segunda-feira, 13 de abril de 2009

Quando Candy era eu



Lembro-me do tempo em que não gostava do meu corpo. Olhar-me no espelho provocava-me um franzir de sobrancelhas e o desvio do olhar. Excepto quando não me provocava absolutamente nada. Não queria ver-me. Preferia esquecer cada curva, cada osso saliente, cada sinal, cada sarda, cada caracol. Sempre que pensava em mim, lembrava-me apenas dos defeitos. Primeiro magra, tão magra; como eu detestava que me chamassem palito ou trinca-espinhas, como me enervava enquanto tentava explicar que isso era tão ofensivo como chamar alguém de gorda. Uns kilos mais tarde, as ancas largas, o peito pequeno, o cabelo indomável, os dentes espaçados, a pele imperfeita.

Pensar em mostrar o meu corpo nu aterrorizava-me.

Com o passar do tempo, percebi: eu não detestava o meu corpo. Simplesmente não o conhecia. Como quando se faz juízos de valor precipitados.

Hoje, conheço-o bem. Sei-me de cor. Consigo indicar com exactidão onde está cada defeito - combato os combatíveis; os outros, deixo-os estar, encontrei lugar para eles. Agora sei também onde estão as qualidades. Olho-me tranquilamente, pisco-me o olho de cumplicidade. E, não contem a ninguém, mas já mais do que uma vez apanhei o reflexo a sorrir-me do lado de lá do espelho.

2 comentários:

ana cláudia disse...

É tão bom quando o espelho nos sorri (às vezes até quando estamos de bikini...)!
E também para que queremos o corpo perfeito, se o nosso destino é acabarmos velhas solteironas e amarguradas, rodeadas de sobrinhos e primos em 2º grau??? Ah ah ah!!

Marta disse...

queremos o corpo bonito para ficarmos bem nas fotos ao pé dos gatos! no nosso t2 em alfornelos, por baixo da avó. AH AH AH