quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Nunca mais te ouvi


De vez em quando, as pessoas deixam de falar umas às outras. Neste século XXI informatizado, em que o virtual às vezes parece mais real que o real, "deixar de falar" implica não atender telefonemas, não responder às SMS, não responder aos e-mails, não responder nos chats, não fazer mais comentários nos blogs, além do clássico passar para o outro lado da estrada. A sociedade de abundância tem disto: as maneiras de ignorarmos uma pessoa qualquer multiplicam-se.

Tal como os meios, também as razões podem ser mais que muitas. Há o amigo que não vemos há tantos anos, que já nem faz sentido falar. Ou aquele que foi viver para o outro lado do mundo e não era assim tão amigo que valha o esforço. Ou aquele que casou e teve 5 filhos e quer lá saber das conversinhas insipientes de solteirões. Ou o pobre que ficou mudo e sem mãos num catastrófico acidente rodoviário.

Pode também ser uma coisa mais abrupta; uma decisão tomada conscientemente, de forma mais ou menos pensada, de forma mais ou menos agressiva. Aí complica. Podem ser duas pessoas que não querem mais contactar uma com a outra. Há ainda o grupo de amigos que se divide em dois, e, com espírito de gang, entram numa guerra passive-agressive e trocam apenas olhares matadores entre si.

Depois... há o caso de duas pessoas em que apenas uma deixa de falar com a outra. Como sempre, em casos de conflito de vontades, "o que não quer" ganha "ao que quer". É difícil fazer alguém falar connosco contra a sua vontade. Excluindo a hipótese (muito legítima) da tortura, é praticamente impossível. Não podemos pegar nas suas mãos e fazê-la escrever um e-mail ou pressionar as cordas vocais até sair um cumprimento que seja. Podemos apenas: 1. resignarmo-nos ou 2. insistir, fazer figura de tolo e, por fim, resignarmo-nos.

Podia contar umas histórias, mas o espaço e o tempo não são apropriados. Sim, apesar da minha personalidade inegavelmente fascinante e da minha inebriante beleza física, há pessoas que deixam de me falar. E não só uma. Foram e são várias. E eu, com carapaça de deusa, mas interior fatalmente humano, também insisto, também faço figura de tola e também acabo por me resignar.

A questão "será que algum dia recuperarei este amigo?" fica no ar e, por vezes, não tem resposta. Novos amigos surgem, sim. Novas conversas, novos risos, novos amores nos ocupam tempo e mente. Mas, na verdade, cada um tem o seu lugar próprio. E há vazios que ficam sempre por preencher.

8 comentários:

Anónimo disse...

Se me adicionares no msn, eu promoeto que falo contigo.

Marta disse...

Por muito inteligentes que eu e a Gema sejamos (e somos, de facto), convidar para jantar e adicionar no msn um Anónimo não é tarefa simples.

Ela adormecida disse...

Isto soa-me a Vicky Cristina Barcelona, ou melhor, Clara Gema Lisboa, especialmente na cena em que Juan António, no restaurante, as convida para o tal fim de semana inesquecível em Oviedo. Não que eu te queira estar a dar ideias, Snake :P

Marta disse...

O Snake normalmente assina os seus posts... Nem todos os Anónimos serão ele, calculo. eheh ;)

Ela adormecida disse...

Mas o Anónimo já te convidou para jantar?! LOL!
Anónimo, se prometes, promete bem, sem erros ortográficos... :P

Marta disse...

A mim não! Foi num post da Gema: "Uma noite chuvosa".

Anónimo disse...

Reclamo-me aqui inocente de quaisquer suspeitas de assédio sexual à menina que se assina como Clara. A cobra. Mas para uma frutuosa troca de ideias, a dita menina pode contar comigo.

Marta disse...

Calculo que isso inclua os vídeos no seu blog, caríssimo Snake. Agradeço o esclarecimento.