sábado, 4 de dezembro de 2010

O frio não é tão frio assim

Estiveste bem esta noite. As músicas novas são de ouvir em repeat e estás a cantar cada vez melhor. Só torço um pouco o nariz quando improvisas demasiado. Sei que é difícil conter a voz que te sai no momento, mas porquê alterar as melodias que fizeste tão belas? Por outro lado, é isso que te faz parecer tão humano em cima do palco. Parecer. Lição de vida: nunca confundir o artista com a sua arte.

Não tenho saudades tuas. Tenho saudades daquele bocadinho fugaz que tivemos. Não direi, como já disse de outro, que tenho pena pelo que poderíamos ter sido, porque, sendo eu quem sou e sendo tu quem és, acho que não poderíamos ter sido.

Há razões para gostar do Inverno. É que, no frio de uma avenida lisboeta percorrida a pé à noite, a melancolia chega mesmo a ser bonita.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Intervalo




Em televisão, existe para cumprir compromissos publicitários e assim pagar os ordenados a toda a gente. É sabido que são os programas que servem os anúncios e não vice-versa (se alguém não sabia, surpresa!). Mas não é só isso. Os intervalos são úteis também para respirar fundo, desanuviar, esticar as pernas, rodar o pescoço e até pensar naquilo que se viu.

Parar.




É assim connosco. Não falo de inércia. Parar não é "ficar parado", aquilo de que falava o Sérgio Godinho quando dizia que preferia o poço da morte a tal sorte. É que por vezes a sensação é a de que fazemos tanta coisa que o cérebro se torna inactivo. Ou, nova tentativa, agora é que me vou fazer entender, a cabeça perde-se em ideias, em textos, em papéis, em horários, em amigos, em amores e esquece-se de nós. Da vida. Daí a necessidade de intervalo. É preciso parar para pensar. Deixar cair a névoa de tralha que nos tolda e descobrir o real. Como diz o povo, que sempre soube explicar-se melhor que os poetas, olhar com olhos de ver.
Deparei-me com um intervalo no meu trabalho. Mais uma vez, dois meses e tal sem rotina, sem obrigações e tanta coisa para fazer.
Coincidentemente, um intervalo amoroso. Nem estou apaixonada nem ninguém anda a tentar que eu fique; não quero recuperar paixões antigas ou reutilizá-las (ecológico, mas tão pouco saudável); não me perco em domingos deprimidos nem em noites devassas.
Tem sido um intervalo aqui no Ovo, eu sei. É que só sei escrever sobre o que sinto e o que sinto tem sido profundo demais para um espaço tão público.
É um intervalo de mim também. Estou quase a matar a depressão em que me vi presa. O horizonte que vejo agora não é escuro nem claro: é o verdadeiro, é aquele que lá está. E é cada dia mais nítido.

O melhor do intervalo é que depois vem a segunda parte. E essa é aquela dos momentos mais emocionantes, das aventuras mais perigosas, do "agora é que é" e, claro, do final feliz. É aqui que me afasto da televisão. É que não é para aí que caminha a minha segunda parte. O meu "the end" é antes um começo feliz. E depois? Depois, cá estarei para contar a história.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Fool me once, shame on you. Fool me twice, shame on me.

Quarto de casal. Sentada na cama, Clara vasculha a caixa de jóias da Mãe. Mãe está de pé e vai observando as escolhas da filha.

CLARA: Gosto deste solitário.

MÃE: Então leva esse.

CLARA: É melhor não. Depois parece que estou noiva.

MÃE: Então, isso é bom!

CLARA: Não, Mãe. Não posso andar por aí com ar de comprometida.

MÃE: Ai filha, que medo que tens de não encontrares ninguém. Vai ser agora no curso, quando voltares à faculdade.

CLARA (com olhar irónico): Um artista, um maluquinho do cinema?

Pausa dramática.

MÃE (com expressão desesperançada): Ah... Pois...


segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Avaliação de um pretendente assim, por exemplo.



Podia ser:

- Cães ou gatos?
- Ateu ou crente?
- Benfica ou Sporting?
- Livros ou desporto?
- Cinema europeu ou Hollywood?
- Preto ou branco?
- Bife ou soja?
- Domingo na rua ou em casa?


Mas talvez baste pegar nele, levá-lo à exposição dos brasileiros OsGêmeos no Museu Berardo e mandá-lo espreitar para dentro da caixa com óculos-lupa que lá se encontra. Se, ao ver o que está lá dentro, sorrir, vale a pena dar-lhe atenção: é porque tem qualquer coisa de optimista, de inocente, de genuíno, sem a qual o amor não acontece.

Quem ainda não foi ver "Pra quem mora lá, o céu é lá", ainda têm uma semana. Uma experiência que tem só um preço: fazer pensar.

domingo, 5 de setembro de 2010

The Marc Pease (scary) Experience ou Porque vale a pena olhar duas vezes para o bilhete de cinema

Cá vai disto.

Sexta-feira foi noite de ir ao cinema com a Ana, amiga que a Gema me deixou em herança. Decidimos ver The Box, um filme com a Cameron Diaz que não é uma comédia romântica (já aguça a curiosidade, não é?). Tive o cuidado de olhar para o cartaz e dizer o nome em português, a tradução literal "Presente de Morte", "dois bilhetes para..., um com Medeia Card".
Entrámos, a tempo de ver alguns trailers e, em surdina, fomos comentando outros filmes que estavam em cartaz. Um deles, tinha a actriz Anna Kendrick, que fez um trabalho brilhante no não menos brilhante filme Up in the Air. Comentei:
- "Aquilo deve ser uma comédia qualquer, é com o parvo do Adam Sandler. Deve ser muito mau."
De repente, começa o filme. Aparece Jason Schwartzman e, logo a seguir, Adam Sandler. "Não, este é o Ben Stiller", diz a Ana. Pronto, o Ben Stiller. Para mim, são uma e a mesma pessoa. Começamos por rir nervosamente. "Então mas este também entra aqui. Ah ah ah... nós a dizermos mal... ah ah ah". O riso pára quando eu decido olhar para o bilhete e leio "A Vida Desafinada". Pânico! Raiva! Então não é que a FDP da mulher da bilheteira nos deus bilhetes para aquilo?? Enganada, que eu tenho a certeza de que disse "Presente de Morte", uma pessoa não esquece que disse "Presente de Morte".
Como a hora já não permitia ir trocar o bilhete nem ver outro filme, respirámos fundo e pensámos que o filme seria assim uma espécie de despedida do Verão e do seu cinema tonto. Podia ser que ainda desse para rir um bocadinho com a comédia e chorar um bocadinho com a romântica.
Mas aquilo nem era comédia, nem era romântica, tinha música mas não era um musical. Posso dizer-vos muitas coisas que o filme não é, mas não consigo descobrir o que é. A Ana adormeceu. Eu nem consegui, de tão atónita.
A Anna Kendrick a fazer de miúda de 18 anos, numa escola secundária que vive para o dia em que põe em cena um musical inspirado no Feiticeiro de Oz. O Jason Schwartzman com um cabelo indiscritível. O Ben Stiller a fazer de Tom Cruise, tendo em conta os gestos, as expressões e o corte de cabelo. E todos eles, mais os personagens secundários, pareciam atrasados mentais. Um filme de gente retardada para gente retardada. Eu ainda tenho a sensação de que aquilo é cinema de beneficiência, organizado pela CERCI de Los Angeles, e que os bilhetes revertem a favor dos actores considerados cidadãos inadaptados. Por uma questão de altruísmo, as senhoras da bilheteiras têm ordens para dar bilhetes daquilo às pessoas, como se fosse por engano.
Só pode ter sido por bondade que a Kendrick, depois de nomeação para Óscar e tudo, e o excelente Schwartzman aceitaram fazer um filme em que o Ben Stiller canta e em que um grupinho tipo Tetvocal faz um medley que temos de ver... na íntegra.
E quando se pensa que há ali um conflito e que a personagem vai finalmente revoltar-se e dar porrada nos maus e reconciliar-se com a garota ao pôr do sol, o filme acaba. Nem ele faz chantagem com o mau, apesar de ter provas de que este andou a mexer com a miúda dele, nem acaba aos beijinhos com ela. Acaba ao piano... a cantar.
Quando derem por vocês a pensar "aaah, não tenho nada para fazer, vou ver aquele em que o Adam Sandler, ai, não, o Ben Stiller canta e não sei quê", pensem melhor. De certeza que têm alguma coisa mais interessante para fazer. Tipo contar manchas de bolor no tecto. Ou olhar para uma parede branca. Ou ler no IMDB a filmografia do Adam Sandler.



PS.: Há aqui coisas que parecem ter uma ligeira piada, mas é só porque estão retiradas do seu contexto. Não se enganem.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Porque o melhor escritor da nova geração da literatura portuguesa merece

Hoje vou dar uma de Pipoca e responder a um comentário que surgiu ao meu post anterior, sobre o novo livro do João Tordo, "O Bom Inverno".

O comentário:

"Só posso dizer que se for tão bom como as 3 vidas (sobre os 2 primeiros nada posso dizer) é um desperdício de papel. Em literatura portuguesa contemporânea, não me lembro de coisa mais delirante e descabelada (conseguindo, no entanto, ser exasperantemente monótona), mais privada de qualquer sentido de humor ou de ironia... Nenhum detalhe nos poupa o JT (que devia chamar-se antes joão pardo), o suposto delfim do josé saramago. A elipse não existe para ele, e assim, um conto ou uma novela medíocres incharam até ás 300 páginas. Como vai nu esse rei (mas como a rainha-mãe e o ex dela são quem são, e portugal é o que é, não hão-de faltar os arautos a proclamá-lo - outra vez - um génio...). Não perca tempo com o JT, que a vida é curta, mesmo para jovens como você e a sua colega, e o que não falta são grandes livros..."

Caro Anónimo:
Como diria Jack, o Estripador: vamos por partes.
Primeiro, estou a contar que "O Bom Inverno" seja tão bom ou melhor do que "As Três Vidas". Mau acho muito difícil que seja, já que, pelo que tem mostrado, o João Tordo não tem a capacidade de escrever maus livros. Tenho a certeza de que não será um desperdício de papel - pode apaziguar as suas preocupações ambientais.
Segundo, isso de o romance não ter sentido de humor ou ironia não me parece sinónimo de coisa má. Que eu saiba, há muito boa literatura que é desprovida dessas duas características (que o João Tordo, aliás, pessoalmente, tem a rodos). Tanto o humor como a ironia são coisas muito portuguesas e não se encontram frequentemente na literatura anglo-saxónica, inspiração assumida do João. Os escritores não têm de ser todos Eças ou Saramagos para serem bons. O que nos leva ao próximo ponto.
Não sei bem o que significa ser o "delfim do Saramago", mas penso que se refira ao prémio que o João Tordo ganhou este ano (muito justamente, a meu ver). O nome do prémio não significa que o vencedor do mesmo seja um protegido do José Saramago. Este, aliás, até onde me lembro, nem faz parte do júri. O próprio João Tordo afirma que o Saramago não deve gostar especialmente dos seus livros, inspirados na tradição inglesa e americana no que toca à maneira de contar histórias (ou seja, o mais importante é a história e é esta que prevalece, mais que as figuras de estilo, o simbolismo ou a estética da escrita - e isto não é pior ou melhor, é diferente).
Quanto à forma como uso o meu tempo, agradeço a sua preocupação. No entanto, conto-lhe um segredo (e que é o mais importante desta história toda): a literatura não é ciência, é arte. E a arte, podendo ser objecto de avaliação e crítica, assenta no impacto que causa em quem a aprecia. Essa é, do meu ponto de vista, a avaliação fundamental e última: ou emociona ou não. Posso até achar que certos autores escrevem muito bem, mas os seus livros não me dizerem nada e não conseguir passar da primeira página. Quanto ao João Tordo, calha que ele escreve muitíssimo bem e os seus livros agarram-me, da primeira à última palavra.
Não me esqueci da sua referência tão portuguesa em relação aos progenitores do João Tordo, o chamado factor C. Compreendo-a perfeitamente: a mãe e o pai do João têm de facto uma influência extraordinária no mundo editorial, principalmente junto a uma editora maleável e fraquinha de espírito como a Maria do Rosário Pedreira. Dos seus pais não posso falar, já que nem me deu uma pista do seu apelido. A ironia chegou-lhe ou precisa de mais um bocadinho?

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Cheiro de livro novo


Já agora, no El Corte Inglés está com 10% de desconto. E na Wook também. E na Fnac também, com cartão aderente. A utilidade do preço inicial é uma incógnita. Como ainda não li, por enquanto são estas as considerações que tenho a fazer sobre o livro.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

De Portimão a Lisboa são... 6 horas de distância?



Desci as escadas e senti a noite de Verão transformar-se. O vento que me levantou os cabelos já não era morno, mas fresco, capaz de eriçar os meus pêlos dourados pelo sol. Olhei em volta: uma estação de serviço, igual a tantas outras, numa zona de planície. Nenhum outro veículo estava estacionado ali próximo; o autocarro de onde tinha acabado de sair parecia um erro de cenografia, ali no meio de nada. Peguei na minha mala, afastei-me uns passos e pousei-a junto aos meus pés. Perguntei a alguém que passava: "Onde estamos?". A resposta: "Em Grândola".


Eu pensei que este fim de semana fosse mudar a minha vida. Não dessa forma tipo livro de auto-ajuda, "como dois dias no Algarve fizeram de mim a mulher feliz que sou hoje", nada disso. Simplesmente, dormi no mesmo quarto que um bebé e uma criança pequena, o que implicou acordar ali por volta das 7 da manhã e levantar às 8, para acompanhar os pais dos petizes no pequeno-almoço. Eram 23h de sábado e eu já estava a cair de sono (coisa que não acontecia desde 1994, sensivelmente). Pensei, "bom, vou aproveitar este novo ritmo, domingo deito-me cedinho, segunda levanto-me cedinho e posso tomar o pequeno-almoço sentada, comer fruta, ir comprar o jornal, fazer a cama como deve ser e essas coisas de mulher ajuizada".

Ora, do pensar ao fazer vai uma grande distância, principalmente quando o universo se interpõe entre nós e a nossa vontade. O expresso já saiu de Portimão dez minutos atrasado. Não ignorei o mau augúrio, mas não havia nada que pudesse fazer. A meio do caminho, o autocarro seguiu uns poucos quilómetros por entre a escuridão meio fora meio dentro da faixa de rodagem. Imaginei um motorista a adormecer e a viatura a resvalar pela encosta abaixo e os passageiros todos perdidos no meio da selva alentejana, a caçar javalis e a carregar numa tecla de computador e sei lá mais que coisas perigosas. Devagar, lá entrámos na estação de serviço de Grândola, vila morena, terra da adversidade, e o motorista deu a triste notícia: o autocarro estava avariado. A mecânica é quem mais ordena dentro de ti, ó cidade. Depois de entrarem uns quantos passageiros nos dois últimos expressos que ali passaram, percebemos que teríamos de esperar que fosse uma nova viatura de Lisboa de propósito. "Isto ainda vai demorar pelo menos umas duas horas". Bonito.

Foram duas horas e meia de espera em Grândola, que incluíram a compra de uma empada e um pacote de Fritos e a leitura de um livro. E aqui aconteceu algo importante. O avanço no livro foi possível apenas e só devido à minha ridícula caneta com uma lanterna na ponta. É que a luz mortiça do autocarro no breu da noite não chegava para os meus olhinhos e foi aquela característica da caneta, antes desprezada e gozada, que permitiu que o tempo passasse mais depressa.

Conclusão: em vez de chegar a Lisboa às 23:30, cheguei quase às 3 da manhã. O meu deitar cedo e cedo erguer foi por água abaixo.

Moral: nunca desprezar as pequenas características diferenciadoras de um objecto quotidiano. Mais dia, menos dia, também você vai precisar daquela luzinha azul na ponta da esferográfica.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Post de Verão

Sabem aquelas cenas de filme em que moças muito jeitosas saem de uma mota, tiram o capacete graciosamente em câmara lenta e sacodem o cabelo sedoso com o sol a bater na face de lábios entreabertos?
Pois, garotada, isso não existe. É tudo efeito especial. Ou então ela usa um capacete muito largo. Quem anda de mota, sabe do que falo. Aqueles capacetes à séria, completos, não se colocam nem retiram com facilidade. Não. Eles são bem apertadinhos e deixam as bochechas esmagadas. Para tirá-los, é preciso alguma brusquidão e o cabelo vem atrás, todo cheio de electricidade. A cara fica com as marcas da tecido interior, principalmente se estiver calor.

Com isto quero dizer que essa coisa da mulher 100% sexy só existe nos filmes. E porque eles filmam várias vezes a mesma cena. E editam. E põem efeitos especiais. A pessoa normal não anda por aí a semicerrar os olhos pela rua e a fazer coisas em câmara lenta (até porque seria patético).

Aquela jovem loira e recauchutada chamada Bastet, por exemplo, disse que fazia a lida doméstica toda nua e de saltos altos. Please. São criaturas como esta que lixam a vida às outras mulheres, porque os jovens machos andam por aí a acreditar que isto existe mesmo, que é possível, que nós é que não nos esforçamos. E, verdade seja dita, fazer-se de sexy é tão pouco sexy.

Há realmente senhoras que transpiram sensualidade, naturalmente. Mas também cortam as unhas dos pés e tiram o buço, disso podem ter a certeza.

Bonito, bonito, é um homem ver sexyness em cada gesto de uma tal mulher, em cada passo quotidiano, em cada encolher de ombros corriqueiro. Mas isso, caríssimos, já é paixão.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Foi assim que me vi a perder a esperança na minha irmã (e na lixívia)

Barata na garagem. Gigante. Viva e antenada.

Onde é que falhaste, irmã? Que cano te escapou? Que dedicação te faltou? Que lixívia secou? Que barata ruim resistiu à tua arma líquida e ficou apenas com uma grande moca e uma ressaca daquelas pela manhã?

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

"They tell me not to go to Cité Soleil...

...but how can I be scared of people like me?" *


O músico Wyclef Jean apresentou oficialmente a sua candidatura à presidência do Haiti (notícia aqui). Para quem não sabe quase nada sobre a tentativa de país que é o Haiti, isto pode parecer estranho. Como ele próprio diz, "as pessoas vão perguntar: "Meu, o que é que ele sabe de política?". Muito pouco.
A questão aqui é que o Haiti talvez não precise de políticos agora. Provavelmente, precisa mais (e urgentemente) de uma inspiração e, se pensarmos assim, a candidatura do Wyclef Jean faz todo o sentido.

Estas ideias tornam-se lógicas, depois de ver este filme:



Ghosts of Cité Soleil é, quase certamente, o melhor documentário que já vi (atenção, apesar de documentário, é cinema. Ou seja, tem uma história construída, tem edição, não é o espelho de toda a realidade). A Cité Soleil, situada em Port-au-Prince, no Haiti, é considerada o sítio mais perigoso do mundo. Embora facilmente comparável às favelas brasileiras, põe-nas a um canto. É um país dentro de um país, dividido por zonas, cada uma delas controlada por um líder. Como sempre acontece, mesmo o mais tirano dos líderes tem o poder que o povo lhe confere (de forma mais ou menos consciente) e estes têm todo o poder, materializado em armas, droga e outros "tesouros" ilegais. É que estes gangsters são capazes de ir entregar um maço de notas a uma mulher e dizer-lhe "toma, para pores os teus filhos na escola". Já o governo, não entrega nada ao povo, pobre como não sabemos o que é ser pobre (é o país mais pobre da América, quase metade da população é analfabeta e está a recuperar de um terramoto que destruiu cerca de 80% da capital) e gasta o pouco que tem em guerra, cargas policiais e sustento de ditaduras.
A esperança reside no facto de metade dos haitianos terem menos de 26 anos. E quem é o ídolo dessa juventude? Wyclef Jean, claro, rapper interventivo, nascido no meio deles. É um deles.
Para quem ainda acha que a arte é só para quem não tem mais o que fazer, repense. Aquelas pessoas desistiram de depositar esperança nos políticos; as circunstâncias obrigaram-nas a acreditar em gangsters. A ideia de que a salvação do Haiti pode estar nas mãos de um músico, de repente, já não parece assim tão estranho. Pois não?


Veremos o que acontece daqui para a frente.


PS.: O Sean Penn diz que o W. Jean desviou dinheiro de doações. Mas o Sean Penn dá porrada nas mulheres. Não conta.

*Retirado de Ghost of Cité Soleil, canção de Wyclef Jean para a banda sonora do filme.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Um dia vou apagar as tuas mensagens.


Hoje foi o dia.

Foi assim que vi a minha irmã perder a esperança

Hoje acordei e levantei-me mais cedo do que o costume (ó dor), mas não demorei a perceber que estava mesmo acordada. Cheguei à casa de banho e deparei-me com a minha irmã ainda de pijama, com uma fita vermelha mais velha que eu a segurar o cabelo todo, a tentar abrir um frasco de lixívia de dois litros. Na bancada, estava outro, já vazio. Olhou para mim com uma expressão a roçar o pânico.

- "Eles", começou, referindo-se àquela entidade desconhecida que sabe uma data de coisas, como o tempo para amanhã, "eles estão a mandar pôr lixívia nos canos. Vai haver uma invasão de baratas em Lisboa".

Estive quase para a lembrar de que ali em Alfornelos já não é Lisboa, mas vi-a tão aflita que só consegui apontar para a sanita e dizer: "põe aqui também". Ela continuou na azáfama de abrir a lixívia, já com a ajuda de uma tesoura, e, muito concentrada, deitou o líquido no lavatório, na banheira e na sanita. Depois de trabalho pronto, parou dois segundos a olhar em silêncio. A última coisa que disse antes de partir em busca de outros canos saiu já em tom desesperado.

- "Como se isto as impedisse".

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

0º, temperatura interna

Este domingo, aconteceu o primeiro banho de mar do ano. Já tinha dado um mergulho, mas só isso: um mergulho. Até agora, a praia recebeu-me sempre com água gelada e bandeira vermelha. Mas este domingo, esperava-me um mar calmo e transparente.
Cheguei-me à beira-mar. Água muito fria. Exactamente o que eu precisava. Entrei e mergulhei.
Lá em baixo, só o corpo a ficar em pele de galinha, os músculos acordados e o silêncio.
Saí de novo para o sol e o cérebro voltou a funcionar a mil. Tudo a chegar à memória. A lembrança daquela segunda-feira de desilusão, em que me senti como naqueles empregos em que se é rejeitado por habilitações a mais. Por momentos, pensei: "e se eu fosse uma surfistinha sexy e burra?". A resposta veio rápida: "não era eu. E prefiro ser assim como sou." Complexa. Um puzzle daqueles de mil peças, que só com tempo e dedicação se resolvem. E não são os que dão mais satisfação?
Lembrei-me do "desculpa" que ouvi e da carícia que recusei. E andei para trás e lembrei-me daquele dia de carinhos escondidos, trocados por baixo da mesa, por trás do banco do carro, a tentar ocultar o que estava estampado nos nossos sorrisos. E desse sorriso, do qual não direi que iluminava salas ou o meu coração inteiro, porque esse sorriso nada tinha de cliché. E das intermináveis conversas à volta dos filmes. E dos abraços, das mãos dadas, dos beijos. E do fim de semana que talvez não devêssemos ter passado juntos. E das intermináveis conversas à volta das nossas diferenças. E da paixão que morreu rapidamente. E do tempo que afinal foi tão pouco. E das palavras doces que agora parecem mentiras.
Mergulhei de novo. Água gélida. Silêncio. A cabeça vazia. E, se pudesse, não saía de lá, desse vazio frio, até que alguém tivesse coragem para enfrentar o puzzle.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

terça-feira, 20 de julho de 2010

"No piense más. No piense más. O tendrás mil pasados y ningún futuro."



Quem ainda não viu, faça o favor a si próprio de ir ver. Óscar de Melhor Filme Estrangeiro mais que merecido. É uma história que, embora fácil de seguir e perceber, é complexa. Um filme completo, que faz rir, faz chorar, é perturbador e com diálogos que nos deixam palavras verdadeiras coladas à memória. "No piense más", ouvi, e parecia que era para mim.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Alexa Chung


Esta garota entrou directamente para a minha lista de "Pessoas que deviam ir morrer longe", onde constam nomes ilustres como Scarlett Johansson, Heidi Klum ou Marion Cotillard.
Isso não impede, contudo, que eu fique toda contentinha quando a minha irmã diz: "essa tua mala é tão Alexa Chung".

Deuses da reencarnação, desta vez quase acertaram, sim senhor, que eu até sou jeitosa e com estilo. Mas deitem um olho nisto e façam só mais um esforçozito para a próxima, sim?

Se puderem enviar-me ao mundo já com o guarda-roupa da pequena Alexa, agradeço.

terça-feira, 13 de julho de 2010

São Paulo à chegada

Lisboa ficou para trás e nem ousei olhar pela janela quando o avião descolou, rumo ao céu azul.
Hoje acordei com trovões e muita chuva a bater na janela. O sol de São Paulo não quis brilhar neste meu primeiro dia. Talvez esteja tímido, talvez seja cauteloso, talvez me queira fazer sofrer um bocadinho. As coisas boas não podem ser mostradas logo ao início porque depois já nada nos consegue surpreender.
A cidade não tem uma cara bonita, daquelas que nos prendem de imediato. É dura para quem chega habituada ao glamour e meiguice das cidades europeias. Ainda mais com este tempo cinzento...
Mas hoje foi o dia zero. Amanhã vou aventurar-me sozinha por aí, vou vestir o casaco e sair para a rua debaixo do meu guarda-chuva florido. E principalmente, vou ter sempre comigo as palavras que um dia escreveu Fernando Pessoa:

"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmo lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-lo, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos."

Hoje, começou uma vida nova.

São Paulo, where the wild things are


E pronto. A Gema lá foi para a cidade grande fazer pela vida.

Ficámos a acenar no aeroporto até ela desaparecer da nossa vista. Houve umas lágrimas nos meus olhos, quando ela não estava a ver, mas principalmente sorrisos como quem diz: "vai ser fabuloso; serás muito feliz no sítio das coisas tropicais".

E ela disse assim: "vou ter tantas saudades tuas!"
E eu disse assim: "eu já tenho saudades tuas!"

E já. Mas sem angústia, porque, tal como disse um destes dias no divã, o teu é um amor seguro.


PS.: Vê lá se crias esse blog! Fica aqui a pressão pública.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Lolita


Há uns dias vi Lolita. Descia as escadas do metro, passos lânguidos e aparentemente seguros. Segurava o cabelo com as mãos, não de forma prática e rápida como quem tenta refrescar a nuca, mas num gesto lento como quem diz 'tenho a nuca quente'. O olhar vinha de baixo, como as modelos quase despidas das capas das revistas. A atitude sensual era ajudada pela beleza de cabelo loiro e olhos azuis. Atrás dela, vinham os pais e um provável irmão mais velho. Lolita caminhava dois ou três passos à frente e sabia-o.

Não sei quando foi que as meninas decidiram querer ser mulheres rapidamente. Também eu vasculhei as roupas da minha mãe e desfilei vestidos de noite feitos de camisas frente ao espelho (e já sabia que só podia usar aquele grupo de roupas específico), mas o meu comportamento de imitação das mulheres ficava por aí. Hoje, há meninas de 13 anos nos Estados Unidos que fazem sexo oral aos colegas de turma no banco de trás do autocarro da escola. Hoje, há meninas de 15 anos que já se deitaram com metade dos rapazes da escola. Hoje, há meninas de 16 anos que dizem às amigas de 16 anos: "não é normal ainda seres virgem" (e este aqui em Portugal, caso verídico). E é aqui que eu torço realmente o nariz.

Vade retro, puritanismo. Não é de valores morais que trata este texto. O que me assusta nem é tanto ser normal ter sexo a partir dos 13 (sempre aconteceu); o que me assusta é "não ser normal" chegar-se aos 16 sem o ter tido. É aqui que as meninas revelam as crianças que realmente são e não as mulheres que querem parecer. Porque é de criança achar-se que há uma idade "normal", porque é de criança pensar que depois "daquilo" já se é mulher e já se tem toda a sabedoria. E não é suposto crianças andarem a ter sexo, principalmente de forma indiscriminada. Não é suposto crianças terem olhares lânguidos e bocas entreabertas. Nem é previsto meninas fingirem que não é amor que querem e pavonearem-se entre as amigas com atitude cínica e desencantada.

E o prazer da descoberta onde fica? Se quando se começa a sentir uma ligeira vontade de descobrir, aquele suave formigueiro nos pés que nos impele a andar por um caminho desconhecido, já se está lá, já se chegou. Será que não se deixou nada pelo caminho? Será que os pés não foram sozinhos?

Lolita é personagem de romance por ser única, por ser excepção, por ser diferente de todas as outras. Se fossem todas Lolitas, Nabokov provavelmente não teria sobre que escrever ou seria apenas um escritor medíocre que conta histórias sobre uma menina igual às outras.

A Lolita que vi descer as escadas do metro, fazendo dançar subtilmente as ancas, ainda a meio caminho do tamanho final, desconcertou-me. Se pudesse, dizia-lhe: não é assim que tens de ser agora, não queiras crescer tão depressa. Senão, corres o risco de chegar a uma altura em que te perguntas: já fiz tudo. E agora? Vivo para quê?

quarta-feira, 30 de junho de 2010

O que diz Molero


"(...) o sabor do café na manhã clara, uma saia que roda e faz frufru, a luz que rompe, rindo, em face suja, alguém recupera música esquecida assobiando, a madeira velha larga um odor de tudo o que apetece voltar a ter, um amigo chega, bate à porta e lembra-nos o que somos, uma frase atirada ao acaso dirige-se directamente ao coração de alguém, há uma gare que se percorre o tal abraço, um pedaço de relva enrola-se nos dedos distraídos, um barco ao longe está parado e leva-nos, é de um verde tropical o cenário que te enfeita, faço áleas de repente por saber que vens aí, e é como passear galeras ou palmeiras, ou alegria, ou esta Primavera alvoroçada, este encontro marcado fonte e folha, brotas da geometria de um canteiro, o espaço exacto, há uma gota de orvalho no teu ombro, a gota de orvalho que há no teu ombro reflecte tudo o que é puro, matinal, tudo o que é puro e matinal em mim, embora eu já nem saiba como hei-de dizer tudo isto."


E por isso pedi palavras emprestadas ao Dinis Machado.

sábado, 12 de junho de 2010

"o meu bairro feio tornou-se perfeito"




Aquilo que tu fazes, a forma de vida que escolheste, as pessoas com quem lidas todos os dias, nada disso importa. Tens um sorriso franco e o coração no sítio certo. E o teu carácter conta mais que os livros que não leste, que os assuntos que não discutiste, que a música que não ouviste, que os filmes que não viste.
Eu mostro-te tudo o que sei. Ensina-me também o que não conheço:

faz-me feliz, fazes?

terça-feira, 11 de maio de 2010

JC



Dia de receber o Papa em Lisboa é dia de pensar em certas coisas.
Nunca percebi porque é que os supostos representantes de Jesus são sempre velhotes sem estilo (excepção feita aos Prada do Bento XVI, chiquésimos). A história de Jesus é a defesa do novo, da renovação, da revolução, de deitar abaixo o que está estabelecido e trazer atitudes frescas. O Novo Testamento devia até chamar-se Testamento Novo. Jesus nem nunca chegou a velho; morreu novo, mesmo à rock star.
Às vezes gostava tanto que ele voltasse. Íamos beber umas imperiais ao Bairro e falar do sentido da vida. E ele ia concordar com coisas como o casamento entre homossexuais e o uso do preservativos, porque sempre chamou para junto de si pessoas que a sociedade condenava e defendeu o amor e a igualdade. Espalhava os seus ideais, protegia aqueles que amava, que eram todos. Era um pacifista activo.
Digam o que disserem, ninguém me fará mudar de ideias: Jesus era um gajo cool.

sábado, 8 de maio de 2010

Ele avisou




O início de uma paixão é, salvo poucas e disfuncionais excepções, um sem-fim de coisas boas. As qualidades são inúmeras, os defeitos têm graça. Depois, há aquelas características misteriosas, nem boas nem más, fascinantes. Normalmente, são as que mais definem o outro. Normalmente, são as que nos agarram. E têm sempre um lado negro.
O meu amor por ele dura há quase dois anos e meio. Foi no final de 2007 que admiti estar perdidamente apaixonada pelo Rufus Wainwright. O seu jeito diva, as suas piadas e, claro, as suas geniais músicas interpretadas pela sua voz única prenderam-me. Derreti-me quando o seu sorriso branco se abriu e disse "I'm such a princess!"
Este ano, a princesa voltou. E eu, morta de saudades, sentada o mais à frente que consegui. Rufus entrou vestido de negro, preto como o piano, preto como o olho pintado a abrir e a fechar no painel lá atrás. Preto como o novo disco, All Days are Nights: Songs for Lulu. Preto como a alma dessa Lulu, nome para muitas personagens, mulheres tristes, solitárias, insones.
Na primeira parte do concerto, Rufus, the princess, não falou, não deixou que ninguém batesse palmas, fizesse barulho ou entrasse na sala a meio das músicas. Primeira reacção: "que diva! que estupidez!"
Ele avisou.
Quando ele disse que era uma princesa, no Coliseu em 2007, associei isso ao adorável rapazinho mimado, que gosta de receber atenção e visitar o Museu dos Coches. Mas também há o lado negro. A princesa desesperada e altiva, de exigências incompreensíveis, e egocêntrica, tão egocêntrica que não deixa espaço senão para assistir passivamente.
Ao longo das difíceis, fortes e bonitas canções, a indignação acalma, a desilusão dá lugar à aceitação. Afinal, aquilo também é Rufus, aquilo também faz parte dele. Fez-me lembrar de que, quando se gosta, não é só de um bocadinho. É de tudo.
A segunda parte, em que ele surgiu mais leve, de lantejoulas e sorrisos, aquilo que nós melhor conhecíamos, terminou com lágrimas. A morte da mãe pôs assim a nossa diva, que, como é costume, foi na dor que se despiu e se deixou ver tal como é. Foi aí que compreendemos.

Tudo isto para falar do amor. Sei quase nada sobre o assunto. Mas posso garantir com pouca dúvida: se conheces o lado lunar da pessoa que tens ao teu lado e não te mexes um centímetro para longe dela, estás preparado para amá-la.




Para quem quiser saber como foi, aqui.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

O furto já não dá cadeia





Uma destas madrugadas, vou ao banco, "tomo posse" de 1 milhão de euros em notas de 50 e depois vou dar conferências de imprensa.

Usa-se imenso agora, dá fama e visibilidade. A desvantagem é que podem confundir-me com um deputado. E isso, deus me livre.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Seleccione a opção correcta





Depois de meses de noites descansadas, voltei a ter uma insónia das más. Qual a razão?

A. A rejeição "amorosa" mais recente.

B. A derrota do Benfica pelo fcp.

C. Não ter tempo para uma amiga do coração in need.

D. Saber que tinha de levantar cedo para passar o dia a TERMINAR e treinar uma coreografia que ia dançar nessa mesma tarde.

E. Ter dado boleia a Bruno Aleixo e Busto.

F. Todas as acima referidas.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Bloody talk


Hoje, a senhora das radiografias do dentista perguntou-me se eu estava grávida. A dentista disse que os meus dentes são muito pequeninos mas muito fortes.

Não vou falar sobre nada disto nem fazer metáforas patéticas. Vou antes dar-vos cinco razões para ver o True Blood. A minha irmã já me tinha recomendado, mas como ela vê 35 séries ao mesmo tempo nunca a considerei uma rapariga com muito critério no que toca a escolhas televisivas. No entanto, em relação a esta ela está certa (apesar de eu ainda só ter visto dois episódios. sou tão fácil.). Alguma coisa de bom havia de sair da moda dos vampiros.

Ora então:

1. É da autoria do Alan Ball, que escreveu a série Sete Palmos de Terra (a melhor de sempre, ainda imbatível) e o filme American Beauty (amen, amen).

2. Numa das cenas do segundo episódio (chamado First Taste), a música de fundo é precisamente First Taste, da Fiona Apple.

3. O Stephen Moyer (com o cabelo que tem na série e não aquele corte bimbo que usa no mundo real).

4. A certa altura, do nada, durante 1 segundo e meio, vê-se em cima de uma mesa uma revista com o seguinte título: "Angelina adopts baby vampire".

5. O genérico.



terça-feira, 20 de abril de 2010

Há pouco, o P. fez-me escrever assim:


A nossa geração é cobarde, sabes?
Temos muito medo de tudo o que é difícil.
Da dor.
Da perda.
Do sacrifício.
Do compromisso.
Queremos só prazer, prazer, prazer.
E depois admiramo-nos por nos sentirmos insatisfeitos.
Como é que podemos ficar satisfeitos com coisas fáceis?



Obrigada, P. Por, como eu, não quereres entorpecer.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Na floresta



Eu ia devagar, às apalpadelas. Talvez fosse mais o medo que a cautela.
Até que alguém me disse: "caminho livre. Força, podes andar com confiança. É só sol e trilhos certos."
E eu fui.

Mal acelerei o passo, as ervas do chão começaram a crescer e enrodilhar-se nos meus pés. E fui contra uma árvore, plantada discretamente naquele trilho que parecia solarengo. Não a vi ou lancei-me contra ela?

Agora tento refrear o passo. Vou andar devagar de novo, até que possa correr ou até que tenha de parar de vez. Só espero nunca andar para trás.


domingo, 4 de abril de 2010

Este fim-de-semana vi o "Inadaptado".

"Point is, what's so wonderful is that every one of this flowers has a specific relationship with the insect that pollinates it. There's a certain orchid that looks exactly like a certain insect, so the insect is drawn to this flower, its double, its soulmate, and wants nothing more than make love to it. And after the insect flies off, spots another soulmate flower and makes love to it, thus pollinating it. And neither the flower nor the insect will ever understand the significance of their lovemaking. I mean, how could they know that because of their little dance the world lives? But it does. By simply doing what they're designed to do, something large and magnificent happens. In this sense they show us how to live - how the only barometer you have is your heart. How, when you spot your flower, you can't let anything get in your way."

John Laroche

sábado, 6 de março de 2010

Foi assim:

Chegou-se com uns olhos todos azuis a olhar nos meus olhos castanhos que às vezes são quase verdes e no fundo não são nem uma coisa nem outra. E a boca perto do ouvido disse:

- Tu não ficaste com o meu número de telefone?

E pronto. Facas, espingardas, sabres, granadas, rímel XXL - tudo no chão. A maneira mais fácil de desarmar uma mulher é ser-se um homem.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Direito ao voto

O ovo elege Tom Ford como a descoberta do dia.
O próximo passo é ir ver A Single Man, a estreia no cinema de um cérebro bem bonito.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Life on air


Studio 60 on the Sunset Strip*. Season 1 (e única). Episódio 17: The Disaster Show. Uma greve de aderecistas causa o caos no programa de hoje. As coisas correm mal durante o directo: acidentes, imprevistos, brincadeiras de mau gosto. Nervos em franja, gritos, raiva, vontade de mandar tudo à merda e sair dali, em pleno directo.
Fazer o 5 para a meia noite não é fácil. São cinco directos por semana, com convidados diferentes para cada programa. Temos uma hora de sketches, entrevista e momentos live para guionizar. Há cinco apresentadores com personalidades muito peculiares com que lidar, numa encantadora relação amor-ódio (mais amor, pronto). E há ainda que contar com todos os imprevistos que podem assaltar um directo a qualquer momento.
Há, no entanto, uma pequena coisa a favor: temos a sorte de ter o melhor trabalho do mundo. A nossa obrigação é inventar, criar, conhecer e, principalmente, brincar. Um dia frutífero é um dia passado a rir. Claro que é preciso inteligência e frieza suficientes para sabermos distinguir o que são piadas giras entre amigos e o que é material bom para televisão, mas é certo que divertirmo-nos é meio caminho andado para saber que vamos também divertir quem vê o programa em casa.
O primeiro passo para se viver infeliz é levar-se demasiado a sério - cada vez mais me convenço. E é esse dar-se demasiada importância a dramazinhos que não passam de ninharias que põem nuvens de chuva onde devia haver apenas sol. Profissionalismo não é estar sempre nervoso e preocupado. Temos demasiados gritos e demasiada amargura. Demasiada insegurança e demasiada vontade de que chegue ao fim.
Nós não estamos aqui para salvar o mundo, curar doenças, governar países, educar crianças. Existimos para entreter. Só isso. Não criemos cabelos brancos nem apressemos as rugas. Não chamemos as insónias. Não gritemos, não nos zanguemos demasiado, não cultivemos ódios. Não vale a pena, não é assim tão importante. É apenas televisão.
No fim daquele programa do Studio 60, em que tudo o que podia correr mal correu ainda pior, um cast nervoso e uma apresentadora convidada furiosa despedem-se para as câmaras. Da régie, o realizador fala com uma calma surpreendente para o ouvido da apresentadora. No último minuto, recosta-se na cadeira, sorri e diz: "tell me you still didn't have the time of your life tonight".



*Studio 60 on the Sunset Strip é uma série americana sobre os bastidores de um programa late-night de comédia, ao estilo de Saturday Night Live.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

A rapidez com que dei a resposta não deixa mentir: acredito mesmo nisto. Bolas.

J: Marta, tu é que me vais dizer.

Eu: Diz, diz.

J: É legítimo lutar para lá do que é razoável por amor?

Eu: Claro.

J: Obrigado. Sabia que se havia alguém no mundo que iria compreender eras tu.

Eu: Anytime.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

"...e deixaríamos coisas ditas no ar, para continuar interminavelmente. eram coisas que se suspendiam sobre nós, como roupa a secar, e com que nos deparávamos mais tarde, como se lhes batêssemos com a cabeça numa distracção qualquer..."

valter hugo mãe,
em o remorso de baltazar serapião

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

O meu príncipe encantado não vai ter encanto nenhum.



Não te quero com pós mágicos, envolto em luz, de brilho élfico e beleza estonteante (pronto, esta pode ser um bocadinho. Não estonteante, mas assim de fazer tremer ligeiramente os joelhos, vá.). Ilusões. Tudo ilusões.

Tu vais chegar de pés bem assentes na terra, sorriso franco, eu quase nem vou dar por isso. Quando deixar de me distrair com inutilidades, vou olhar e tcharam!, ali estás tu, todo carne e osso (e bons ombros, boas mãos, lindos olhos e uma barbinha de 3 dias, sim?), uma pessoa a sério (e inteligente, culto, engraçado e liberal, ok?) e não um avatar azul. Palpável (convém, claro...) e muito real.

É quando perceber que posso pôr um pé na tua realidade e tu um pé na minha, quando nos sentir a criar uma realidade nossa, que saberei: és o meu homem de sonho.



PS.: Ah! Vai estrear a Princesa e o Sapo e eu vou ver toda vestida de cor-de-rosa. Posso querer armar-me em lúcida e céptica, mas um clássico da Disney é um clássico da Disney.

sábado, 30 de janeiro de 2010

Bora não perder o equilíbrio?



Vejo o abismo. Empurras-me para lá. Dizes que percebes, que sabes que posso cair no buraco, mas mesmo assim empurras-me. E eu faço força nas costas contra a tua mão para me travar (e eu sei que às vezes sinto apenas a tua mão, tão quente, e não penso mais nada). Não sei se não te importas com a minha queda, se não acreditas que ela seja possível ou se não vês o abismo mesmo ali, a metros dos nossos pés entrelaçados debaixo da mesa. Agora, não me venhas dizer que podes cair também. Empurra-me sem pudor, mas não me mintas. Se um dia fraquejo e acredito (e estou absolutamente confiante de que impedirei esse dia de chegar, céus, de onde veio esta lucidez?), não precisas de me empurrar mais; o abismo irá abrir-se num vazio negro que deixará os meus pés sem chão em poucos segundos. E tu ficas preso à realidade por uma corda qualquer. Não me mintas, que com palavras doces eu não sei lidar e a mentira enraivece-me. Só tenho respostas prontas para conversas cruas, transparentes, dessas vindas de baixo. Por isso, mantém-te frio, para que eu não aqueça. Se não me empurrares, eu não caio.

Let’s do it, let’s fall in...what?

domingo, 10 de janeiro de 2010

Freud



please be philosophical
please be tapped into your femininity
please be able to take the wheel from me
please be crazy and curious

papa, love your princess so that she will find loving princes familiar
papa, cry for your princess so that she will find gentle princes familiar

please be a sexaholic
please be unpredictably miserable
please be self absorbed much (not the good kind)
please be addicted to some substance

papa, listen to your princess so that she will find attentive princes familiar
papa, hear your princess so that she will find curious princes familiar

please be the jerk of my knee, i've fit you always
you finish my sentences, i think i love you
what is your name again?, no matter
i'm guessing your thoughts again correctly
and i love the way you press my buttons
so much, sometimes i could strangle you

papa, laugh with your princess so that she will find funny princes familiar
papa, respect your princess so that she will find respectful princes familiar
papa, love your princess so that she will find loving princes familiar
papa, cry for your princess so that she will find gentle princes familiar

please be strangely enigmatic
please be just like my...

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Ontem, no facebook, chamaram-me snob. Pois fiquem a saber que donde esta veio, veio outra ainda pior

Rita: Sofia, sabes o que me podias fazer na próxima semana? A depilação. Não te apetece?
Sofia: Not really...
Rita: Vá lá! Como é que não te apetece? Tu adoras espremer borbulhas e pontos negros, como é que não te dá prazer arrancar pêlos? Isso é um distúrbio na tua personalidade, sabias? Temos de admitir, tu tens um piquinho a esteticista, só não te chamas é Vanessa.
Sofia: Se eu me chamasse Vanessa, não era designer.
Rita: Oh podias ser, mas tinhas um pseudónimo.
Sofia: [muito séria] Acredita que não podia, todos os nomes têm o seu karma.