Mas, de repente... um som, muito leve. Entra pelos meus ouvidos dentro, quase sem tocar na pele, e instala-se suavemente nos tímpanos. É mesmo um som. Concentro-me, tento associar o som a qualquer coisa, um objecto, um movimento. Sinto um arrepio nos braços e percebo: é a porta que range.
Depois, lembro-me dos olhos que tenho. Levanto então a cabeça das mãos. As mãos, que o sangue que fugiu deixou brancas, têm os dedos doridos. A testa está cheia de vincos, vestígios dos cabelos que a pressionaram. Penso: fiquei com a cabeça entre as mãos demasiado tempo.
Dirijo finalmente o olhar para o som. Para a porta, que o som não se vê. Porque estará a ranger? Porque está a abrir, claro. Que outra razão há para uma porta ranger? Semicerro um pouco os olhos, já demasiado amigos da escuridão, e vejo a porta abrir devagarinho. Do outro lado, um fio de luz.
Levanto-me. Ando em direcção à porta, muito devagar. Tão devagar, que penso que é das pernas trémulas, há muito desabituadas de andar. Mas não. É medo. Aproximo-me e estendo a mão, mas não me atrevo a tocar na madeira. Ponho então os olhos fora da porta e espreito.
Parece mesmo uma luz. Lá ao fundo, no fim do corredor. Será que consigo chegar?
Parece mesmo uma luz. Lá ao fundo, no fim do corredor. Será que consigo chegar?
Sem comentários:
Enviar um comentário