domingo, 30 de novembro de 2008

Melancolia ou depressão?



Hoje vi o Magnolia pela primeira vez. Ouvi lá muitas coisas interessantes, incluindo esta:

"I confuse melancholy with depression sometimes."

Isto não é uma depressão. É só uma fase Aimee Mann. It's not going to stop 'til you wise up. No, it's not going to stop.

So just... give up?

Não me parece.

sábado, 29 de novembro de 2008

Crise do quarto de idade


Será que algum dia me vou conseguir definir de forma simples e clara? É que, por enquanto, aquilo que eu sou é uma grande indefinição. Ora vejamos:

- Não sou de Leiria, nem de Lisboa;
- Não estou empregada, nem desempregada;
- Não vivo com os meus pais, mas também não sou independente, nem emancipada;
- Não trabalho em informação, nem em entretenimento;
- Não sou jornalista, nem guionista;
- Não sou puritana, mas também não sou nenhuma louca devassa;
- Não acredito em Deus, mas tenho a minha "fé";
- Gosto de cinema independente, mas não tenho paciência para o Schroeter;
- Sou muito activa e muito dinâmica, mas estou há dois dias fechada em casa;
- Gosto de sair, mas só se não estiver a chover;
- Sou optimista, mas com tendência para a melancolia;
- (...)

Ao menos a minha identidade sexual não está em crise. Isso sim, seria o fim!
Who the fuck am I???

Alguém me explica?

Eu já percebi que há manifestações e greves que têm a ver com a avaliação, já percebi que os professores querem que a ministra se demita. Só ainda não percebi porquê.

Sem qualquer ironia ou crítica implícita (a qualquer uma das partes), alguém me explica afinal o que anda este ministério a fazer de tão tenebroso?

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

A Crise

Hoje deparei-me com um anúncio inacreditável no cargadetrabalhos.net. Antes de mais, o copy paste:

estágio em jornalismo

Faculta-se estágio subsidiado a recém-licenciado em jornalismo com boa média final de curso na Universidade de Lisboa.

Se não preenche este requisito não responda p.f.


Para quem não sabe, estes senhores nunca conseguirão encontrar ninguém que preencha este requisito. Porquê?

É muito simples. Porque não existe nenhuma licenciatura em Jornalismo na Universidade de Lisboa. Na verdade, nem sequer existe nenhuma licenciatura em Comunicação Social. Em Lisboa, podemos licenciar-nos em Comunicação Social na Universidade Católica e em Ciências da Comunicação na Universidade Nova. Licenciatura em Jornalismo, só mesmo na ESCS (onde o vosso querido Ovo estudou). É claro que basta ir aos sites das respectivas universidades e ler a lista de disciplinas para perceber que são cursos muito diferentes uns dos outros e, como tal, que os seus alunos serão profissionais bem diferentes uns dos outros. Mas já nem me passa pela cabeça que as empresas se dêem a esse duro trabalho de escolher o que é mais adequado para os seus quadros...

Que raio de mercado de trabalho é este que nem sequer conhece as escolas onde se formam os seus futuros profissionais? Que empresas são estas que não têm o mínimo pudor em fazer exigências que nem sequer são realistas?

São estas coisas, estes pormenores aparentemente insignificantes, que fazem do nosso pequeno país o que ele é: um pequeno país.

"Now I spend my time just making rhymes of yesterday"



"Olá, eu sou a Rita e a música que ouço em repeat é a One, da Aimee Mann."
Se o Pedro (Moreira Dias) me perguntasse isto hoje, não hesitaria nem um segundo a responder.

De molho

Chuva na janela, dores na garganta, manta no joelho, Sex and the City na televisão. Hoje estou de molho, em casa.

Até poderia ser bom, mas sozinha é uma grande chatice. Não tenho com quem e rir e concordar com as coisas que diz a Carrie.

Hey! Tu! Não queres pegar nessa chávena de chá quente e sentar-te aqui ao meu lado?

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Um presente para ti, minha Clara


Sempre que o vento teimar em entrar para dentro da tua camisola e te desalinhar o cabelo, olha para esta carinha, com o sol lá atrás, e sorri!
Os bons dias vêm aí outra vez *

A pior das condições atmosféricas

A frase que digo mais vezes no Inverno (a seguir a "tenho as mãos frias") é de certeza "odeio vento".

É que odeio mesmo. Além de pôr cabelo por todo o lado, inclusive à frente dos olhos, é este vento estúpido que torna o nosso frio mais insuportável. Entra por dentro dos casacos, atravessa as camisolas, infiltra-se na pele e instala-se teimosamente nos ossos. Tentamos de tudo para o expulsar de lá, mas é impossível. Incontrolável, ali fica, até que chegue o Verão.

E a dor? Faz tremer os dentes, deixa-nos paralisados, magoa os músculos, deixa os lábios secos e lágrimas nos olhos. Queremos ser mais fortes, mas a maior parte das vezes não conseguimos construir aquela carapaça que nos permite ser resistentes e superiores.

De que é que eu estou a falar, afinal?

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Náusea

São coisas destas que me dão a volta ao estômago.

Hoje, no Público:

Detidos dez suspeitos de ataques a jovens afegãs, num país onde é difícil estudar
26.11.2008, Sofia Cerqueira

As autoridades afegãs anunciaram ontem a detenção de dez homens, suspeitos do ataques com ácido a um grupo de jovens estudantes há duas semanas no Sul do Afeganistão. Segundo a agência AFP, os homens detidos na semana passada são afegãos e actuavam sob as ordens dos taliban, em troca de 100 mil rupias (1000 euros) cada um.Os relatos do ataque, que teve lugar em Kandahar a 12 de Novembro, contavam que dois homens numa moto se tinham aproximado de um grupo de raparigas - alunas e professoras a caminho da escola - e lhes tinham atirado com o que se veio a descobrir ser ácido de baterias. Duas das raparigas tiveram de ser hospitalizadas e uma, apesar de provavelmente não voltar a ver, prometeu que regressaria à escola, a qualquer custo.Apesar de um porta-voz dos taliban ter repudiado o ataque, em declarações à AFP, o ministro adjunto do Interior, Mohammad Daud, revelou ontem que os dez detidos "recebiam ordens [dos taliban] do outro lado da fronteira [no Paquistão], daqueles que conduzem os ataques terroristas em Kandahar", o último reduto dos islamistas. Daud acrescentou ainda que alguns confessaram o crime.Os ataques com ácido não são comuns no Afeganistão, mas a violência contra as mulheres não é novidade. À medida que recuperam o poder militar perdido após o derrube do regime taliban, os extremistas islâmicos atacam as estruturas do Governo contra o qual lutam e reagem às (parcas) liberdades recém-conquistadas pelo sexo feminino.As escolas são dos principais alvos. Só este ano, 115 foram atacadas e 120 funcionários do sector foram mortos, diz o porta-voz do Ministério da Educação afegão, Hamed Elmi.A educação foi um dos principais investimentos do Governo pós-taliban, que afirma ter colocado 6,2 milhões de crianças a estudar, seis vezes mais do que o número de alunos do regime extremista, no qual apenas estudavam rapazes. Apesar do esforço recente, a realidade não é homogénea e longe da capital, Cabul, a velha mentalidade persiste e as raparigas continuam a viver sob repressão.Apesar de não haver documentação exacta, estima-se que a violência sobre as mulheres esteja a aumentar, devido à crise económica e à falta de segurança. Najla Zewari, membro do Fundo de Desenvolvimento para as Mulheres da ONU (UNIFEM), conta ao Guardian que há cada vez mais jovens violadas, devido à falta de recursos económicos para pagar o dote exigido no casamento. Depois de violadas, ninguém quererá casar com estas jovens sem honra, que se vêem assim obrigadas a aceitar a mão do violador, explica Zewari.O relatório do UNIFEM de 2008 conta que no Afeganistão a taxa de literacia feminina está nos 15,8 por cento, metade da registada entre os homens. Em 29 por cento dos distritos escolares, não há escolas para raparigas e, se, no ensino primário, há uma rapariga por cada dois rapazes, no secundário o rácio passa para uma em cada três ou quatro rapazes. Dados de um débil progresso, em risco com a falta de estabilidade do país. "As ideias taliban são naturais entre as pessoas, principalmente quanto à visão das mulheres", explica Shukria Barakzai ao Guardian, deputada do Parlamento afegão, que recebe frequentemente ameaças de morte. Dos 249 membros da Assembleia, 68 são mulheres, mas, segundo a também deputada Shinkai Karokhail, apenas cinco defendem os seus direitos. Muitos comentam a aproximação de ex-guerreiros mujahedin ao Presidente Hamid Karzai. "Estamos muito preocupadas que, agora que o Governo está a falar com os taliban, os nossos direitos sejam comprometidos", defendeu Karokhail.

A dúvida


Ontem, a minha querida companheira de omeletes disse o seguinte:

"Tens de perceber que anda meio mundo a tentar comer o outro meio".

Depois de me rir muito, pus-me a pensar. Quando é que nos tornámos cínicas? Quando é que deixámos de acreditar em príncipes encantados, sonhos cor de rosa e finais felizes?

Não sei em que momento se deu essa viragem, nem sei qual foi o click que nos fez ver as coisas de maneira diferente (ou abrir os olhos?). Também não sei se isso é um reflexo de maturidade ou da crise económica.

É verdade que o cinismo é bem mais divertido e evita as dores agudas de que sofrem os românticos. Mas será que também não evita as suas alegrias? Não faço ideia. A minha experiência já deitou por terra muitas das minhas ideias encantadas, mas a minha inexperiência ainda não me deixa saber se isso é bom.

Por via das dúvidas, hoje pus uma flor ao peito.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Wook dá livros!

100% de desconto. Uma prendinha de Natal antecipada!

Já estou a salivar... e a aquecer os dedos para ser muito rápida.

Registem-se aqui!

40 anos do álbum branco

Eu não conheço este álbum. Aliás, dos Beatles não conheço discos, só músicas. E gosto de todas. Mas diz o Nuno Galopim que os 40 anos do White Album (título não oficial, já que a capa, toda branca, tem escrito apenas The Beatles) são "o" aniversário pop/rock do ano. E se ele diz, quem somos nós para contrariar... Foi lançado a 22 de Novembro de 1968 e era duplo, o que na altura equivalia a 4 lados de música.
Armada em grande egocêntrica, deixo aqui como pedacinho do disco uma linda canção chamada "Martha, my dear". Digam lá se não é tão bonita. A canção, claro.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Pecado mortal do dia: INVEJA

Uma tem uma casa nova, com um walking closet, um sotão e um homem com quem partir o varão da banheira.

Outra diz que lhe "vão arranjar o computador", o que terá como consequência uma data de coisas, todas elas deliciosas.

Adeus a todos. Esta noite um relâmpago virá direitinho dos céus e vai rachar-me a cabeça.

Gala de encerramento EFF2008 - o rescaldo

Um jantar delicioso. Uma entrega de prémios mal organizada. Um bom concerto dos Deolinda, mas com um volume demasiado baixo para a falta de interesse do público.

O melhor de tudo foi, sem surpresa, estar com os amigos e amigas do coração, de sorrisos sempre prontos na cara. Podia ser todos os dias.

Ah. E o saquinho de ofertas da L'Oreal.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Análise profunda

Werner Schroeter é um realizador alemão que veio a Portugal com o prognóstico de 48 horas de vida, mas já está vivinho da silva há bem mais de 72. Não sei se pela proximidade da morte, ou se por mau feitio de nascença, Werner Schroeter é das pessoas mais insuportáveis com quem podemos ter o azar de nos cruzar. É uma diva (no pior dos sentidos, claro), cheio de si próprio e sem a mínima tolerância pelos outros.
Eis a análise que o sr. alemão, nos momentos finais da sua vida, cheia de obras e de sentido, fez do povo português: "Vocês, os portugueses, perdem demasiado tempo a fazer amigos e a fazer amor... perdem demasiado tempo a ter sexo. Deviam aproveitar o vosso tempo no cinema, ou a ler livros."
Assim se explica a amargura de algumas pessoas que povoam o nosso mundo.

Gala de encerramento EFF2008


E lá vamos nós todas pirosas, pelo red carpet fora, vestidos novos e saltos altos, dar a Paul Auster, Catherine Deneuve e outros que tais o privilégio de jantar no mesmo espaço que nós.

Depois contamos como foi!

Minhocas de Biblioteca

E afinal esta é que é mesmo a expressão certa, os ratos não têm nada a ver com o assunto.

Visitem http://bookworms.sapo.pt/, uma espécie de Hi5 literário, onde podemos dizer aos outros o que lemos, saber o que eles lêem, aceitar e dar sugestões. Um site interactivo, útil e sobretudo muito fofo!

Eu e a Gema já somos minhocas! E vocês?

João e a Sombra II


Ora aí está o primeiro disco! João Tempera, Pedro Tempera, Francisco Santos, João Tubal e RUI BERTON apresentam um delicioso EP com sete canções para ouvir antes de adormecer.
E aí estão também os showcases nas Fnacs, a começar já no Chiado, dia 27. Lá estaremos!!

27 Nov 2008
18:00
Fnac - Armazéns do Chiado

18 Dez 2008
18:00
Fnac - Colombo

19 Dez 2008
21:00
Fnac - Forum Almada

16 Jan 2009
18:00
Fnac - Forum Coimbra
Coimbra

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Cinzento

Nem bem nem mal.
Nem feliz nem infeliz.
Nem deprimida nem eufórica.
Nem parada nem a correr.
Nem choro nem riso.
Nem sonho nem pesadelo.
Nem prosa nem poesia.
Nem samba nem bossa nova.
Nem preto nem branco.

Hoje, estou cinzenta.

Man in the light II

Olhem aqui tão bom: http://noticias.sapo.pt/noticias/videos/#nU3gVkhR2dwA6OVZ87CC

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Man in the light

Ele era o único iluminado. O público estava às escuras e escutava. Ele, Paul Auster, lia passagens do seu novo livro, Man in the dark. E foi uma delícia. Com a sua voz profunda, o escritor mais charmoso que conheço pôs todas as bocas (femininas) a dizer, no final: "ele podia era estar no meu sofá a ler para mim a noite inteira."

Isso é que era.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Infiltrada

Quando a casa de banho dos homens fica muito mais perto do que a casa de banho das mulheres e eu não tenho paciência para andar quilómetros na imensidão do Centro de Congressos do Estoril (e também não trouxe os patins em linha, como tinha pensado na primeira vez que aqui entrei), fico a saber que todos os urinóis têm uma mosca desenhada, para os meninos se divertirem a fazer pontaria.

E nós? Com o que é que nos entretêm? Só consigo lembrar-me das mensagens escritas nas portas das casas de banho. "Amu-te muinto prinxesa!"

Também quero a minha mosca!

Sparkling night

Sexta-feira passada, sentei-me para jantar depois de um dia de trabalho que parecia não ter fim. Desta vez não tinha de passar por um corredor estreitinho, esgueirando-me pelo intervalo dos caixotes do lixo e pedir um prato de comida, que deslizaria até à caixa de pagamento em cima de um tabuleiro ainda molhado. Desta vez, entrei pela porta principal. A sala estava a meia luz, cheia de luzinhas no tecto, com pessoas que conversavam e muitos empregados bem vestidos, que serviam pratos requintados, com nomes como "creme de lavagante", "confitado de pato em aromáticos e molho de frutos silvestres" e "pirâmide de chocolate".
Independentemente do sítio e do requinte da refeição, aquele seria um jantar normal de equipa, numa gala para a qual apenas fomos "convidados" para trabalhar. Mas não foi um jantar normal.
Apenas à distância de uma mesa, ao meu lado jantavam Bernardo Bertolucci, Paul Auster, J.M. Coetzee, Catherine Deneuve e Louis Garrel.
E eu voltei a um hábito antigo: absorvi cada momento daquela companhia para me poder lembrar durante muito tempo dos meus companheiros de refeição daquela noite.

Eu sabia que esta experiência de trabalhar no Estoril Film Festival ainda ia trazer alguma coisa de bom!

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Vicky Cristina Barcelona

Ontem, no Estoril Film Festival, infiltrámo-nos na sala escura do Casino para ver o novo do Woody Allen, que tem o belo nome que ali está em cima. Vicky (a linda Rebecca Hall, injustamente deixada de fora do cartaz) e Cristina (a arrebatadora Scarlett Johansson) são duas amigas que vão passar umas férias de Verão a Barcelona. Pelo meio, conhecem Juan Antonio, um pintor muito cativante (basta dizer que é o Javier Bardem...), e a sua louca ex-mulher Maria Elena (Penélope Cruz, a musa latina).
Além de provocar gargalhadas constantes (sempre é um Woody Allen), este filme conta uma história aparentemente surreal, mas que se revela muito realista. Eu explico. É que a verdade é que estas amigas têm um Verão intenso, cheio de acontecimentos explosivos, daqueles que parece que vão mudar as suas vidas. Mas, afinal, nada muda.
A maior parte das vezes é assim: vivemos as maiores aventuras, mas não passam de aventuras. No fim do Verão, metemo-nos num avião de volta a casa, e a nossa vidinha rotineira aí está, intocável, de braços abertos para nos receber. E nós, enfim, que havemos de fazer, no fim de contas não mudámos nada, as nossas loucuras não nos fizeram crescer nem encontrar novos rumos. Seguimos em frente e atiramo-nos aos braços da nossa vida, já que não temos mais nenhuma.

Mas sobre isto há quem saiba falar melhor que eu.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

A porta

Estou fechada, tudo escuro à volta, quase negro. Apenas umas luzes vagas, que de vez em quando entram, mas saem sempre. Não que seja a vontade dessas luzes deixar-me na escuridão, mas têm mais sítios para iluminar e acabam mesmo por me deixar. Sozinha.

Mas, de repente... um som, muito leve. Entra pelos meus ouvidos dentro, quase sem tocar na pele, e instala-se suavemente nos tímpanos. É mesmo um som. Concentro-me, tento associar o som a qualquer coisa, um objecto, um movimento. Sinto um arrepio nos braços e percebo: é a porta que range.

Depois, lembro-me dos olhos que tenho. Levanto então a cabeça das mãos. As mãos, que o sangue que fugiu deixou brancas, têm os dedos doridos. A testa está cheia de vincos, vestígios dos cabelos que a pressionaram. Penso: fiquei com a cabeça entre as mãos demasiado tempo.

Dirijo finalmente o olhar para o som. Para a porta, que o som não se vê. Porque estará a ranger? Porque está a abrir, claro. Que outra razão há para uma porta ranger? Semicerro um pouco os olhos, já demasiado amigos da escuridão, e vejo a porta abrir devagarinho. Do outro lado, um fio de luz.

Levanto-me. Ando em direcção à porta, muito devagar. Tão devagar, que penso que é das pernas trémulas, há muito desabituadas de andar. Mas não. É medo. Aproximo-me e estendo a mão, mas não me atrevo a tocar na madeira. Ponho então os olhos fora da porta e espreito.

Parece mesmo uma luz. Lá ao fundo, no fim do corredor. Será que consigo chegar?

Para mais tarde recordar


Chocolates e Amigas


Tenho um ex-namorado que percebe imenso de mulheres.

Disse ele: "Com chocolates e boas amigas, tudo se resolve".

A sabedoria popular sempre foi a mais certa.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Colo

Acordei e queria gritar, zangar-me, barafustar e ter razão.

A seguir quis chorar, encostar-me ao ombro de alguém e sentir pena de mim própria.

Entretanto, tive vontade de rir, caramba, tudo passa e qualquer dia já ninguém se lembra.

Depois, fiquei triste, não pelo que foi, mas pelo que poderia ter sido, afinal nem era difícil, como em tudo, bastava vontade.

Agora, quero abraçar-te, dar-te um beijo na testa, passar-te a mão pela cabeça e pousá-la no meu colo.

Mas acabo por apenas respirar fundo e pensar: ser mulher cansa.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Actos e Consequências

Ontem, no Saramago, encontrei esta verdade:

"(…) se antes de cada acto nosso nos puséssemos a prever todas as consequências dele, a pensar nelas a sério, primeiro as imediatas, depois as prováveis, depois as possíveis, depois as imagináveis, não chegaríamos sequer a mover-nos de onde o primeiro pensamento nos tivesse feito parar."

in Ensaio sobre a Cegueira

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Pára-raios


Diz a minha Gema que eu pareço um pára-raios. Só atraio trovoada.

Mas, meu amor, depois da tempestade... Não é o que dizem?

.
.
.
.
.
.
.

E essa bonança? Vem ou não vem?

Joan as Sexy Woman

Podia dizer que a Joan as Police Woman e a sua pequena banda de dois elementos encheram o Olga Cadaval, do chão ao tecto (que é bem alto).
Podia dizer que ela tornou o concerto num encontro íntimo de uma forma surpreendentemente original.
Podia dizer que ela tem um sentido de humor estranho, mas engraçado.
Podia dizer que os seus gritinhos adolescentes nos fizeram sempre rir.
Podia dizer que o baterista tem uma voz linda, forte e masculina, apesar do aspecto de formiga.
Podia dizer que o baixista tem um cabelo muito esquisito, mas uma presença amigável, sentado nas escadas do palco a tocar às escuras.
Podia dizer que ela tem uma voz que levanta os pêlos dos braços, daquelas que parece que vai mesmo falhar, mas nunca falha.
Podia dizer que ela interpreta as suas lindas canções de uma tal maneira que conseguiu pôr-me a chorar (com o Feed the Light).
Podia dizer que o melhor foi ser ela a vender as t-shirts e os cds no final.

Mas não. Vou dizer apenas que Joan Wasser deu uma lição. Mostrou como uma mulher vestida com uma roupa cor de tijolo estranhíssima, meias roxas, botas saídas do Star Trek e o cabelo completamente despenteado pode ser incrivelmente sensual.

(Só faltou esta...)

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Reacção retardada


Ontem ouvi na CNN alguém dizer: "Barack Obama cumpriu o sonho de Martin Luther King".

Isto não é verdade e é por isso que estas eleições americanas são históricas e tão tocantes. É que quem cumpriu o sonho de Luther King foram os cidadãos americanos. Foram eles que elegeram um afro-americano para o cargo de maior poder nos EUA... e no mundo. Surpreendentemente (ou não, conforme se seja pró ou anti americano), o factor racial parece ter contado pouco na hora de votar, excepto para os próprios eleitores afro-americanos, dos quais mais de 90% escolheram Obama. Mas este candidato foi também a escolha da maioria dos brancos. Só não foi, como seria de esperar, nos maiores de 65.

Quer isto dizer que é possível um afro-americano chegar a presidente dos EUA pelas ideias que defende e, principalmente, neste caso, por aquilo que representa - a mudança, a esperança, o crescimento. Melhor que isto só quando não se falar do facto de um candidato ser preto, branco, mulher ou homem. Mas, por enquanto, já é bom Barack Obama ter conseguido apresentar-se de forma tão credível que ganhou.

Por muitas asneiras que os americanos façam, é nisto que eles são melhores que nós. É que lá é mesmo possível. Quando alguém quer muito uma coisa, quando trabalha para isso, quando consegue provar que tem mérito (seja de que cor for, seja filho de quem for), é possível. Yes, they can. Estas eleições foram mais uma prova de que os americanos são capazes das piores e das melhores coisas do mundo. E que nós, aqui no nosso cantinho, às vezes tão presunçosos, temos muito que aprender...

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Mãos frias

Tenho as mãos frias.

Nunca me largam, estas mãos. E, quando chega o Inverno, ficam ainda mais frias, geladas, às vezes quase de um roxo de mortas. Sei que estão vivas. Sinto o sangue passar, frio e lento como um cubo de gelo pelas costas.
Sei bem que estão vivas. Sei principalmente nos fins de tarde de segunda, quarta e quinta, quando as ponho a dançar. Conto um segredo muito secreto do ballet: os pés em pontas impressionam, mas são as mãos que comandam. São elas que têm o poder de transpôr o limiar entre o quase inacreditável equilíbrio e a mais aparatosa queda. É nelas que está a diferença entre a boa técnica e a arte. Esta nasce lá dentro, numa alma dentro da alma, um estômago mais fundo dentro do corpo, corre pelas veias, tão rápido que parece um espasmo, e só pára na ponta dos dedos. E é da ponta dos dedos que sai para quem vê dançar (nem que seja a própria bailarina no espelho) aquela onda invisível de emoção que faz arrepiar os braços.
Nestes fins de tarde, luto ferozmente com os pés, esforço as pernas para além dos limites, dobro as costas mais do que elas podem, às mãos... sussurro. Murmuro-lhes "aqueçam, aqueçam, aqueçam". No fim, às vezes, consigo que fiquem quentes. Mas depois...
Depois saio para a rua e passo a noite inteira e o dia inteiro de mãos frias, como agora.

Amor

"A Pilar, que não deixou que eu morresse."

Parece que é esta a dedicatória do novo livro do Saramago, A Viagem do Elefante.

Será que amar afinal não é morrer por alguém mas salvar alguém da morte? Roubar alguém da morte?
Será que a morte tem o coração mole e largou a mão do Saramago ao ver o amor da Pilar?
Será que o Saramago olhou a morte nos olhos e lhe disse "vai-te embora" para não ter de entrar numa vida eterna sem a Pilar?
Será que o amor pode afinal conquistar tudo, derrotar tudo, vencer tudo?
Ou será que sou eu que sou uma tonta romântica?

domingo, 2 de novembro de 2008

Dúvida

Acabo de ver o anúncio ao DVD do Sex and the City - The Movie e tenho uma dúvida. No final, a senhora diz:

- Sexo e a Cidade: a prenda que a sua mulher vai gostar

ou

- Sexo e a Cidade: aprenda, que a sua mulher vai gostar

?

Infinito Particular

Lembram-se desta? Quando a Marisa Monte definiu a complexidade humana em duas palavras?
Fica a música e o poema, de Arnaldo Antunes, Marisa Monte e Carlinhos Brown.




Eis o melhor e o pior de mim
O meu termômetro, o meu quilate
Vem, cara, me retrate
Não é impossível
Eu não sou difícil de ler
Faça sua parte
Eu sou daqui, eu não sou de Marte
Vem, cara, me repara
Não vê, tá na cara, sou porta bandeira de mim
Só não se perca ao entrar
No meu infinito particular
Em alguns instantes
Sou pequenina e também gigante
Vem, cara, se declara
O mundo é portátil
Pra quem não tem nada a esconder
Olha minha cara
É só mistério, não tem segredo
Vem cá, não tenha medo
A água é potável
Daqui você pode beber
Só não se perca ao entrar
No meu infinito particular


É isso mesmo.