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- Como assim?
- Ainda não viram o teu melhor lado.
- Ah Ah Ah! E qual é o meu melhor lado? O esquerdo, o direito? O de dentro, o de fora?
- O de dentro.
A menina abriu o armário e tirou quatro ovos. Cozido? Estrelado? Mexido? Escalfado? Hoje vai comê-lo cru.
Hoje de manhã, quando tive de me deitar na cama para conseguir vestir as calças de ganga justíssimas, acabadas de passar a ferro, senti-me teletransportada no tempo para os gloriosos anos 90. Quando este era um ritual diário para conseguir enfiar as "City Jeans", que eu tinha de todas as cores e quando o Peter Andre me fazia babar em frente à televisão. Nenhum rapaz que eu conhecia tinha aquele cabelo e aqueles músculos... E hoje em dia eu digo "THANK GOD!"
A partir de hoje nunca mais me esqueço de agradecer todos os dias o progresso e o belo passar dos anos!
Pior do que estar apaixonada e sofrer é não estar apaixonada. Não ter borboletas na barriga, não olhar para o telemóvel a cada 2 minutos (na verdade, eu faço isto, mas é à espera de que aquele trabalho que tanto quero seja meu), não sorrir sozinha na rua, não chorar por desgostos inventados pela nossa cruel imaginação, sempre tão aguçada nestas alturas de sensibilidade em excesso. As dores do amor são as únicas que vale a pena sentir. Chamemos-lhes o sal da vida, tão necessário como o açúcar da vida (aka as alegrias do amor).
Contudo, e por muito triste que tudo isto seja, não consigo deixar de fazer piadas sobre o assunto. No fundo, a postura Fiona Apple: para uma canção triste, um filme engraçado. Até posso afundar-me em queixas, papéis de vítima e depressõezinhas de quinta categoria, mas a malícia rápida que me torna numa companhia até animada - essa ninguém me tira da ponta da língua.
Por isso, mantenho-me, senão bem humorada, pelo menos cínica o suficiente para fazer rir os outros. Isso chega para me fazer atravessar os dias contente, às vezes mesmo pertinho de feliz. Mas que sinto falta daquela estúpida dor, lá isso sinto.