segunda-feira, 23 de novembro de 2009

2:30 da manhã, via SMS















C - Foi giro o concerto?

G - Sim, foi muito muito giro e fiz duas descobertas que vão mudar o rumo das nossas vidas. Primeira: o jardim de inverno do S. Luís é O espaço que nós procuramos para a nossa passagem de ano glamourosa. Segunda: ouvir Dead Combo é o que nós precisamos para criar histórias para cinema. Nascem coisas nas nossas cabeças a ouvir aqueles jovens. Temos de retomar um exercício que eu fazia em Oficina de Expressão Dramática, que consiste em ouvir uma música e escrever uma história sobre o que estás a ouvir, escrever o que aqueles sons te sugerem. Acho que pode ser este o caminho.

C - Uau! Como é que consegues dizer essas coisas a esta hora? A minha cabeça neste momento é uma nuvem: fofa, mas sem substância. Gosto de saber que tens um rumo para as nossas vidas. Enquanto descobres o elixir da vida, eu leio coisas destas no facebook: o que é um ponto vermelho numa floresta a pular de árvore em árvore ? É um morangotango.

G - Tenho! Agora só precisamos de tempo e determinação. E precisávamos de explicar às pessoas que "mandam" em nós que ir para o escritório todos os dias não é o caminho. Estive uma semana inteira fechada naquele sítio e o meu cérebro parecia uma massa amorfa. Hoje saí à rua e fiz coisas interessantes e já estou aqui com as ideias a fervilhar. Achas que algum dia nos vão compreender? É que se eu continuar a fazer a vida da primeira temporada, só me vão sair coisas como essa do morangotango.

C - Pois, compreendo-te perfeitamente. É que é mesmo isso: uma pessoa não tem ideias brilhantes sentadinha numa cadeira em frente ao pc o dia todo. É como diz o McKee, a inspiração está por aí, à nossa volta, nas ruas da cidade.

G - Aiiiii que drama!!! Eu acho que nós devíamos ter dinheiro de produção para copos e cafés e passeios de eléctrico, peças de teatro e concertos. Ou então não somos verdadeiras artistas e não conseguimos imaginar mundos sem sair de casa... Se calhar é um problema nosso, já que toda a gente cria coisas entre 4 paredes.

C - Não sei se é assim. Olha o J: quer escrever um livro passado em Berlim, o que é que faz? Vai não sei quantos meses para Berlim. As histórias e as ideias estão todas aí, temos é de abrir os olhos enquanto andamos por aí. Claro que depois há pessoas como o Bolaño, que tem Deus a segredar-lhe coisas ao ouvido.

G - Eu estou com o meu nas mãos. Não é justo!

C - Temos de aceitar. Toca a muito poucos. Por isso é que ele também não esteve cá muito tempo. Deus nunca deixa que a gente os agarre. O lambão.

G - Ele não podia ficar cá mais tempo. Cumpriu a sua missão na terra e bazou. É assim que tem de ser. A grandiosidade do ser humano está em saber quando sair de cena.

C - Sim. É como a Oprah.

sábado, 21 de novembro de 2009

D. Nuno, o Bravo


Coragem é deixar o país, ir para o outro lado do mundo, em direcção ao desconhecido. Fazer isso tudo de olhos húmidos e aperto no peito ao dizer adeus aos três filhos pequenos não é coragem. É amor.
O meu primo Nuno, número dois da contagem, pai (de uma prenda da vida e duas surpresas da vida), marido, amigo, defensor até à última consequência dos irmãos e dos primos, o monárquico mais engraçado que existe, foi hoje para Moçambique. Um cargo de responsabilidade bem remunerado é muito apelativo, mas não foi essa a razão da sua partida. Foi antes por saber que essa remuneração é necessária para que os filhos cresçam com o conforto todo que lhes quer dar - e isso não encontrou aqui.
Coragem é agarrar as oportunidades quando elas surgem. Receber de peito aberto a amargura que trazem consigo é amor.

Não te preocupes. Aproveita para conheceres o cheiro de África, absorve tudo o que essa terra (que parece não querer descolar-se da nossa família) tem para te oferecer. Trabalha, diverte-te, conhece, cresce. Não te preocupes. A tua S., o teu J., os teus pequeninos A. e M. vão ter saudades tuas, mas não conhecerão um minuto de solidão. Vamos mimá-los até à exaustão.
E não te aflijas. Os teus filhos nunca te sentirão ausente: sabem que estás longe mas sempre com eles, sempre por eles. Vão crescer e orgulhar-se do pai aventureiro que foi buscar uma vida boa para eles ao avesso do globo. E vão dizer-te muitas vezes "quando nos levas lá, pai"?

Sentiremos a tua falta, no Natal principalmente. Estará lá o teu lugar, o teu espaço, mas não vazio: antes o teremos cheio do orgulho que sentimos por ti, pela tua coragem e pelo teu amor.

Nem adeus nem até breve. Não saíste daqui.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Flashmob/Promo 5 para a meia noite

HOJE, PONTO DE ENCONTRO ÀS 21:30 NO LARGO CAMÕES.

Apareçam mascarados, nus, levem amigos, família, animais de estimação, objectos luminosos, electrodomésticos, legumes, álcool (que deverá ser entregue à produção), etc. E, para sabermos que vão da parte do Ovo, podemos combinar um sinal: vão ter connosco e entregam-nos um objecto qualquer, sei lá, deixa ver, um par de sapatos Louboutin ou uma vespa ou isso.

Tudo se passará ao som desta musiquinha (será que conseguem decorar a letra para hoje?):

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Quando chove em Havana

Em Havana apercebi-me de que há sentimentos que só nós, os portugueses, podemos ter. Como é que se explica a um cubano a nostalgia de um dia de inverno, em que está frio e a chuva bate na janela? Um dia em que o nosso único desejo é cair no sofá, enrolados numa manta polar, até o sol se dignar a aparecer outra vez? Como é que se explica a um cubano que, em noites de inverno como esta, eu ponho Regina Spektor a tocar e jogo solitário no computador, à espera que as horas passem mais depressa? Que é nestes dias que eu mais queria que o telefone tocasse? Que nestes dias eu sinto a malvada da saudade?

Em Havana, um dia cinzento, com ventos loucos de muitos quilómetros por hora e chuva constante, é um dia de alegria. Há amigas de chinelos nos pés a correr pelo Malecon, tentando apanhar o momento em que a água vai galgar o muro e elas vão ficar encharcadas dos pés à cabeça. E são tão felizes, de mãos dadas, a tremer de frio, e a rir. Acho que, do outro lado da estrada, debaixo do guarda-chuva amarelo e com a ponta do nariz vermelha, consegui vê-las em câmara lenta a sorrir e a correr, quando eram apanhadas pelas ondas gigantes. (Que cliché… mas que se lixe! Deixem-me ser pirosa nas minhas memórias.)

Num dia de chuva em Havana, o doce Saul veste uma camisola de manga comprida vermelha da Lacoste e abre os braços, num sorriso puro, quando diz que fomos apanhados pela frente fria. Ninguém apressa o passo nas ruas e parece que nem reparam que os cabelos voam desgrenhados pelo vento. Ninguém parece aperceber-se de que a chuva não pára desde que começou o dia e só os turistas se escondem nos cafés e nas esplanadas cobertas.

No único dia de chuva que houve em Havana, nós ainda perdemos uns minutos com este vício tão português que é o termos pena de nós próprios. Fizemo-lo as duas, em silêncio no nosso quarto enquanto nos vestíamos, longe da alegria brasileira e cheias de vergonha de o admitir. Mesmo assim, pusemos os nossos vestidos floridos preparámo-nos para o temporal com leggings e casacos de malha e saímos, não nos deixando render a este sentimento, que é uma herança que ninguém merece.

E a chuva parou nesse final de tarde. Bebemos cervejas e ouvimos a música de um dos promissores talentos de Cuba. Comemos quadrados de chocolate. Andámos pelas ruas daquela cidade sem precisar de mapa. E ouviu-se fado numa avenida em Havana. Bebemos guaraná e comemos hambúrgueres na rua, perto do mar. E fomos dançar num domingo à noite, sem ninguém pensar uma única vez se o dia seguinte era de trabalho ou não.


Ao Brayan, ao Saul e ao Orlandiño por terem feito parar a chuva em plena frente fria do Caribe.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Querida professora Gema


Ficar em casa num sábado à noite pode ser confortável e aconchegante. Quando é por escolha. No passado sábado, dei por mim cheia de vontade de sair. Ora, como toda a gente sabe, uma senhora não vai para os copos sozinha. Tentei contactar alguns amigos: houve quem não atendesse, quem não respondesse à mensagem, quem estivesse a trabalhar, quem me convidasse para ir para o outro lado da ponte (conduzir um carro sobre um rio não se coaduna com "beber copos". Sorry, Fiona*). Deixei deliberadamente de lado os amigos que eu sei que viriam acompanhados. E não me entendam mal: gosto muito de todos os/as namorados/as que apareceram por acréscimo, mas sair com um casal não estava nos meus planos de noite ideal. Been there, done that, e não foi nada agradável, porque, enfim, mesmo que eles nem sejam melosos, uma pessoa lembra-se sempre (com mais força) daquilo que não tem.
Pensando nisso, mandei uma mensagem à Gema, de visita à sua terra natal (Leiria, vai daqui um abraço daqueles.), que dizia: "Preciso de alguém que saia comigo de vez em quando!". Ela, do alto de toda a sua sabedoria, responde:

"Para sair contigo de vez em quando, tens-me a mim. Precisas é de alguém que saia contigo sempre."

Isto é só uma migalha daquilo que ela me ensina, às vezes sem se dar conta. Quase todos os dias ela lembra-me: não exijas menos do que o que mereces. Ela sabe bem que eu tenho tendência para aceitar o mais ou menos, o assim-assim, o eu-sei-mas-ele-é-tão-fixe-toda-a-gente-tem-defeitos-não-fez-por-mal, porque acho que não há melhor para mim. Isto tem especial relevância na minha desastrosa vida amorosa, confesso. Ela tenta sempre lembrar-me:

1. Actos contam mais que palavras.
2. Tira os olhos daquilo que te vai na cabeça e põe-os na realidade.

e esta última, não menos importante:

3. Se ele te quer, que lute por ti.

Ainda não aprendi estas lições, que implicam uma total mudança na minha maneira de ser. Mas estou a esforçar-me, querida amiga, estou a esforçar-me. Conto contigo para as reguadas bem dadas nos momentos certos.

sábado, 7 de novembro de 2009

A dura realidade

Gema: Quero um Beijo.

Senhora: Não há. Mas pode levar o Desejo.

Gema: Pois, mas o Desejo já tenho...

Clara: Eu levo só o Poema.


Risqué: o seu soro da verdade.

(Existe em centenas de cores. Em caso de dúvida ou persistência dos sintomas, consulte o seu fuck buddy ou psicólogo.)

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

O resistente


António Macedo disse dele: "começou no tempo das músicas proibidas e acabou no tempo das músicas obrigatórias. Nunca cedeu."

Não confundir com "nunca se deu". Deu-se, e muito, aos seus ouvintes, à música, às novidades, ao seu grande amor - a rádio.

Disse-me ao telefone (dias depois tive a felicidade de o receber em estúdio, ele discreto, eu entusiasmadíssima por conhecer a voz mais bonita de Portugal): "A Radar foi a única rádio onde encontrei espaço para fazer o que quero". E o que queria era só dar a conhecer música, embalar-nos noite dentro com os melhores sons que conhecia, sem nunca se curvar a uma playlist. O que fazia era criar rádio.

O Lobo resistiu a quase tudo.

Adeus, Mestre António Sérgio. A fazer-te companhia levas um pedaço enorme de rádio, que não poderia nunca sobreviver sem ti.