Vejo o abismo. Empurras-me para lá. Dizes que percebes, que sabes que posso cair no buraco, mas mesmo assim empurras-me. E eu faço força nas costas contra a tua mão para me travar (e eu sei que às vezes sinto apenas a tua mão, tão quente, e não penso mais nada). Não sei se não te importas com a minha queda, se não acreditas que ela seja possível ou se não vês o abismo mesmo ali, a metros dos nossos pés entrelaçados debaixo da mesa. Agora, não me venhas dizer que podes cair também. Empurra-me sem pudor, mas não me mintas. Se um dia fraquejo e acredito (e estou absolutamente confiante de que impedirei esse dia de chegar, céus, de onde veio esta lucidez?), não precisas de me empurrar mais; o abismo irá abrir-se num vazio negro que deixará os meus pés sem chão em poucos segundos. E tu ficas preso à realidade por uma corda qualquer. Não me mintas, que com palavras doces eu não sei lidar e a mentira enraivece-me. Só tenho respostas prontas para conversas cruas, transparentes, dessas vindas de baixo. Por isso, mantém-te frio, para que eu não aqueça. Se não me empurrares, eu não caio.
Let’s do it, let’s fall in...what?
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