A menina abriu o armário e tirou quatro ovos. Cozido? Estrelado? Mexido? Escalfado? Hoje vai comê-lo cru.
sexta-feira, 19 de junho de 2009
É música. É amor perfeito.
Uma mulher nua, estão a ver? Alguns devem mesmo estar a ver, literalmente, (seja real ou toda de plástico, encontrada nesses meandros da internet), outros não têm bem a certeza do que isso é e outros não se lembram. Os homens, claro. As mulheres vêem todos os dias e às vezes não queriam nada.
Mas voltando ao que importa - uma mulher nua. Curvilínea, cintura fina e anca larga, mulher à séria, como as de antigamente. Abandonada, encosta a cabeça no ombro do homem que a segura, a respiração dela no pescoço dele, numa postura de confiança total. O encaixe é delicado mas firme, os dois corpos só podiam pertencer ali, um ao outro. O homem olha-a apenas muito raramente, porque não precisa de mais. Conhece-lhe o jeitinho mimado, sabe que mão posta um milímetro para lá do sítio exacto fá-la reagir agressivamente, desafinada de tão ferida. Mas ele não teme. As pontas dos dedos percorrem um caminho perfeito, sabido de cor, que, no entanto, parece repleto de surpresas, de mudanças súbitas, de novas escolhas.
Ela reage a cada toque, mesmo ao mais subtil. Geme de voz fina e suplicante, respira forte de voz quente e baixa. Ele varia com ela - ora sorri levemente com cara de Primavera, ora franze as sobrancelhas numa expressão dorida; ora a trata com movimentos bruscos de quem quer mostrar controlo, ora a embala numa sintonizada dança a dois que parecem um.
É um homem e o seu violoncelo. E a música que dali sai, tão íntima, quase dá vergonha de ouvir por nos sentirmos intrusos num amor perfeito.
Recebi mais uma carta da Holanda. Desta vez vinham três cds com tesouros lá dentro e um postal. Neste, a bela cidade de Utrecht e a letra verdadeira do lindíssimo Violoncelista Holandês. Em cima "Olá, Marta!" (assim mesmo, em português); no fim "Beijos" (assim mesmo, em português). Discretamente antes da assinatura,
"love life".
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1 comentário:
Que lindo! Isto sim é um homem, que aprende a nossa língua e inspira um texto destes... romantismo na sua forma mais pura, sem romance.
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