sexta-feira, 6 de agosto de 2010

"They tell me not to go to Cité Soleil...

...but how can I be scared of people like me?" *


O músico Wyclef Jean apresentou oficialmente a sua candidatura à presidência do Haiti (notícia aqui). Para quem não sabe quase nada sobre a tentativa de país que é o Haiti, isto pode parecer estranho. Como ele próprio diz, "as pessoas vão perguntar: "Meu, o que é que ele sabe de política?". Muito pouco.
A questão aqui é que o Haiti talvez não precise de políticos agora. Provavelmente, precisa mais (e urgentemente) de uma inspiração e, se pensarmos assim, a candidatura do Wyclef Jean faz todo o sentido.

Estas ideias tornam-se lógicas, depois de ver este filme:



Ghosts of Cité Soleil é, quase certamente, o melhor documentário que já vi (atenção, apesar de documentário, é cinema. Ou seja, tem uma história construída, tem edição, não é o espelho de toda a realidade). A Cité Soleil, situada em Port-au-Prince, no Haiti, é considerada o sítio mais perigoso do mundo. Embora facilmente comparável às favelas brasileiras, põe-nas a um canto. É um país dentro de um país, dividido por zonas, cada uma delas controlada por um líder. Como sempre acontece, mesmo o mais tirano dos líderes tem o poder que o povo lhe confere (de forma mais ou menos consciente) e estes têm todo o poder, materializado em armas, droga e outros "tesouros" ilegais. É que estes gangsters são capazes de ir entregar um maço de notas a uma mulher e dizer-lhe "toma, para pores os teus filhos na escola". Já o governo, não entrega nada ao povo, pobre como não sabemos o que é ser pobre (é o país mais pobre da América, quase metade da população é analfabeta e está a recuperar de um terramoto que destruiu cerca de 80% da capital) e gasta o pouco que tem em guerra, cargas policiais e sustento de ditaduras.
A esperança reside no facto de metade dos haitianos terem menos de 26 anos. E quem é o ídolo dessa juventude? Wyclef Jean, claro, rapper interventivo, nascido no meio deles. É um deles.
Para quem ainda acha que a arte é só para quem não tem mais o que fazer, repense. Aquelas pessoas desistiram de depositar esperança nos políticos; as circunstâncias obrigaram-nas a acreditar em gangsters. A ideia de que a salvação do Haiti pode estar nas mãos de um músico, de repente, já não parece assim tão estranho. Pois não?


Veremos o que acontece daqui para a frente.


PS.: O Sean Penn diz que o W. Jean desviou dinheiro de doações. Mas o Sean Penn dá porrada nas mulheres. Não conta.

*Retirado de Ghost of Cité Soleil, canção de Wyclef Jean para a banda sonora do filme.

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