quinta-feira, 13 de novembro de 2008

A porta

Estou fechada, tudo escuro à volta, quase negro. Apenas umas luzes vagas, que de vez em quando entram, mas saem sempre. Não que seja a vontade dessas luzes deixar-me na escuridão, mas têm mais sítios para iluminar e acabam mesmo por me deixar. Sozinha.

Mas, de repente... um som, muito leve. Entra pelos meus ouvidos dentro, quase sem tocar na pele, e instala-se suavemente nos tímpanos. É mesmo um som. Concentro-me, tento associar o som a qualquer coisa, um objecto, um movimento. Sinto um arrepio nos braços e percebo: é a porta que range.

Depois, lembro-me dos olhos que tenho. Levanto então a cabeça das mãos. As mãos, que o sangue que fugiu deixou brancas, têm os dedos doridos. A testa está cheia de vincos, vestígios dos cabelos que a pressionaram. Penso: fiquei com a cabeça entre as mãos demasiado tempo.

Dirijo finalmente o olhar para o som. Para a porta, que o som não se vê. Porque estará a ranger? Porque está a abrir, claro. Que outra razão há para uma porta ranger? Semicerro um pouco os olhos, já demasiado amigos da escuridão, e vejo a porta abrir devagarinho. Do outro lado, um fio de luz.

Levanto-me. Ando em direcção à porta, muito devagar. Tão devagar, que penso que é das pernas trémulas, há muito desabituadas de andar. Mas não. É medo. Aproximo-me e estendo a mão, mas não me atrevo a tocar na madeira. Ponho então os olhos fora da porta e espreito.

Parece mesmo uma luz. Lá ao fundo, no fim do corredor. Será que consigo chegar?

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