São coisas destas que me dão a volta ao estômago.
Hoje, no Público:
Detidos dez suspeitos de ataques a jovens afegãs, num país onde é difícil estudar
26.11.2008, Sofia Cerqueira
As autoridades afegãs anunciaram ontem a detenção de dez homens, suspeitos do ataques com ácido a um grupo de jovens estudantes há duas semanas no Sul do Afeganistão. Segundo a agência AFP, os homens detidos na semana passada são afegãos e actuavam sob as ordens dos taliban, em troca de 100 mil rupias (1000 euros) cada um.Os relatos do ataque, que teve lugar em Kandahar a 12 de Novembro, contavam que dois homens numa moto se tinham aproximado de um grupo de raparigas - alunas e professoras a caminho da escola - e lhes tinham atirado com o que se veio a descobrir ser ácido de baterias. Duas das raparigas tiveram de ser hospitalizadas e uma, apesar de provavelmente não voltar a ver, prometeu que regressaria à escola, a qualquer custo.Apesar de um porta-voz dos taliban ter repudiado o ataque, em declarações à AFP, o ministro adjunto do Interior, Mohammad Daud, revelou ontem que os dez detidos "recebiam ordens [dos taliban] do outro lado da fronteira [no Paquistão], daqueles que conduzem os ataques terroristas em Kandahar", o último reduto dos islamistas. Daud acrescentou ainda que alguns confessaram o crime.Os ataques com ácido não são comuns no Afeganistão, mas a violência contra as mulheres não é novidade. À medida que recuperam o poder militar perdido após o derrube do regime taliban, os extremistas islâmicos atacam as estruturas do Governo contra o qual lutam e reagem às (parcas) liberdades recém-conquistadas pelo sexo feminino.As escolas são dos principais alvos. Só este ano, 115 foram atacadas e 120 funcionários do sector foram mortos, diz o porta-voz do Ministério da Educação afegão, Hamed Elmi.A educação foi um dos principais investimentos do Governo pós-taliban, que afirma ter colocado 6,2 milhões de crianças a estudar, seis vezes mais do que o número de alunos do regime extremista, no qual apenas estudavam rapazes. Apesar do esforço recente, a realidade não é homogénea e longe da capital, Cabul, a velha mentalidade persiste e as raparigas continuam a viver sob repressão.Apesar de não haver documentação exacta, estima-se que a violência sobre as mulheres esteja a aumentar, devido à crise económica e à falta de segurança. Najla Zewari, membro do Fundo de Desenvolvimento para as Mulheres da ONU (UNIFEM), conta ao Guardian que há cada vez mais jovens violadas, devido à falta de recursos económicos para pagar o dote exigido no casamento. Depois de violadas, ninguém quererá casar com estas jovens sem honra, que se vêem assim obrigadas a aceitar a mão do violador, explica Zewari.O relatório do UNIFEM de 2008 conta que no Afeganistão a taxa de literacia feminina está nos 15,8 por cento, metade da registada entre os homens. Em 29 por cento dos distritos escolares, não há escolas para raparigas e, se, no ensino primário, há uma rapariga por cada dois rapazes, no secundário o rácio passa para uma em cada três ou quatro rapazes. Dados de um débil progresso, em risco com a falta de estabilidade do país. "As ideias taliban são naturais entre as pessoas, principalmente quanto à visão das mulheres", explica Shukria Barakzai ao Guardian, deputada do Parlamento afegão, que recebe frequentemente ameaças de morte. Dos 249 membros da Assembleia, 68 são mulheres, mas, segundo a também deputada Shinkai Karokhail, apenas cinco defendem os seus direitos. Muitos comentam a aproximação de ex-guerreiros mujahedin ao Presidente Hamid Karzai. "Estamos muito preocupadas que, agora que o Governo está a falar com os taliban, os nossos direitos sejam comprometidos", defendeu Karokhail.
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