domingo, 30 de janeiro de 2011

Parvos que somos



Houve lágrimas nos olhos, ontem no Coliseu de Lisboa. E não foi com o "Clandestino" ou o "Passou por mim e sorriu". Foi com esta que aí está.
Ontem, assisti a um fenómeno com que nunca me tinha deparado. O público inteiro aplaudiu a letra de uma canção. A cada verso, os aplausos ressoavam cada vez com mais força. Não foi o single, não foi aquela tão animada, foi esta canção que aí está.
Os Deolinda resolveram abandonar metáforas e recursos poéticos. Nesta letra, não há segundos sentidos. E, por isso, eu também vou deixar de lado a estética da escrita para dizer o que penso.

A minha geração é, provavelmente, a mais bem qualificada de sempre em Portugal. Nós estudámos, e estudámos mesmo, para podermos ser aquilo que queremos ser. Não é capricho. É querer fazer bem feito, é não querer ir para o mercado de trabalho à toa, é querer chegar às empresas mais bem preparado. As empresas deviam agradecer isto: haver gente nova, de ideias frescas, pronta para arregaçar as mangas a trabalhar. Esta gente nova devia ser compensada e não castigada.
Esta gente nova gosta de viajar, ir para os copos e tem altas ambições. "Querem logo ser chefes, deviam saber o que é lavar escadas". Lavarei escadas se isso for necessário para alimentar filhos, mas não, não quero saber o que é lavar escadas. Porque eu gosto é de fazer outras coisas e, por isso mesmo, é que fui estudar essas outras coisas. Uma licenciatura não é uma tarefa assim tão fácil de concluir.
Quando saímos da faculdade, depois de 4 anos de aprendizagem em cima, o que nos espera são estágios "curriculares". Ora, como o próprio nome indica, um estágio CURRICULAR faz parte do currículo da faculdade e tem de ser feito em conjunto com o estabelecimento de ensino. Fazer um estágio depois de curso feito, sem que a faculdade o exija, e não ser remunerado, não é uma coisa "curricular". Como nos avisava constantemente o professor de Deontologia, trabalhar sem receber tem um nome: é escravidão. E, como dizem os Deolinda, estamos num país onde "para ser escravo é preciso estudar". Um estágio, mesmo que profissional e remunerado, é um momento de formação, é para aprender. Por isso, uma empresa que abra estágios porque precisa de mão de obra, está a agir de má fé. Muitas vezes, até exigem uma data de conhecimentos e disponibilidades. Nós, com os conhecimentos, oferecemos a nossa disponibilidade. E o pânico é tal que nem pensamos naquilo que ganhamos de volta. Uma vez vi um anúncio de uma revista online regional de um sítio qualquer por trás do sol posto a pedir "estagiários não-remunerados" (sim, já chegámos a esta falta de vergonha). E eu pensei: mas que raio vou eu aprender numa revista online regional de onde Judas perdeu as botas? O que ganho em troca? Nada.
Depois da fase dos estágios, lá conseguimos um primeiro trabalhinho pago. Pago como? A recibos verdes, obviamente. Após um primeiro ano de isenção de impostos, começamos então a saga de dar uma quantia absurda ao estado. São 160euros para a segurança social. Mesmo que só se ganhe 300euros. Como um recibo verde é um "trabalhador independente", não há cá ordenados mínimos. Nem há subsídios de férias. Nem de Natal. Nem décimo-terceiro mês. Nem baixa. Nem coisa nenhuma. E porquê toda esta falta de direitos? Porque, segundo a lei, também não temos muitos deveres.
No mundo real, isto é uma mentira bem transparente. Um recibo verde não deve ter chefes, horários, locais de trabalho. O recibo verde é para o trabalhador independente, que toma conta de si. Mas o que acontece é que estamos todos a passar recibos verdes e a responder a chefes, que nos exigem presença diária no local de trabalho e cumprimento de horários. Isto é ilegal. E estamos todos coniventes. Foi-nos dada a possibilidade de denunciar a empresa. Até nos perdoam a dívida à segurança social! Caramba, e se nós temos provas! O recibo passado com a mesma quantia para a mesma empresa há meses e meses. Os emails com a divisão de horários. Os emails com as exigências. Mas e se os denunciarmos? Contaram-me de uma rapariga que denunciou a Visão. Ganhou. A Visão pagou uma multa e a rapariga nunca mais pôs os pés na Edimpresa. Não temos proteção. Ou temos um novo emprego à nossa espera (o que, com esta taxa de desemprego, não é coisa provável) ou a única vítima de um processo legal somos nós mesmos. Quem se lixa, como toda a gente sabe, é o mexilhão.

Tenho uma amiga que trabalha na redação dum grande portal de notícias. Foi a melhor aluna da faculdade do curso de jornalismo. É a melhor jornalista que conheço. Trabalha há 4 anos a recibos verdes. Não tem tempo para ganhar dinheiro noutros lados, os seus dias (incluindo fins-de-semana) são dedicados àquele trabalho. Ela e os colegas pediram que a sua situação fosse regularizada: um contrato já seria obrigatório há muito tempo. Não lhes foi concedido o cumprimento da lei, que eles não tinham sequer de ir pedinchar. Com o novo código contributivo para a Segurança Social, foram então pedir mais 50euros para cada um (não soa a esmola?). Disseram-lhes que não, que não havia dinheiro, que até teriam de mandar gente embora. Dias depois, foram coagidos a ir à festa de Natal da empresa (que é das maiores do país). Tinham de mostrar que eram uma equipa, que também faziam parte, apesar de se sentirem outsiders. No meio da festa, ali estavam eles, sentadinhos, a ouvir o patrão dizer que o fecho de um negócio ia permitir dar um prémio de 1200euros a cada empregado. Palminhas, sorrisos, e o silêncio de centenas de pessoas. É que os recibos verdes não são empregados da empresa, por isso, nada de prémio para eles.

Tenho outra amiga que trabalha na mesma produtora há mais de três anos. Recibo verde. Ganha menos agora do que ao início. Com o fim do ano de isenção, passou a ter de tirar uma fatia para a segurança social. Depois, outra fatia para o IVA. Este, que devia ser COBRADO à empresa, é-lhe retirado do seu ordenado. Com o pânico do que aí vem de segurança social, foi pedir que revissem a sua situação (já que tinham sido feitos contratos a colegas seus). A chefe ainda teve a lata de fazer o papel de dama ofendida, ela que elogiava tanto o seu trabalho e tanto apostava nela. Ela sentadinha no seu gabinete com candeeiros de 100euros que nunca foram acesos.

Pois é, meus senhores. Elogios não pagam alugueres de casa. Temos quase 30 e queremos mesmo sair da casa dos pais. Queremos seguir a nossa vida. Queremos casar e ter filhos e perpetuar a espécie (será que vale a pena?).
Não nos venham dizer que não há dinheiro. Depois de o programa onde trabalho ter posto a RTP2 a aparecer nos gráficos de audiências, a RTP cortou o nosso orçamento em 12%. Qual é a primeira coisa que se faz? Cortar os ordenados em 12%, claro. A RTP não tem dinheiro, dizem. Não tem? E os milhares que se pagam a pessoas como o José Rodrigues dos Santos, que maior parte das vezes nem deve pode ir fazer o seu trabalho porque tem de estar a escrever remakes do Dan Brown? E o iPad que o meu professor de TV na pós-graduação, trabalhador da RTP, ia exibir para a aula? A afirmar, ainda por cima, que aquilo era revolucionário, porque as pessoas iam usá-los no autocarro. Meu senhor, as pessoas que andam de autocarro não podem comprar iPads! E a contar como a RTP organizou o encontro mundial de broadcasters todo cheio de hors d'oeuvres? Há dinheiro, sim! Normalmente não vai é para quem mais trabalha.

Aqueles aplausos no concerto fizeram-me perceber com clareza de que estamos todos fartos. Estamos mesmo fartos. Até queremos lutar. Mas lutar contra quem? Contra o governo que não fiscaliza as empresas e não protege os seus trabalhadores? E vamos deitá-lo abaixo para ir para lá um mais à direita que ainda vai fazer pior? Contra as empresas chupistas que se apoiam no pânico em que estamos para pôr a trabalhar gente em terríveis condições e ainda ter a atitude de quem está a fazer um grande favor? Contra os mercados internacionais no geral? Contra os especuladores da bolsa, que dão cabo disto tudo sem sequer lidarem com dinheiro real? Contra os nossos pais que nos fizeram acreditar que, se estudássemos muito, íamos ter uma boa vida? Lutamos contra quem?

O que andamos a fazer é a fugir. Vamos embora daqui, porque aqui ninguém nos dá valor. Muitas vezes, sabemos mais que o conjunto geriátrico que possui as empresas, mas temos de andar a lamber-lhes as botas. Fora daqui ainda há sítios onde as empresas sabem que sem trabalhadores, não funcionam. Que precisam deles. Que, para os terem, têm de lhes pagar. Que valorizam o mérito, que estão atentas e premeiam quem faz bem.

Só faria efeito se nos juntássemos todos e todos recusássemos trabalhar em certas condições. Mas isso não existe. Se eu recusar, há 20 atrás que aceitam e ainda perguntam quanto é preciso pagar. Porque estamos em pânico. Porque a luta não nos dá dinheiro com que sair da casa dos pais, com que conhecer o mundo, com que comprar livros e música e filmes.

E é por medo que vamos continuar todos aqui parados, a tentar descobrir onde podemos ir buscar mais uns euros, a pedir licença aos pais para ficar ali só mais um bocadinho, só para ver se no mês que vem ainda tenho trabalho. Vamos continuar todos aqui, precários, a ser parvos. Só à espera do próximo avião.

20 comentários:

Pedro Espírito Santo disse...

Muito, muito bom! Eu também estive ontem no Coliseu e a música nova foi de facto o momento alto do concerto. Surpreendentemente plaudida a cada estrofe, nunca pensei que uma música nova, que ninguém conhecia, tivesse tanto impacto no público. Arrepiei-me.

Eu também sou um desses tristes trabalhadores independentes que começou agora a fazer descontos e que já começa a repensar a vida. Porque isso NÃO PODE SER vida para ninguém. Não podemos adoecer sob o risco de não termos como pagar as contas, a renda, o supermercado. Não tenho perspectiva de evolução na minha empresa porque ela simplesmente deixou de existir. Novas medidas de contenção. Já começo as ponderar um novo part-time, a fazer o que houver para fazer. A minha média de 16 valores durante os 5 anos de licenciatura de nada serve e até para alguns trabalhos menores ser licenciado é sinónimo de excesso de competências e quase temos de implorar para conseguir um trabalho a dobrar roupa numa loja para ganhar 300 euros ao final do mês.

De falar em avião, se calhar esta seria mesmo a melhor altura para entrar num e tentar a sorte noutro lugar. Aos 25 anos, nunca me apeteceu tanto.

Parabéns pelo texto!

Paulo Tuba disse...

Li o seu texto. E gostei muito! Muito mesmo!
Talvez seja a hora de se fazer uma revolução, essa tal luta contra quem não se sabe quem. Talvez seja hora dessa gente preparada pelas licenciaturas deixarem de reclamar (só reclamar, eu quis dizer) e já que não têm direito ao Estado paternalista, utilizar toda esta vontade e capacidade desperdiçada e empreenderem de facto! Fazer como deve ser feito! Revolucionar tudo e mais alguma coisa. Mas com actos e... de verdade!
A palavra-chave é iniciativa. Ou então corre-se o risco de continuarem a ser criticados por acharem que ao concluírem a licenciatura têm direito de estar no mercado de trabalho.
Reflexões, meras reflexões!

Gabi disse...

PARABÉNS! Aqui está tudo o que me vai na alma e que me custa a escrever, dado que sinto a minha mente a derreter com tanta falta de entusiasmo... PARABÉNS MAIS UMA VEZ.

esgana disse...

Minha querida amiga, é um orgulho ler aquilo que melhor representa o estado da nossa geração nos dia que correm.
Como educador começa a ser difícil continuar a dar esperança às dezenas de jovens que passam pela nossa escola superior.

Mas tem de haver alguma coisa que se possa fazer... eu percebo que para muitos é difícil dar a cara, porque certamente vão receber na pele as represálias dos patrões... mas há maneira para dar a volta à questão.
Porque não criar um site com pequenos documentários a denunciar estas grandes e pequenas empresas que bem descreves no texto, sem identificar as pessoas que prestam os testemunhos?

Fica aqui o meu input e a minha disponibilidade para me juntar a uma qualquer acção que possa vir a ser feita.

Unknown disse...

Estamos a começar a ser um país de emigrantes e a deixar de ser de imigrantes, mais uma vez. Na nossa história costuma ser sinal que as coisas estão mal por cá.

Há mais licenciados que nunca, mas porque o mercado mudou? Porque havia procura de tanta mão de obra qualificada?

Dificilmente.

Parabéns pelo post, vejo nele a verdade dos meus dias.

Ricardo disse...

Epá ganda texto. É isso tudo e mais alguma coisa, sem dúvida. És grande!

Nuno Lopes disse...

Naturalmente de acordo...e apesar das diferenças que tanto nos unem :). Eu também estudei, para ser e fazer melhor. Apesar da dedicação fui empurrado para fora, fui obrigado a sair. Aquele país pelo qual sempre estive disponivel e disposto a dar a vida (estupido). A distancia que me separa permite-me perceber que o que está, está mesmo mal...e que os que mandam, mandam mesmo mal. Sempre fui contra manifestações, greves, contra tudo o que alterasse o normal funcionamento "das coisas" e do estado. Mas o estado lixou-me e correu comigo...e mudou-me. Pena que não sairá do papel, ou do ecran, tudo o que em conjunto pensamos e sentimos, porque esse país é Nosso e a obrigação é Nossa.

Eduardo Castro Fonseca disse...

Boa tarde,

Este texto resume, e muito bem, todas as nossas frustrações actuais partilhadas em casa, entre amigos, que pareciam ser só nossas mas que na verdade afectam toda a gente.

Como com vocês os meus pais sempre passaram a mensagem de que estudando tudo ficava bem, mas bastou querer uma profissão algo fora do adequado à sobrevivência para me lixar redondamente.

Vim com uma licenciatura do estrangeiro (não porque queria passar à frente, mas porque não havia correspondência adequada em Portugal) a correr de volta para Lisboa, para me rejeitarem por ser sobre-qualificado e outros palavrões semelhantes. O resultado... nova investida no estrangeiro, mais qualificações, porque parado não consigo ficar. Sinto-me como se tivesse a passar novo atestado de estupidez.

Pior do que tudo isso é não partilhar da esperança de alguns de que isto venha a mudar.
Enquanto houver aqueles que aceitam o que eu recuso como exploração nada vai mudar.
Porque seria pedir de mais que tudo funcionasse em local tão belo.

Henrique Mário Soares disse...

Boa tarde.
Aqui está toda a revolta de uma geração que se deixa amedrontar que se deixa resignar, talvez porque deixou de acreditar que é POSSIVEL UMA MUDANÇA. Apesar de não seguir nenhuma religião existe um ditado que diz...Quem muda, Deus ajuda. e no meu entender está na hora de MUDARMOS. Com festas e bolos se enganam os tolos e o tempo de festas acabou, agora é o TEMPO DE SERMOS TODOS EGIPCIOS...
Are you ready ???
Eu estarei na linha da frente.
Atrevam-se
Hasta lá vitória siempre
Che.
Um abraço
A LUTA CONTINUA

Mcarmo disse...

Muito bem. A realidade nacional espelhada nestas palavras. Apenas gostaria de acrescentar algo, esta frustração não é exclusiva de qualquer geração, é antes, uma realidade que atravessa todas as idades, porque, infelizmente, hoje, mesmo quem trabalhou uma vida inteira, viu o mundo desabar a seus pés, não por não ter investido, não por não ter arriscado, mas por isso mesmo, por ter querido fazer alguma coisa pelo País onde nasceu. Aceitar-se-iam os sacrificios se estes fossem repartidos por todos e se apostasse na criação de riqueza, na definição de targets que não passem apenas por exportar a qualquer custo, mas que definam o que fazer a médio e longo prazo. No entanto o que fica, o que ouvimos e lemos, são desmandos duma classe perdida na sua própria teia de compadrios e favores, veja-se o caso hoje noticiado da taguspark. Não acredito que o actual modelo politico, seja capaz de mudar seja o que for. Se atentarem nas declarações politicas verão que são apenas isso mesmo, intenções pressecutórias dum objectivo, o de atingir o Poder pelo Poder. Gostava de estar enganado...

Marco G Teixeira disse...

Não sou muito de comentários em blogs mas não posso deixar de comentar este post. Desde já os meus parabéns pelo texto de desabafo, é realmente importante para mim saber que há pessoas que ainda têm consciência do que está errado e de como devia ser para estar certo.
É verdade que tudo neste país está errado, e está errado porquê? É muito simples, nós Portugueses que temos uma história memorável continuamos a viver dela.. Até esta nova geração vive dessa história e não se dá ao mínimo sacrifício para mudar. Eu ainda sou um aluno da Escola Superior de Comunicação Social a meses de acabar o meu curso e tenho a grande sorte de já ter propostas de trabalho do estrangeiro as quais não vou hesitar em aceitar. O mais engraçado é que já abdiquei de algumas destas propostas para ajudar amigos, já licenciados, que se encontram nos tais estágios profissionais ou já com contractos de trabalho a ganhar 500 euros por mês... para meu espanto já alguns deles recusaram ir sequer a uma entrevista de trabalho, que os levaria para fora do país, porque não se imaginam a sair daqui. Obviamente que muitos dos recém licenciados Portugueses já abriram os olhos mas a verdade é que a grande maioria continua com esta mentalidadezinha limitada.
Revoluções? Esqueçam isso porque parece que a nossa formação Superior nos tirou a coragem dos nossos pais e avós que levaram à mudança deste país, parece que somos mais formados mas mais burros, mais fracos, mais acomodados, somos uma vergonha para a história de Portugal a que nos agarramos. Este tema dava "pano para mangas" (deveres de voto, desinteresse politico...) mas não vale a pena bater mais no ceguinho.
Mais uma vez Parabéns!!

Piloto Automatico disse...

Bravo!
Vou linkar, se não fizer diferença desse lado...
Mais uma vez Bravo!
Bjs
F

P disse...

Eu também lá estive. E pareceu-me sentir o que pode ser um começo, um sinal que precisa de ser amplificado... a "geração mais qualificada" pode fazer melhor, sobretudo se fugirem do mal que nos atinge enquanto povo: a medicoridade. Livrem-se dela, desde logo da que vos tenta directamente. Sonhem alto, mas "bom". Temos que saber fazer melhor que "isto".

Anónimo disse...

Sou mais uma que começou com estágio profissional, subsidiado em grande parte pelo Centro de Emprego e apesar da nota excelente não fui contratada. Os Centros de Emprego têm muita responsabilidade nisto. Há instituições que vivem disto: estágios curriculares e nunca ficam com o estagiário. Acabou o estágio, a seguir vem outro. E o IEFP deixa! A única diferença no meu caso foi que me propuseram ficar... a RECIBO VERDE. 1 ano e meio depois dispensaram-me porque "não tinham dinheiro para me continuar a pagar". Isto apesar de reconhecerem que gostavam muito do meu trabalho. Por ter aceitado aquela oportunidade acabei por abrir mão de outras. Foi a pior coisa que fiz porque na ânsia de agarrar um pássaro com medo que saíssem todos a voar, acabei desempregada e com muitas dificuldades em voltar ao mercado de trabalho. Escusado será dizer que eu tb tinha horário fixo. Nunca fui trabalhadora independente. Longe disso!


Carla

Anónimo disse...

muitos, mas muitos parabéns pelo texto.
vamos fazer disto um movimento e "mexer".
sem nós, não sao ninguém.

http://www.facebook.com/home.php?sk=group_123009517771598

mais uma vez muitos parabéns pelo texto.
está a espalhar se pelo facebook, e mais do que "partilhar" é tambem agir!

Miguel disse...

Perdoem-me a falta de acentos, mas os teclados gregos sao um atrofio.

Gostei do post!
Quanto as conclusoes, devo dizer q aos 26 anos decidi que chegava de Portugal, e que ir trabalhar para fora era o mais certo a fazer. Assim fiz, e vim para a Grecia, esse pais com uma crise tao profunda que todos com quem falei se assustavam com tao ousada atitude.
Foi com enorme espanto, que quando ca cheguei, descobri um pais em que a qualidade de vida, a todos os niveis, nao se compara de modo algum aquele que temos no nosso lindo pais.
Mais impressionado fiquei, quando descobri toda uma geracao jovem, que, vivendo com muito mais condicoes que qualquer um de nos, luta afincadamente contra o poder instituido.
Querem uma solucao? E facil. Juntem-se e organizem-se, facam manisfestacoes, divulgem informacao e mostrem a esses senhores que estao no poder, que a nossa geracao e mais educada, mais capaz e mais humana do que algum dia eles foram, e que, a nossa vontade e valores, sao a chave para mudar a realidade de Portugal.
Levantar o rabinho do sofa e cultivar as ideias certas na populacao, e o primeiro passo para a revolucao.
Aqui, todos os dias, com pequenos passos, essa revolucao envolve mais e mais pessoas, portanto, nao vejo porque ai nao pode funcionar.
Se a maior parte de vos, visse o poder que a populacao jovem tem aqui e o medo que o estado grego tem dos estudantes universitarios, percebiam que a resposta somos nos.

Tenho pena de ai nao estar para poder atirar a primeira pedra.

De um sempre companheiro!

Anónimo disse...

Grande texto, ó Clarita. Cheio de som e de fúria (and meaning something)... mas inteiramente inútil. Tu e a tua geração (e eu, também "independente", ainda que pushing 43) vivem no que se chama sujeição económica: nem faca nem queijo, apenas as mãos, disponíveis para o trabalho, ansiosas (como em ânsia e ansiedade) por trabalho, por pouco mais que nada. E pouco mais que nada, ou nada, ou menos que nada, é aquilo que quem tem poder económico está disposto a oferecer-vos (há uma ironia nesta ideia de "oferta de trabalho"). Sujeição económica também por outro lado (e aqui generalizo grosseiramente, para ser sintético): a tua geração é a primeira neste país a ter crescido rodeada de abundância (a minha família era relativamente privilegiada, mas não havia nesse tempo praticamente o que consumir - na acepção mais lata - para além do básico: no brands, no logo, no nothing, e a ostentação era mal vista) e a ter-se habituado a ela. A primeira geração deste país a tê-lo confundido com um país desenvolvido, a ter acreditado estar na Europa... Como diziam os Pulp: we (vocês) were brought up on the space race, now they expect us to clean toilets, canudo numa mão, esfregona na outra, e gratos e reconhecidos quando encontram toilets to clean... Portugal é um país improvisado que durou o que durou porque os outros deixaram que durasse (e ganhavam com isso). Agora acabou. Resta-nos - a todos - deitar-nos ao mar e esperar que a morte não tarde. Graças a Deus, não é perspectiva que me atemorize, ou me faça verter lágrimas (de cobra): já desisti de tudo há muito tempo. Mas desejo-vos sinceramente a melhor das sortes.

Anónimo disse...

A censura existe..Porque razão as rádios não passam a canção dos Deolinda , assim como não passaram nem passam as canções do Paco Bandeira(TGV) e a dos Xutos que fala sobre o 1º ministro?
Só há uma razão , a CENSURA existe, os média estão vendidos á censura de Sócrates.
JNunes

Unknown disse...

So quero agradecer a todas as pessoas que se estao a manifestar neste momento critico que o nosso pais atravessa. O nosso pais precisa de mudar e a situacao vem se alastrando a muito tempo.
Eu nunca trabalhei em Portugal. Mal terminei a minha licenciatura decidi sair. Sou emigrante a 5 anos. Sempre me disseram "estuda para teres um futuro melhor". Estudei arduamente como milhares de adolescentes o fizeram para depois nao encontar saidas profissionais dignas.
Poderia ser pior se tivesse nascido palestiniano, chines, mexicano ou somali. Mas tambem poderia ser melhor se tivesse nascido canadiano, brasileiro, finlandes. Mas nao, nasci portugues. Ha coisas que admiro no nosso pais e na nossa cultura.
Depois de uma curta viagem pela Asia, compreendi como os povos com os quais "estabelecemos relacoes comercias" na altura da nossa grande Epopeia dos Descobrimentos nos veem. Roubamos matamos, violamos so por dinheiro. Nao foi bem isto que nos ensinaram nas aulas de Historia. Sempre me senti orgulhoso da nossa historia, mas que pais e este que nos encanta com os nossos feitos e depois nos despreza e escraviza?
Gostaria de voltar a Portugal porque abdiquei da minha familia, amigos e cultura.
A geracao dos nossos pais teve a Guerra Colonial o nosso fado e a precaridade, o desemprego e a injustica social. Portugal tem que mudar.

Desculpe os erros ortograficos, o meu teclado nao me permite colocar acentos nas palavras. Obrigado.

Unknown disse...

uma grande musica sem duvida, que fez com que cerca de 300mil pessoas de mobilizassem e fossem para a rua manifestar se