sábado, 1 de agosto de 2009

25 anos e 4 livros

1. "I am alone in the dark, turning the world around in my head as I struggle through another bout of insomnia"

Foi mais uma noite em que mal dormi. Mas daquela vez não me importei. Estava a começar o dia do meu aniversário e não era o cansaço que me impediria de festejar, com a família, os amigos, os novos e tão simpáticos colegas e comigo mesma, afinal quem faz anos sou eu. Andei zonza o dia todo, mas sorri sempre e disse obrigada a quem me beijava e abraçava. À noite, recebi todos em casa de braços abertos, risos e saltos altos.


2. "Eu, Mwanito, o afinador de silêncios"

Contudo, eu, Marta, não gosto especialmente de silêncios. Festa de anos é barulhenta, com barulho de conversar, de rir, de cantar, de chorar de bebé. É assim desde sempre. Gosto dos Parabéns cantados muito afinados, como só os Lopes sabem fazer, e das palmas e dos gritos, todos afinados numa melodia complexa, inesperada, de notas surpreendentes. Parece uma confusão a quem não está habituado, mas as minhas festas não são confusas: são exactamente no tom ideal.


3. "Era um abutre que me bicava os pés. Tinha já rasgado as botas e as meias e agora bicava os próprios pés."

Tentei ignorar que eram 25 anos e que a minha prima, quando o ano passado completou a mesma idade, ouviu da nossa querida prima Sara (que já leva mais um Lopes na barriga!!): "25! Foi com essa idade que casei!" A Sara prometeu que não me diria o mesmo e cumpriu. Mas, caramba, que é difícil não pensar que é um quarto de século e que não tenho nada que possa chamar meu (além da minha pequena biblioteca e da minha pequena discoteca, my precious). Casamento? Continua a ser um sonho longínquo, como há 10 anos atrás. Tentei ignorar e lembrar-me de todos os que, na noite anterior, no estúdio do 5 para a meia noite me disseram: "só 25? Quem me dera..." Mas o sacana do abutre do tempo a morder os pés, a bicar, a bicar.

E pensei inevitavelmente naqueles que não me deram os parabéns. Não sejamos hipócritas: todos fazemos uma lista mental de nomes que vamos riscando ao longo do dia. No fim, se tudo correr bem, ficam apenas dois ou três na folha inventada na cabeça. Mandamo-los para o sotão do cérebro, aquele sítio escuro e sujo onde entramos o mínimo possível. Mas sabemos que, entre más memórias, gente que passou veloz e teias de aranhas, eles estão lá: aquelas pessoas que gostávamos que se tivessem lembrado, mas não se lembraram. Nem no dia seguinte, nem passados dois dias.

No entanto, chegando ao fim, o que conta é só isto (e isto):



Saber que consegui juntar-nos a todos (apêndices incluídos. Só faltou o Berton!). Estes sorrisos que não estavam juntos na mesma fotografia há tantos meses. Estas carruagens (e as outras, as de sangue e amor, a querida e SEMPRE presente família), todas tão diferentes, mas que se ligam num comboio único.

4. "Esse comboio era um pedaço de vida no meio de toda a terra moribunda"



1. Man in the Dark, Paul Auster
2. Contos, Franz Kafka

3. Jesusalém, Mia Couto
4. O Velho Expresso da Patagónia, Paul Theroux


* Todos estes livros vieram parar-me às mãos em forma de presentes. Obrigada.

4 comentários:

ana cláudia disse...

que lindo! estás cada vez melhor* no dia a seguir ao teu vi-me frente a frente com o "Jerusalém", nos CTT, e encantei-me durante os minutos de espera. se calhar vais emprestar-me =).

Ela adormecida disse...

"the heart's a lonely hunter". Não deixes que o teu coração se amarre à escuridão, querida. O que é teu aos teus braços vai parar, no momento em que me menos esperas. Tu sabes como tem sido comigo... *abraço-te*

primes disse...

ai a cara da mafas !!!!!

Ana das Pontas disse...

Hey, é preciso cuscar o facebook para descobrir que também blogas?? =D

Parabéns hiper-mega atrasados!!

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