Se for preciso eu repito
Porque hoje eu vou fazer
Ao meu jeito eu vou fazer
Um samba sobre o infinito

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

João e a Sombra


Tudo a ouvir João e a Sombra, a nova banda do nosso querido Rui Berton. Na voz, o querido de muitas, João Tempera.

A caixa

Encontrei a caixa num recanto esquecido do meu quarto. Devo tê-la escondido ali certamente para não a olhar todos os dias, para não me lembrar do tempo que ali está guardado dentro. Encontrei-a sem surpresa. Desfiz o laço de cetim azul, que a deixa encerrada no espaço de tempo em que não lhe toco, e abri a tampa. Sem pressas. Não fazendo qualquer esforço de memória que antecipasse o que ia encontrar. Lá dentro, um mar de bolinhas de esferovite cobria todos os tesouros daquele tempo. Mergulhei a mão e, uma a uma, fui tirando as memórias de um passado, que agora já consigo lembrar com o coração quente outra vez. Sem nós no estômago, ou pássaros a voar os largos corredores da imaginação.
Um jardim de flores feitas de palhinhas de plástico. Um postal com declarações de amor improvisadas de madrugada. Uma carta de jogo transformada em lembrete de futuro casamento. (...) Tantas coisas que fazem parte do que nós fomos.
Fechei a caixa, tornei a fazer o laço de cetim azul e não consegui tirar o sorriso da cara. Foi bom olhar para tudo aquilo assim pela primeira vez. Serena. Feliz. Remexer a caixa foi ter a certeza de que, agora sim, já está tudo bem.
Guardei-a no mesmo sítio de sempre, assim como te vou guardar para sempre em mim.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Demasiado tempo em casa

Olho agora para as pessoas que falam com os animais e julgam saber exactamente o que eles lhes querem dizer de uma maneira completamente diferente. Nestes dias tenho passado mais tempo com o meu cão e o meu gato do que com qualquer outro ser vivo e hoje, pela primeira vez, percebi o que se passa nas mentes destas criaturas que habitam a minha casa.

Eu estava no escritório, sentada a jogar Tetris (não me julguem assim sem mais nem menos, por favor!) depois de almoço. Afonso (o cão) veio deitar-se no sofá ao meu lado e estava com o olhar triste e vago, que todos os cães dominam e usam quando não querem que os donos os repreendam por estarem a usurpar o espaço que não é deles. E eis que entra Freddy (o gato). Vem no seu andar leve e gracioso. Pára à nossa frente, olha para mim e para o cão durante uns segundos. dá meia volta e desaparece, tão calmo e cheio de si como quando chegou.
Afonso pousou a cabeça e adormeceu, eu tirei o Tetris do pause e continuei a encaixar as peças.
Passado algum tempo, olhei, por mero acaso, para a porta do escritório e lá bem ao fundo no corredor, mas suficientemente perto para poder alcançar no campo de visão a molenguice de início de tarde no escritório, estava o gato, de olhar fixo em nós, sem mexer um músculo. Quando os nossos olhos se cruzaram, Freddy levantou-se e desapareceu, lento e ameaçador, como quem sai para elaborar um plano maquiavélico de vingança.
No resto do dia, não nos voltámos a cruzar com o gato, mas hoje vou dormir com a porta do quarto fechada e amanhã não fico em casa sozinha, de certeza.

Lisboa, Lisboa

Hoje li no Público que a Lonely Planet pôs Lisboa em primeiro lugar no top de cidades a visitar em 2009, no guia Best Travel. Não sou uma pessoa especialmente patriótica (como, aliás, poderão constatar mais à frente neste post), mas estas coisas fazem-me sempre sorrir de orgulho. Sim, ao contrário do que pensa o resto do país, os lisboetas têm sentimento de pertença. Lisboa é a nossa terra. Até mesmo para mim, que moro nos subúrbios.

Sabem quando gosto mais de Lisboa? É em Agosto. Porque os portugueses estão todos no Algarve e na capital só ficam alguns resistentes e os turistas. Gosto de ver pessoas de muitas cores, de várias alturas e belezas (menos as suecas muito altas e muito giras), de ouvir línguas diferentes. Mas o que sabe mesmo bem, não querendo ferir susceptibilidades, é tirar umas férias dos tugas (não dos portugueses, mas dos tugas).

Pronto, pronto, não gritem. Acompanhem-me:

- Ontem, no metro. Estou sentadinha no meu canto e tenho de fazer uma péssima figura. O livro numa mão e a outra a tapar o ouvido. Ao meu lado, um jovem com o MP3 aos berros. Mudo para o comboio no Cais do Sodré. Atrás de mim, dois rapazes falam muito alto e dizem palavrões como se fossem palavras. Tudo muito alto. No autocarro, como é habitual, alguém tenta passar à frente. Não sei se é mais enervante a velha que fura a fila ou a que fica lá atrás a resmungar "falam da juventude, mas depois ainda fazem pior".

- Hoje, de novo no comboio. Duas senhoras falam muito alto sobre doenças e de como a vida é horrível, "já viu, com isto se perde uma manhã" (e uma manhã ganha é o quê? ver o Goucha enquanto se faz o almoço?). Na paragem do autocarro, em Paço de Arcos, um jovem, daqueles que os deve ter enormes porque tem de andar com as pernas muito abertas, gel no cabelo e pele de quem usa mais perfumes da Zara do que água, assobia e assusta um cão. O cão ladra e ele, claro, assobia outra vez. E outra vez. E outra vez. Ri-se muito e abraça a namorada cheia de fast food na barriga e madeixas loiras no cabelo castanho escuro.

Percebem? De vez em quando é preciso férias. Por isso, turistas, sigam os conselhos da Lonely Planet e venham para Lisboa. E vocês, tugas, vão para Albufeira, vão.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Honey, I'm home!!!

Cheguei há precisamente duas semanas e olhar para este blog dá-me um nervoso miudinho na ponta dos dedos. Tenho estado paralisada e não consigo escrever nada, não consigo contar-vos como foi a minha vida estes dois meses e meio. Estou num estado de letargia consciente e a única coisa que consigo fazer é jogar a porcaria do Tetris que comprei nos chineses por 1,5€. Tem 9999 jogos, o que é que querem???

Mas, para não dizerem que o meu regresso foi uma coisa muito xururu, aqui fica finalmente a desmistificação de uma palavra que nos atormenta há demasiado tempo. Para ti, Martinha!


LADEIRA s.f. 1 inclinação de terreno de grau variável 2 rua ou caminho íngreme; calçada 3 encosta de montanha por onde escorrem as águas pluviais; vertente
(in Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa)


Mais tarde escrevo qualquer coisa decente, prometo!

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Samson

Não é uma coisa nova, mas os vícios não ligam nenhuma aos valores-notícia. Não consigo largar esta, por Miss Regina Spektor.



...told me that my hair was red... la la la

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

This is so great i had to share it with you


Ontem reencontrei-me com o explodingdog.com, que visitava muito na adolescência.

Enviem frases que o Sam faz os desenhos. Fica aí o link. É tão giro.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Um livro bom



Não é que não goste do que faço. Mas o que eu queria mesmo era ir para casa ler. Nem é preciso ser em casa, pode ser noutro sítio qualquer, num café, num jardim, na praia, no banco do metro.

É que nas mãos tenho um livro muito bom. E quando um livro é mesmo bom assim, é difícil desligar a vontade de ler mais um bocadinho, só mais um capítulo, só mais uma frase até adormecer de luz acesa. A ânsia de acabar é imensa, mas também não queremos que acabe.

Eu devia poder ficar só a lê-lo o dia inteiro e a noite inteira. Porque o livro é mesmo bom. E porque me faz sentir-te sempre perto.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Like a good book I can't put this day back

Nunca me tinha cruzado com este vídeo, embora conheça a música de cor. Mas para coisas bonitas vai-se sempre a tempo.

Tori Amos - A sorta fairytale
(com Adrien Brody)

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Para sempre

O amor é incondicional. Existe apesar de, para além de, mesmo que. Façam-se todas as asneiras do mundo e ele não desaparece. Porque há sempre alguma coisa que compensa.

Não dá para nos livrarmos daquilo que está colado a nós, mais, dentro de nós. Aquilo que engolimos há anos, no início da vida às vezes, e ficou para sempre alojado no estômago. O que amamos não se dissolve.

Queria descrever e elogiar o objecto do meu amor, mas não conheço as palavras certas. É muito grande.

Feliz Dia Mundial da Música.

Feliz

Feliz, feliz, feliz, feliz, feliz.

Muito.

Ainda bem que voltaram. Tu, que foste embora dos meus olhos. Tu, que foste embora para longe do que éramos.

Nunca mais se vão embora. Ouviram? Gosto tanto de vocês.

Já vos disse? Estou muito feliz.

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Cristaliza-te...

Tenho uma frase nos olhos há alguns dias. Li-a numa pintura de Eurico Gonçalves (de quem nunca tinha ouvido falar). É assim:

"Solidifica-te, dissolve-te, funde-te, cristaliza-te, e depois vem-me falar ao ouvido"

Escrevi-a em toda a parte menos aqui. Uma fotografia que vi num blog fez-me lembrar disso (as coincidências são as melhores coisas da vida... ou, pelo menos, as mais interessantes).

Gosto especialmente de "cristaliza-te". Porque cansam as palavras que adivinhamos mentirosas. Mesmo que pensemos que quem nos murmura finalmente se cristalizou e se tornou transparente, lá no fundo, sabemos sempre que essa pessoa não é mais que uma pedra escura. Até que, finalmente, conseguimos dizer-lhe "evapora-te".

Para o próximo que há-de chegar (porque, por muito que doa, nunca deixamos de acreditar que há um próximo):

"cristaliza-te... e depois, vem-me falar ao ouvido".

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Mas, voltando atrás...

Mais um vídeo para vos animar, queridos dois leitores deste blog.

Palavras-chave: Porque, não, ?




Para mais informação: http://www.michaelpalinforpresident.com/

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

A minha Bíblia é melhor que a tua


Ando a escrever sobre os Pontos Negros (aquela banda que conta que o rapaz se curvou aos pés da menina). Para quem não sabe, os rapazes são muito ligados a uma editora chamada FlorCaveira, que por sua vez é muito ligada à Igreja Baptista. As minhas investigações pela Internet levaram-me ao blog do Tiago Guillul, que é o mentor da FlorCaveira. À minha espera estava o seguinte:

O slogan "Guns, Babies, Jesus" parece-me perfeito embora reconheça que com as guns ainda não me sinto completamente à vontade.

Mais à frente ele diz que "naturalmente" simpatiza com a senhora Palin, candidata à vice-presidência de John McCain e autora do slogan.

Ao Tiago e à senhora Palin, e visto que tudo isto me deixa parca em palavras, de tão atónita, gostaria apenas de responder com uma pergunta:

Vocês leram a mesma Bíblia que eu?



PS.: Digo "gostaria", porque não lhes posso transmitir de facto a minha pergunta. À senhora Palin, por razões óbvias, ao Tiago Guillul porque ele não permite comentários no blog. Indício?