domingo, 5 de setembro de 2010

The Marc Pease (scary) Experience ou Porque vale a pena olhar duas vezes para o bilhete de cinema

Cá vai disto.

Sexta-feira foi noite de ir ao cinema com a Ana, amiga que a Gema me deixou em herança. Decidimos ver The Box, um filme com a Cameron Diaz que não é uma comédia romântica (já aguça a curiosidade, não é?). Tive o cuidado de olhar para o cartaz e dizer o nome em português, a tradução literal "Presente de Morte", "dois bilhetes para..., um com Medeia Card".
Entrámos, a tempo de ver alguns trailers e, em surdina, fomos comentando outros filmes que estavam em cartaz. Um deles, tinha a actriz Anna Kendrick, que fez um trabalho brilhante no não menos brilhante filme Up in the Air. Comentei:
- "Aquilo deve ser uma comédia qualquer, é com o parvo do Adam Sandler. Deve ser muito mau."
De repente, começa o filme. Aparece Jason Schwartzman e, logo a seguir, Adam Sandler. "Não, este é o Ben Stiller", diz a Ana. Pronto, o Ben Stiller. Para mim, são uma e a mesma pessoa. Começamos por rir nervosamente. "Então mas este também entra aqui. Ah ah ah... nós a dizermos mal... ah ah ah". O riso pára quando eu decido olhar para o bilhete e leio "A Vida Desafinada". Pânico! Raiva! Então não é que a FDP da mulher da bilheteira nos deus bilhetes para aquilo?? Enganada, que eu tenho a certeza de que disse "Presente de Morte", uma pessoa não esquece que disse "Presente de Morte".
Como a hora já não permitia ir trocar o bilhete nem ver outro filme, respirámos fundo e pensámos que o filme seria assim uma espécie de despedida do Verão e do seu cinema tonto. Podia ser que ainda desse para rir um bocadinho com a comédia e chorar um bocadinho com a romântica.
Mas aquilo nem era comédia, nem era romântica, tinha música mas não era um musical. Posso dizer-vos muitas coisas que o filme não é, mas não consigo descobrir o que é. A Ana adormeceu. Eu nem consegui, de tão atónita.
A Anna Kendrick a fazer de miúda de 18 anos, numa escola secundária que vive para o dia em que põe em cena um musical inspirado no Feiticeiro de Oz. O Jason Schwartzman com um cabelo indiscritível. O Ben Stiller a fazer de Tom Cruise, tendo em conta os gestos, as expressões e o corte de cabelo. E todos eles, mais os personagens secundários, pareciam atrasados mentais. Um filme de gente retardada para gente retardada. Eu ainda tenho a sensação de que aquilo é cinema de beneficiência, organizado pela CERCI de Los Angeles, e que os bilhetes revertem a favor dos actores considerados cidadãos inadaptados. Por uma questão de altruísmo, as senhoras da bilheteiras têm ordens para dar bilhetes daquilo às pessoas, como se fosse por engano.
Só pode ter sido por bondade que a Kendrick, depois de nomeação para Óscar e tudo, e o excelente Schwartzman aceitaram fazer um filme em que o Ben Stiller canta e em que um grupinho tipo Tetvocal faz um medley que temos de ver... na íntegra.
E quando se pensa que há ali um conflito e que a personagem vai finalmente revoltar-se e dar porrada nos maus e reconciliar-se com a garota ao pôr do sol, o filme acaba. Nem ele faz chantagem com o mau, apesar de ter provas de que este andou a mexer com a miúda dele, nem acaba aos beijinhos com ela. Acaba ao piano... a cantar.
Quando derem por vocês a pensar "aaah, não tenho nada para fazer, vou ver aquele em que o Adam Sandler, ai, não, o Ben Stiller canta e não sei quê", pensem melhor. De certeza que têm alguma coisa mais interessante para fazer. Tipo contar manchas de bolor no tecto. Ou olhar para uma parede branca. Ou ler no IMDB a filmografia do Adam Sandler.



PS.: Há aqui coisas que parecem ter uma ligeira piada, mas é só porque estão retiradas do seu contexto. Não se enganem.

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