sexta-feira, 17 de outubro de 2008

A caixa

Encontrei a caixa num recanto esquecido do meu quarto. Devo tê-la escondido ali certamente para não a olhar todos os dias, para não me lembrar do tempo que ali está guardado dentro. Encontrei-a sem surpresa. Desfiz o laço de cetim azul, que a deixa encerrada no espaço de tempo em que não lhe toco, e abri a tampa. Sem pressas. Não fazendo qualquer esforço de memória que antecipasse o que ia encontrar. Lá dentro, um mar de bolinhas de esferovite cobria todos os tesouros daquele tempo. Mergulhei a mão e, uma a uma, fui tirando as memórias de um passado, que agora já consigo lembrar com o coração quente outra vez. Sem nós no estômago, ou pássaros a voar os largos corredores da imaginação.
Um jardim de flores feitas de palhinhas de plástico. Um postal com declarações de amor improvisadas de madrugada. Uma carta de jogo transformada em lembrete de futuro casamento. (...) Tantas coisas que fazem parte do que nós fomos.
Fechei a caixa, tornei a fazer o laço de cetim azul e não consegui tirar o sorriso da cara. Foi bom olhar para tudo aquilo assim pela primeira vez. Serena. Feliz. Remexer a caixa foi ter a certeza de que, agora sim, já está tudo bem.
Guardei-a no mesmo sítio de sempre, assim como te vou guardar para sempre em mim.

1 comentário:

Marta disse...

Às vezes parece impossível, mas acaba sempre por acontecer.

E o teu sorriso que é o mais bonito do mundo... =)