segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

palavras de outro, pensamentos meus


" - Acredita que a música tem o poder de mudar as pessoas? Que uma pessoa pode ouvir uma certa e determinada peça de música e conhecer uma grande mudança dentro de si?

Oshima acenou afirmativamente.

- Claro que sim. Passamos por uma experiência, que funciona como uma espécie de reacção química, capaz de transformar algo que temos dentro de nós. Quando, mais tarde, reflectimos sobre isso, descobrimos que todos os padrões por que nos regemos se alargam mais um furo e que o mundo se abriu diante de nós de forma inesperada. Sim, já passei por isso. Não tantas vezes como isso, mas já me aconteceu. É como estar apaixonado.

(...)

- É caso para dizer que é uma coisa muito importante, certo? Quer dizer, para as nossas vidas?

- De facto, assim é - respondeu Oshima. - Sem essas experiências que nos transportam ao limite a nossa vida seria bem mais monótona e desinteressante. Berlioz colocou a questão desta maneira: «Uma vida sem se ter lido o Hamlet é como a vida passada numa mina de carvão.»

- Uma mina de carvão?

- É um exemplo acabado das hipérboles em voga no século XIX.

- Bem, muito obrigado pelo café - disse Hoshino. - Ainda bem que tivemos esta conversa. "


in Kafka à beira-mar, Haruki Murakami

3 comentários:

ulrich disse...

que leitura tão demorada!

Marta disse...

Está alguém a correr atrás de mim? ;)

ulrich disse...

claro que não, mas há toda uma história da literatura à sua espera...